Fato: o mundo à minha volta está grávido. Prima grávida, amiga grávida, colegas de profissão grávidas. Pra onde eu me viro, respiro maternidade. O dia inteiro me divido entre meus meninos (de férias e cheios de energia) e a tela do computador com esse cursor que pisca insistente pedindo que eu escreva sobre... maternidade. Sim, o mundo anda exalando maternidade perto de mim. Não, eu não estou grávida e nem vou ficar. A única coisa que eu pretendo parir nos próximos meses é um dissertação, o que tem me rendido contrações dolorosas, sem anestesia, com a possibilidade real de uso de fórceps.
Outro dia minha amiga linda que carrega Pilar no bucho (sim, é uma menina, só porque eu quero que seja!) me falava aquele texto típico da grávida de primeira viagem: "será que eu vou saber o que fazer?" Eu fiz o que todas nós fazemos: disse que sim, que a gente aprende, que o filho ensina, que a mãe atrapalha, que a gente erra mesmo, e que massa que a gente erra! Mas na horinha mesma em que dizia isso, eu já sabia que estava mentindo. A verdade, Bee, é que a gente nunca sabe. Quando a gente aprender a dar banho, eles param de curtir a água; quando a gente aprende a defendê-los das quedas durante os primeiros passinhos, eles aprendem a correr... E por aí vai. É que esse negócio de ser mãe se tornou tão complicado... E não é só porque a gente ama demais e amor demais faz um mal desgraçado. É principalmente porque as crianças foram seccionadas em tantos pedaços a serem analisados, detalhados, cuidados que - sei lá - acho que as mães não sabem mais de nada mesmo. Aí você tem que ouvir o que diz o pediatra, a psicanalista, a professora, a psicopedagoga, a sua mãe (que logicamente vai se intrometer), o padeiro, o amigo, a vizinha, enfim, os especialistas por formação e os especialistas por pura intromissão. E dá uma vontade danada de apelar pr'aquele tal de instinto materno - que, sim, eu SEI que não existe - e dizer: "é assim porque eu sinto assim". Mas não, crianças são agora projetos, produtos a serem elaborados pro futuro e você não pode basear sua linha de produção em sentimentos, feeling, sexto sentindo, não é mesmo? Dá vontade de voltar ao dia em que eu estava numa indecisão danada em relação a um dos meninos e minha mãe disse simplesmente: "o que o seu coração tá dizendo?" E meu coração disse certo. Agora eu só queria que meu coração falasse. E eu nem ia chamar isso de instinto.