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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Tempo mano velho

O tempo é o cara em quem a gente deposita todas as nossas esperanças. É o depositário dos nossos sonhos - que a gente jura que se realizarão, e o guardião das chaves daquele baú onde as soluções de nossos problemas repousam adormecidas. Não sabe o que fazer? Dê tempo ao tempo. Outro dia, Tati Bernardi tuitou algo assim: "Coitado do tempo, sentadão na cadeira dele cheio de problemas pra resolver".
O fato, meus queridos, é que o tempo não resolve nada, coitado. Logo ele, tão atarefado em empurrar os ponteiros dos relógios para que as horas virem dias, os dias virem noites, que as estações se sucedam umas às outras, mesmo nesse lugar onde o calor é sempre o mesmo e nos envolve numa sensação de que nada muda.De fato, coitado do tempo, sempre responsabilizado por tudo.
Faz tempo que me dei conta de que o tempo sozinho não faz nada, e que o que transforma a gente é o uso que a gente faz do tempo. Ou não. Por que o tal do tempo tem uma mania besta de brincar com a gente, de fazer ele voltar sem que a gente perceba. E eu juro que eu penso em Einstein e sua teoria da relatividade quando um minuto qualquer se torna exatamente igual a outro minuto qualquer de uma década passada.
E eu que nem lembrava que hoje era dia de São Francisco, me deparei com várias mensagens a respeito nas redes sociais.Imediatamente, senti uma fisgada na boca do estômago, e meus olhos se encheram de lágrimas. O pensamento racional veio depois, pra dar sentido à ânsia de vômito que se seguiu. Foi num dia de São Francisco, há exatos 5 anos, que eu vi a procissão passando na avenida Frei Serafim, de dentro do carro. Tudo muito marrom e borrado - visão de olhos míopes onde as lentes se perderam de tanto boiar em lágrimas. Lembro da cantiga bonita enchendo tudo, do engarrafamento, do carro parado. E de pensar lá longe que eu nem queria que o carro andasse, que o tempo passasse, que a vida seguisse. Tonton tava no meu colo dormindo e eu nem articulava ainda um porquê pra tudo aquilo. Eu só olhava a procissão e pensava que eu queria que todas aquelas rezas, aquelas velas, aqueles marrons, aquelas pessoas, aquelas energias se voltassem pra ele. E eu tinha certeza que eu nunca ia ter força de sair daquele carro e enfrentar o monstro que nos esperava. Brincadeira ou sabedoria do tempo, o engarrafamento me deu o tempo de ver a procissão, de cantar com voz embargada a canção de São Francisco e de lembrar que coragem eu tenho de sobra. Desci do carro com Tonton nos braços e uma certeza louca de que era preciso ganhar tempo, correr contra o tempo, pra ganhar a batalha. Ganhamos. No final das contas, senhor tempo, fora esses sustinhos que o senhor me dá de vez em quando, dando loopings nos anos e retornando a pontos passados, eu tenho sempre te ganhado. Xeque mate!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Tô sem saco de ficar falando meu histórico o tempo todo. Vou andar com um cv no bolso, quando começarem as mesmas perguntas, entrego e digo 'tó, estuda e depois a gente conversa'" Com seu humor especial, meu amigo me contava da impaciência de conhecer gente nova, da qual compartilho sem reservas.
Só com amigos antigos é possível uma conversa assim, em que a gente lembra de quando tínhamos 14 ou 15 anos e de todo o tempo que passou de lá pra cá. E a gente se reconhece igual em tanta coisa, mas mais forte e capaz em muitas outras. 
Nessa vida doida de linda, mas também doída e exigente, é preciso ter esses espelhos onde a gente se vê: os amigos das antigas, os desde sempre, os que viram tudo começar, que viram a gente virar gente. É preciso o outro pra gente se reconhecer, às vezes.
Com meu amigo, compartilho a certeza de que estamos mais felizes hoje do que jamais fomos, como no nome daquele bar que ficava na Miguel Sady. "Nunca fomos tão felizes", embora estivéssemos ambos reclamando de um aspecto ou outro da vida que não caminhava como queríamos. Uma hora é o trabalho que tá sugando nossas forças, na outra um amor mal resolvido, a transferência que nunca sai, os pais que começam a envelhecer, o filho que adoece, as contas que não cessam de chegar e o salário que vem só uma vez por mês.
Já perdemos algumas ilusões a essa altura: não seremos rock stars nem artistas de cinema. Não daremos a volta ao mundo, morando cada ano em um país diferente. Não aprenderemos 300 línguas diferentes só pra dizer eu te amo em toda elas. Já concluímos que fazer bem feito entre o nascer e o pôr do sol já é extraordinário. Da nossa época, quem conseguiu emprego estável, salário razoável e uma família relativamente feliz já fez bastante.
Vai ver que é ai que mora o extraordinário, as estrelas com as quais sempre sonhamos: fazer tudo igualzinho, mas com o encanto de quem não conhece o caminho.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pelo dia do amigo

