Páginas

terça-feira, 19 de julho de 2011

Corpo-espinho

Enquanto estudo, Tonton desenha, sentado num cantinho da minha cama, agora tomada por livros, xérox, cadernos, agenda, lápis, post-it, marcadores de texto, fichas de várias cores, notebook. (Sim, essa cama já foi mais divertida). Enquanto eu escavo no meio dos livros e anotações, tentando seguir o código de cores que criei pra não enlouquecer, Tonton brinca de destampar cada uma das suas canetinhas, uma por vez: tira do estojo, destampa, desenha, tampa, guarda, pega outra e recomeça o ritual.
- Mãe, olha o que eu fiz!
Ele me mostra um desenho ultracolorido que me faz confundir mais uma vez meu inútil código de cores.
- Tonton, isso é um prédio? Que lindo!
- É, sim, mãe. É o prédio que a gente morava.
- E quem é esse cara verde aqui?
- O corpo!
- Corpo?
- Sim, o corpo-espinho!
- Corpo o quê?
- Corpo-espinho, mãe, um homem que é cheio de espinhos mas que não é um porco, entendeu?

Entendi, não, filho. Até hoje, aliás, não entendi porque eu escrevo sobre maternidade ao invés de simplesmente ficar aqui ouvindo as histórias do corpo-espinho.

terça-feira, 12 de julho de 2011

ÉÉÉÉÉ'GUA!

Dez unhas roídas. Vários cigarros fumados. Algumas barras de Diamante Negro. Uma caixa de Ferrero Rocher. Litros e litros de coca-cola. Baldes de café, porque ele não costuma faiá. O namorado semi abandonado (você vai pro céu, querido, enquanto eu, calçando tênis apertado, acompanho o trio elétrico tocando forró universitário, no inferno). A penteadeira que virou escrivaninha. O quarto que virou escritório. As férias que viraram trabalho sem fim. E eu que não consegui virar nada, porque continuo ao que parece no mesmo lugarzinho infeliz. Impaciência. Incompetência. Da tela do computador pro mural, meus olhos lêem e relêem a mesma frase: "o desespero é pior nessa situação que já não está boa". (Sim, eu gosto de colocar no mural o que quer que me inspire, nem que me cutuque e doa.)  Todas as redes sociais abertas ao mesmo tempo enquanto tento escrever. Toda as tentativas do mundo de sentir pessoas amigas perto de mim. Um parágrafo e lá vou eu falar com a amiga no gtalk. Mais outro parágrafo e eu abro o MSN. "Respira no saco!", diz a amiga no facebook. E eu queria era asfixiar alguém com um saco. "Grita ÉÉÉÉÉGUA!", diz a outra. E eu? Eu só quero gritar égua, puta que pariu, caralho de asa, que porra é essa, quanto incompetência a minha, eu mereço mesmo me dar muito muito mal, por que pra todo mundo é mais fácil que pra mim, ai, que vontade de ser uma vítima da vida, do mundo, etc etc e tal.
Agora deixa de ser babaca, fecha o blogger, abre a janelinha da dissertação, concentra, escreve, envia. E aprende um mantra, faz yoga, fica zen, porque fogo amigo é que dói gostoso.