Pessoas normais são boas em algumas coisas,  péssimas em outras e excelentes em uma ou outra coisa. Pessoas como eu e você - regular, average people - dão conta de ser excelentes mesmo em pouquíssimas coisas. Nas outras coisas, a gente faz o básico, sem contar aquelas coisas em que somos mesmo muito, muito ruins. Ok, existem os geniozinhos que são bons em tudo o que se propõem a fazer, mas desses eu quero distância porque me causam uma inveja danada, e inveja é, sem dúvida, meu pecado preferido.
Mas daí que, das poucas coisas que eu faço muito bem na vida, uma delas é ser amiga. Sem falsa modéstia, eu sou muito boa amiga. E tenho os melhores amigos do mundo.
Tenho amigos que me acompanham desde que eu era criança e amigos recentes. Tenho amigos loucos e amigos caretas. Tenho amigos que me puxam a orelha e amigos que batem nas minhas costas de forma condescendente. Independente do estilo de cada um, tenho amigos que sabem ser amigos.
Amigo defende amigo, mesmo quando ele tá errado. A sós a gente briga, e diz pro amigo que absurdo ele ter agido daquela forma. Mas pro resto do mundo, ele tá certo, e eu defendo ele do colega de trabalho sacana, da língua maldosa do vizinho e até do Papa ou da Scotland Yard se for preciso. A isso se chama lealdade, coisa absolutamente necessária numa amizade. Se você não sabe vestir a camisa de alguém, desista: você jamais vai ser ou ter um amigo.
Então, meus amigos, que fique claro: por vocês não me jogo na frente do trem; eu paro o trem com as mãos, bato no maquinista e expulso os outros passageiros. Feliz dia do amigo pra vocês, amigos de sempre e de agora.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Trilha sonora


Dizem que quando você morre, naqueles segundos finais entre o viver e o morrer, o filme da sua vida passa na sua cabeça. O cinema e a teledramaturgia já mostraram isso inúmeras vezes: amores, nascimentos dos filhos, grandes e pequenas vitórias rodados em Super8, com as cores amareladas pelo tempo.
Não, eu nunca estive perto de morrer, mas vi o filme da minha vida, editado sem efeitos especiais, mas com as melhores e piores cenas, no dia 22 de abril de 2012. Chico Buarque se apresentava no Centro de Convenções de Recife, e eu, sentada ao lado da amiga de longas datas, assistia quase sem respirar, como quem tem medo de perder o momento, como quem tem medo de morrer bem ali, de tanta emoção.
As músicas do Chico foram, e são ainda, trilha sonora de momentos especiais pra mim, momentos bons e momentos ruins. Mesmo quando não havia música no ambiente, havia Chico cantando dentro de mim, e há sempre Chico a embalar tudo o que há de bonito e marcante na minha vida.
Todo vestido de preto, ele entrou no palco com seu caminhar de menino, com os braços meio pra trás, e abriu o show com O VelhoFrancisco, e eu, ainda tímida, cantava “Hoje é dia de visita, vem aí meu grande amor”. Meu coração deu pulos com os versos de De volta ao samba: “Acenda o refletor / apure o tamborim / aqui é o meu lugar / eu vim”. Do disco novo, cantei a plenos pulmões: “Hoje afinal conheci o amor / e era o amor uma obscura trama” e cantei também a urgência de exibir o amor nos versos de Rubato: “mas só se for agora / venha ouvir sem mais demora a nossa música / que estou roubando de outro compositor”.
Das antigas, Choro bandido, que já ouvi em seresta há tantos anos atrás: “Mesmo que você fuja de mim / por labirintos e alçapões / saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão”.
Do disco novo, a primeira que me conquistou foi Se eu soubesse, que fez meu coração fazer pom-pom-pom: “Mas acontece que eu sai por aí e aí la-rá-ri lá-rá-rá”. Tipo um baião quase me fez levantar da cadeira pra melhor cantar os versos mais coloridos que já ouvi: “É São João / vejo tremeluzir / seu vestido através / da fogueira. / É carnaval / e seu vulto a sumir / entre mil abadas / na ladeira”.
Mas chorar, chorar mesmo, de cair lágrima, só mesmo quando Chico cantou Todo sentimento, música que ficou conhecida na interpretação de Verônica Sabino, na novela Vale Tudo, e que já foi tema de amor na minha vida também: “pretendo descobrir / no último momento / um tempo que refaz o que desfez / que recolhe todo sentimento / e bota no corpo uma outra vez”.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu...” embalou um amor que só agora, com o benefício do tempo decorrido, consigo ver pelo retrovisor como uma história bonita e delicada.  
E aquela adrenalina de ligar pra alguém que você nem sabe se ainda vai querer te atender, o coração batendo, as pernas bambas quando se ouve a voz... Quem nunca? “Te ligo ofegante / e digo confusões no gravador / É desconcertante / rever o grande amor”. Daria pra atualizar a letra de Anos Dourados trocando ligação por SMS. (E, sim, eu acho que celular deveria ter bafômetro.)
Não faz muito tempo eu enrubescia ouvindo uma pessoa especial me dizer como ficava feliz ao me encontrar no trânsito, e como torcia pelas coincidências das primeiras horas da manhã. Nesse momento, que era pura delicadeza de dedos entrelaçados, Chico cantava ValsaBrasileira no meu coração: “rodava as horas pra trás / roubava um pouquinho / e ajeitava o meu caminho / pra encostar no teu”.
E quantas mil vezes na vida me vi tentando explicar minha intensidade, meu comportamento colérico com os versos de Baioque? “Quando eu amo / eu devoro / todo o meu coração / Eu odeio / eu adoro / numa mesma oração”.
Assim, de verso em verso, vi minha vida passar num filme, enquanto Chico cantava. Ao invés da morte, no fim desse túnel, encontrei mais vida, mais amor, mais certeza de que quero muitos e muitos outros momentos que serão embalados por essa trilha sonora.

domingo, 10 de junho de 2012

É o amor...

Enamorar-se: deixar-se possuir de amor, apaixonar-se. O Aurélio diz e eu tenho que concordar. E, sim, o dia dos namorados tá chegando mas, ao invés de gastar essas linhas discutindo sobre a comercialização do amor e dos relacionamentos, achei melhor esboçar um testezinho que outro dia apliquei com um amigo. A conversa era justamente sobre um relacionamento novo que ele começava. Ai, como homens podem ser tão lindamente "mulherzinhas"... O guapo em questão tinha duas grandes dúvidas a atormentá-lo:
1. o dia dos namorados estava chegando e eles ainda não tinham um status oficial de namorados. O que fazer? Será demais dar um presente, chamar pra sair, etc?
2. estaria ele de fato apaixonado pela figura com quem vinha saindo nas últimas semanas?
Eu sou romântica, gente, eu juro. Eu sou mulherzinha, gente, eu juro. Mas eu sou prática demais da conta pra essas elucubrações, sabe? Mas amigo é amigo e por eles a gente faz coisas que não faz pelo melhor dos amores. Não sabe se tá namorando? Pede a moça em namoro, ora mais! Pode me chamar de antiguada, mas já fui pedida em namoro, em noivado, em casamento. E achei lindo, inclusive nas vezes em que eu disse não. Bonitinho quem se coloca, minha gente. Não tem nada demais e ainda poupa uma série de mal entendidos. Não é romantismo ou tradicionalismo - é praticidade apenas. 
"Jura que ela não vai me achar ridículo?" Jurar eu não juro, porque não conheço a moça, mas se ela achar também, taca o foda-se. Ridícula é ela que não valorizou sua tentativa. 
E é justo ai que surge a segunda e mais escorregadia dúvida: como saber se está de fato apaixonado por ela? Eu acho super simples, quando se trata dos outros, é claro. E nessa noite esboçamos um pequeno checklist pra saber se a pessoa está enamorada ou não:
1. Vocês fazem um tipo de voz diferente um com o outro? Não precisa ser toda hora, muito menos na cara do seu chefe ou da sua mãe, mas você falam um com o outro como dois idiotas, com voz de mimimi, ao menos de vez em quando?
2. Vocês têm apelidinhos ridículos um para o outro?
3.Vocês tem ao menos uma música que seja de vocês? "Ah, mas a gente mal começou..." Desculpe, mas isso não é desculpa. Se tá apaixonado tem que ter pelo menos uma mísera música que seja a ca-ra dele ou dela. Mesmo que vocês jamais tenham escutado essa música juntos, mas quando ela toca no rádio rola aquele: "ah, o cara que compôs disse exatamente o que eu queria ter dito..."
4. Você se emociona quando lembra do cheiro dele ou dela?
5. Vocês gargalham juntos?
6. Você se sente confortável perto dele/dela, tipo "ai, que bom finalmente poder ser eu mesmo(a)"?

É isso e pronto. Super simples. Super rápido. Super fácil. Super prático. Esquece aquela bobagem de que vocês gostam do mesmo diretor de cinema ou são fãs da mesma banda desde criancinhas. Se fosse isso, eu seria apaixonada por três quintos dos meus amigos. Também não dá pra se fiar naquela história de que o coração dispara, as mãos ficam geladas (outro dia ouvi um relato de pés gelados!!!), a voz treme... Isso é tesão, queridinhos. Sim, tesão é parte da coisa toda, mas sem aqueles itens ali em cima é só tesão mesmo.
Meu amigo concluiu que está, sim, apaixonado. E jurou que ia pedir a moça em namoro. Bonitinho, né? "Mas, Cacazinha, e se ela não quiser?" Ai, como pode ser tão mulherzinha, hein? Pede uma contraproposta, ora mais. Flexibiliza. Precisa ser namoro pra ser bom? Precisa ser paixão pra ser bom? Vai juntando esses quase-amores vida afora. Se um dia vier amor assim grandão, amor de falar de boca cheia, ótimo. Se não, bom demais também.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Zzzzzzzzzzzzzzzzzz...

Eu tenho péssimo sono. Demoro a pegar no sono e, quando consigo, tenho sonhos perturbadores e intensos. Sou também péssima companhia pra dormir: me mexo a noite toda, puxo o lençol, dobro as pernas pra cima (eu durmo de bruços), falo e canto, converso ao telefone (mesmo que depois não lembre nadinha). Isso tudo acontece numa noite "normal". Nas noites de pesadelo, acordo invariavelmente chorando. Houve uma época também que eu rangia os dentes durante o sono.
Talvez por nunca me entender com Morpheu é que eu admiro e curto tanto o sono tranquilo dos meus pequenos. Tenho mesmo que usar um clichê aqui: os três dormem como anjos. Pedro (que já nem é tão pequeno) sempre pegou no sono tão rápido, mas tão rápido, que cheguei a levá-lo a um neurologista porque eu  achava absurdo que ele não conseguisse terminar uma frase sem cair dormindo, na hora em que o sono vinha. Zé é um pouco mais agoniado pra dormir, é a "porca que fuça": se mete embaixo do meu braço, procura espaço nas brechas, quer se sentir aninhado, me deixa toda roxa de cotoveladas. Mas depois que pega no sono não tem o que lhe acorde. Tonton detesta chamego na hora de dormir. "Mãe, sai da minha cama. Tu é quente!" Vira pro lado e dorme tranquilo seu sono de pequeno guerreiro.
A imagem dos três dormindo é das coisas mais lindas que há no mundo. Não tem aurora boreal ou neve caindo em Kyoto que ultrapasse a visão daquelas carinhas dormindo tranquilas. E de vez em quando me pego de olhos marejados, pensando que qualquer dia desses não vou mais vê-los dormindo pertinho de mim assim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012


A culpa deve ser do senhor Antoine De Saint-Exupery. Didn't ring a bell? O autor do livro preferido das candidatas a miss, O Pequeno Príncipe. E, sim, quem no mundo não leu esse clássico? E quem não sabe de cor algumas frases do livro? Pois é. Voltando à culpa do autor, lembro de uma frase do livro que é repetida à exaustão e vive enfeitando murais e perfis em tempos de redes sociais: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Pois, minha gente, eu adoro O pequeno príncipe, mesmo detestando os concursos de miss e tudo o que eles representam. Mas não consigo engolir essa frase de jeito nenhum. Ou então acho que as pessoas acabaram entendendo errado o que o tal Saint-Exupery queria dizer. Porque, convenhamos, eu não sou responsável pelo  que ninguém sente, eu não posso ser responsabilizada pelo que vai no coração de outra pessoa, e, pra falar a verdade, às vezes não me responsabilizo nem pelos meus sentimentos. Aí a pessoa lê O Pequeno Príncipe, sai arrotando trechos e joga na tua cara que você é responsável pelo seu estado de lamúria. Como assim, Bial? 
Não quero parecer cruel ou insensível. Ao contrário, sou uma feliz habitante do mundo saltimbancos, no qual as pessoas sempre cuidam umas das outras. E é exatamente por isso que eu acho que é preciso flexibilizar os conceitos de responsabilidade e cativar. Porque se a gente fala em responsabilizar alguém significa que não tivemos participação nenhuma no processo, né? Parece que não nos colocamos à disposição pra que os sentimentos fossem cultivados. Da mesma maneira, o que mesmo significa cativar? Tratar bem é cativar? OK, agora seremos todos lixas 40, tratando mal uns aos outros. Atender ligação é cativar? Então vamos todos nos negar a atender uns aos outros, a dizer uma oi, a dar apoio na hora em que alguém necessita. Sei não, mas tenho impressão que Saint-Exupéry tinha outra coisa em mente quando colocou essa frase na boca de uma raposa. Podia ser um ursinho fofo, podia ser um gatinho, mas ele escolheu uma raposa pra falar nisso, né?

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pelo dia do abraço

Pro frio, abraço de urso, com braços longos e peito macio pra minha cabeça encostar.
Pro calor, abraço de dorso nu, e suor de cansaço.
Pra chegada ao aeroporto, abraço de quebrar costelas, de matar saudade, de sufocar.
Pra o dia começar,  abraço com braços, pernas e esfregar de olhos - abraço com cheiro de preguicinha.
Pra noite que segue calma, abraço de filho com a bunda gelada do xixi que escapou.
Pra desolação de me perder no mercado, abraço de pai, que ainda podia levantar meus pés do chão.
Pra choro convulsivo, abraço de  camisa-de-força, que me controla os espasmos e me devolve a calma.
Pro Gilberto Gil, aquele abraço.
Pra você que me esqueceu, o mesmo passo, em fevereiro, abril ou março.



Para uma amiga catadora de estrelas

Com olhos doces, ele dizia: “Então, você vai ou não vai fazer o que te pedi?” Ela relutava, achava bobagem, dizia que perderia tempo com isso. Mas ele insistia: “Nunca te peço nada. Custa alguma coisa fazer isso?” Ela mudava de assunto. Ele achava um jeito de encaixar de novo seu pedido no meio da conversa banal. Ela, pra encerrar o assunto, acabava cedendo: tomava empuxo, dava um enorme salto, saia flutuando até o céu e voltava com as mãos em concha, trazendo a prenda pedida. Ele, vaidoso e feliz, colava a estrela a sua farda, e a exibia cheio de orgulho.


Noite após noite, o ritual se repetia, embora ele sempre alegasse que nunca pedia nada. Até que, em uma noite particularmente fria, ele lançou mais uma vez o olhar doce sobre ela. Já meio cansada da brincadeira e com a preguiça que mora embaixo das cobertas colada à sua pele, ela já ensaiava dizer não. Mas dessa vez não era uma estrela o que ele queria. Apesar do aspecto etéreo, ele padecia da mais mundanda das necessidades: tinha sede, uma sede daquelas que parecem não cessar nem com toda a água do Amazonas descendo goela abaixo.

- Um copo d’água? É só isso que você quer?
- Uma jarra seria melhor.
- Mas nesse frio... Não saio mais debaixo desse cobertor, não!                                                        
Ele insistiu. Ela negou. Ele pediu mais uma vez. Ela fingiu que não ouvia. Ela virou pro lado e dormiu, abraçada com sua preguiça. Ele virou fera e sumiu, abraçado com sua carência.

domingo, 20 de maio de 2012

Esse foi mais um dos incontáveis domingos em que almocei na casa dos meus pais. Mais uma vez cheguei à casa onde cresci e os encontrei sentados na mesa  do terraço, cercados de jornais e revistas, esperando a chegada dos netos. Mas hoje, ao entrar, fui interpelada pela minha mãe sobre uma questão da família que eles estão vendo como resolver. O tom com que ela perguntou e a maneira como ambos me olhavam deixou claro que, se não tinham feito uma aposta em relação à minha resposta, ao menos tinham discordado entre eles sobre qual seria. Na lata, respondi o que já havia dito antes: "sim, eu acho que a decisão mais acertada é essa". Ao que imediatamente se seguiu a típica coçada de orelha do papai e o olhar triunfante da minha mãe: "Eu disse - a Clarissa é prática!"
Como domingo é dia de pensar besteira, me peguei sentada naquela mesa pensando quão prática sou de fato. Sei que tomo decisões de forma rápida, que sei desmembrar problemas pra resolvê-los aos poucos, que invento estratégias pra driblar empecilhos. Mas ser prática me parece bem mais que isso. E eu não acho no mundo o que justifique determinadas atitudes que tomo e que só complicam ainda mais minha vida. A verdade é que habito as zonas cinzas da vida, embora sempre tenha sonhado com o mundo em preto e branco.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

terça-feira, 15 de maio de 2012

Leiloam-se sentimentos, dos mais nobres aos mais vis.Tem amor, tem ódio, tem ternura e tem rancor, tem desejo e repulsa, tem medo e tem pavor. Leiloam-se pedaços de vida: domingos de preguiça, finais de semana na praia, lágrimas abundantes e gargalhadas de delícia, músicas e planos compartilhados. Leiloam-se vidas, assim entre o capão assado e o bolo de milho, no burburinho da quermesse: "quem dá mais? quem dá mais? façam seus lances!"
Fazemos qualquer negócio. Aqui quem manda é o freguês. Não deu seu lance ainda? Cuidado, ou você perde a vez.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

90 anos

Para a geração de sobrinhos-bisnetos, ela é a Teté. Para os sobrinhos-netos ela é a Dinda ou Cuncun. Pra mim , é a Cunca. Pra minha irmã, Ninica. Pros sobrinhos, ela é a Mirica e já havia sido chamada também de Mã-an. Na certidão, seu nome é Miriam Lages de Mesquita. É a irmã mais nova da minha avó, e ontem completou 90 anos, durante os quais ajudou a criar sobrinhos, sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos. No meio tempo, toma sua cervejinha, canta num coral e conta piada imoral. Toda vez que vejo o programa da Sue Anderson, imagino como as duas seriam grandes amigas, caso se conhecessem.
Teté é hoje a pessoa mais velha da família e não tenho dúvidas de que é também a mais querida por todos. É aquela tia que sempre tem bombons, pirulitos e brinquedinhos escondidos em seu armário, pra dar pras crianças (muitas) que visitam sua casa. 
A casa dela é a perfeita tradução da expressão "casa da mãe Joana": todo mundo entra e sai na hora que quer e cada uma tem uma chave do portão. Semanas atrás passei por lá pra tomar um café e conversar com ela, que cumpre também o papel de relações públicas da enorme família Mesquita: informa como estão os parentes de fora, lembra que naquela semana tem o aniversário de A ou B, etc. Eu tava bem naquele momento horroroso de finalizar a dissertação, e sem a menor paciência pra olhar pro computador. Depois de tomar um cafezinho com ela e conversar amenidades, voltei pra minha casa. Mal cheguei, ela me ligou pra perguntar se eu tava bem, porque ela tinha percebido pelo jeito que eu entrei que eu estava preocupada..É ou não é um tesouro uma Teté dessas?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Eu gosto de usar anéis. Embora não consiga mantê-los nos dedos por muito tempo e sempre retire-os na hora de digitar, de escrever, de comer, de dormir, etc, eu gosto de como minhas mãos se comportam com anéis pesando em seus dedos.
Eu tive três anéis que me marcaram muito: perdi dois e deixei de usar um deles.
Quando eu tinha uns quinze anos, ganhei de um amigo um anel de lua e estrela - aquele típico souvenir de Canoa Quebrada. Na época, me pareceu muito especial ser a "menina do anel de lua e estrela", da música do Vinícius Cantuária. Passei anos usando esse anel no dedo médio da mão esquerda, e acreditando que eu era tudo aquilo mesmo que a musa do Cantuária parecia ser pra ele. Um dia perdi o bendito anel no mar, em Barra Grande. Chorei desconsolada, voltei pra barraca, comi uma corda de caranguejo e esqueci. E assim deixei de ser a menina do anel de lua e estrela, embora confesse que ainda adoro a música.
Anos depois, eu mesma mandei fazer uma dupla de anéis nos quais se lia, recortado na prata, o nome Luiz. Assim, eu e meu ex-marido passamos a usar, junto com as alianças de ouro branco, um anel de prata com o nome que é comum aos nossos filhos. Era comum que as pessoas me perguntassem se Luiz era o nome do meu marido, mas absurdamente engraçado era o olhar que as pessoas colocavam no meu ex-marido quando o viam usando um anel/aliança com outro nome masculino. A gente bem que se divertia com a ideia do bofe Luizão. Esse anel eu não perdi, mas parei de usar ao me separar. Embora seja mais uma aliança com meus filhos e com o fato de que somos pai e mãe, achei por bem guardá-lo depois da separação.
Mas o último anel pelo qual me apeguei ainda me faz uma falta danada. Não tinha nenhum significado especial, fora o fato de ter vestido meu dedo como uma armadura. Nele, lia-se amor, energia, força e equilíbrio. Embora tenha sido comprado aqui mesmo em Teresina, as palavras estavam escritas em italiano. Durante uns 3 ou 4 anos usei-o diariamente e já estava tão acostumada a seu peso na minha mão esquerda que tem horas que parece que me falta um osso. Eu já o havia perdido antes, em uma situação trágico-cômica que acabou, graças à gentileza e educação alheias, sendo resolvida. Mas dessa vez foi pra sempre, e de maneira bem sintomática. Era sábado de carnaval e, depois do Sanatório, fui comer pizza com filhotes e amigos. No dia seguinte de manhã não achei mas meu anel no lugar de sempre, na pia do banheiro. Não sei até hoje se o esqueci no banheiro da pizzaria ou se, ao encontrá-lo na pia do banheiro, Tonton decidiu brincar com ele e acabou derrubando no vaso. Foram-se os anéis, ficaram os dedos. Foi-se esse anel, ficou aqui força, amor, energia e equilíbrio.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Enfim, mestra!


Eu não lembro onde vi isso – se num filme, livro, série, sei lá – mas uma pessoa desenhava um semi círculo e dizia pra outra: “Olha isso. Não te dá agonia ver esse círculo aberto, sem fechamento?” Isso faz muito, muito tempo, tanto que nem lembro mesmo onde foi, mas o fato é que a ideia de um círculo aberto, de um processo que não finaliza, me dá uma gastura absurda.
Iniciar processos é coisa fácil. Difícil mesmo é finalizá-los. Mais difícil ainda é finalizar bem, colocar o fecho de ouro branco que coroa a dedicação que foi dada ao processo como um todo. O fato é que ando bem feliz esses dias por ter conseguido finalizar o mestrado, defender a dissertação, fechar essa etapa. Não é só a sensação do dever cumprido, mas a certeza de ter feito o melhor diante do que eu tinha disponível.
Pensando ainda na imagem do círculo, me dou conta de que pra fechar é preciso voltar ao início. E, de certa forma, fechei essa círculo exatamente como comecei: com a alma leve e o coração aliviado.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Sonhos servem pra gente acordar. Não falo de nossos sonhos de olhos abertos, aquelas coisas que a gente espera alcançar. Falo daqueles filmes que passam na nossa cabeça (ou no nosso coração?) enquanto a gente dorme. Já falei aqui antes: meus sonhos são intensos e às vezes doloridos. Eu nunca sonho nada que, na minha psicanálise selvagem, não me pareça absurdamente significativo. No meu universo onírico, um charuto nunca é apenas um charuto, caro Freud.
E eis que depois de noites e noites sonhando com um fracasso na defesa da dissertação, em diversas versões, essa noite tive um sonho esclarecedor e lindo. Tive um sonho que me fez acordar e sonhar mais um pouco. Estranhamente, foi um sonho bem silencioso e calmo, ao contrário da maioria dos meus devaneios noturnos, mas me fez levantar da cama e lembrar que a vida é também feita de silêncios e que o amor também se faz pausa.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

sexta-feira, 30 de março de 2012

Hoje podem trocar meu café por descafeinado. Podem deixar minha TV sem áudio. Pode a chuva parar e o calor absurdo voltar. Podem até trocar meu Merlot por um Sangue de Boi. Podem me servir pequi no lugar de uma massa fresca. Eu nem me importo. Podem tirar o Chico do som do meu carro e colocar Clube da Esquina. Podem mexer no meu criado-mudo e tirar meus óculos do lugar. Podem me deixar cega, tateando pelo quarto. Podem trocar a lavanda Johnson por perfume francês daqueles bem doces. Podem trocar minhas havaianas confortáveis por sandálias salto agulha 15. Podem fazer o que quiser. Nada vai estragar meu bom humor. Não depois da notícia que eu tive. ("On, captain, my captain" - E quem disse que é preciso subir numa mesa pra mudar de perspectiva?)

segunda-feira, 26 de março de 2012

A confiança no próprio taco (ou a certeza de ser muito amado)

Zé Luiz (7) e Antonio (5)  foram passar a tarde na casa de um colega. Lá, o pai dos meninos permitiu que eles jogassem um jogo de Play Station que é proibido pra eles aqui em casa.
Zé: "Mas, mãe, tu disse que na casa das pessoas eu tenho que obedecer as regras delas. Então... O pai do Leozinho que botou GTA pra gente jogar. Eu não podia desobedecer..."
Antonio vai só repetindo e concordando com o irmão.
O caminho pra casa é longo e antes mesmo de chegar na nossa rua, eles já tinham me convencido de que podem jogar o jogo aqui, sim, desde que mude umas configurações tais pra que não seja tão violento. Mas daí eles perceberam um segundo problema: o jogo é do Pedro. E se ele não topar emprestar?
Zé Luiz, sempre mais dramático, sai com essa:
- Ah, não! A gente convenceu a mamãe e mesmo assim não vai poder jogar. O Pedro NUNCA vai deixar...
Tonton, cheio de confiança no próprio taco, me sai com essa, com sua voz rouca e seu sotaque portenho:
- Calma, Zé. Fica tranquilo que eu já sei o que fazer. EU vou pedir pro Pedro. Ele me adora porque eu sou o mais pequeno. Ele faz tudo o que eu quero. Pode deixar comigo...

sábado, 17 de março de 2012

Foi em 16 de maio do ano passado que Cristiana Guerra escreveu isso lá no Amor e Ponto. Eu li, achei lindo - como tudo o que ela escreve - mas não entendi.

Assombro.

O amor assusta porque ao nascer já anuncia: posso acabar. Pior: o amor do outro pode acabar. Ou nada disso: pode a vida e o dia e as horas serem mais fortes que qualquer impulso, e o que era um-mais-um torna-se um a um. E o que resta é cada um levando como pode o que pulsa em si.

O amor é ter a perder.

Ou não ter nada. É tudo e todo o medo e todos os perigos. Ou nada e paz. Ou nada.

O amor que nasce é assustadoramente amor. O amor que segue sozinho é assustadoramente só. Não há meio-termo porque o que o amor quer é coragem, o amor quer entrega, o amor sempre quer. Nem sempre é harmonia, nem sempre delicadeza. Mas sempre amor. Até não mais. E isso demora.

É maior que nós, o amor. Faz sombra e assusta. Até que se veja dele o seu verdadeiro tamanho. A sombra do amor assusta. Até que se entenda que ela é sombra e só.

O amor nos pede a escolha: ser do tamanho do medo ou da coragem.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Pelo dia da poesia

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

quinta-feira, 8 de março de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Para Marcella

Eu adoro histórias de amor. Desidrato de tanto chorar em comédias românticas. Sou mesmo o que se pode chamar de mulherzinha boba. E tenho muito orgulho dessa condição que foi conquistada a duras penas. Minha ingenuidade e fé no amor foram construídas ao longo de desamores e perdas, dores e lágrimas. Ao invés de endurecer, decidi que a vida me faria mais capaz da entrega que o amor exige.
Mais que a ficção, os amores reais me emocionam, com seus personagens de carne e osso, suas angústias verdadeiras, suas histórias de vida comuns, e essa certeza tão irracional dos amantes de que o único lugar que nos cabe é junto daquele pessoa.
Hoje chorei litros ao conversar com uma ex-aluna, ex-orientanda que conquistou um lugar enorme no meu coração. Ela é protagonista de mais uma dessas histórias de amor que acontecem todo dia, mas que é tão linda em sua simplicidade e previsibilidade. Enquanto ela me contava sobre o apartamento que está organizando pra começar a nova vida, eu lembrava de como todos somos tão iguais e tão óbvios quando amamos. E como é bom nos reconhecer assim nas tantas histórias de amor que acontecem todo dia mas que são tão especiais e únicas pra quem está vivendo.
Pra eles, que decidiram ser tanto um pro outro, desejo toda sorte e toda coragem que é necessária pra viver um amor de verdade. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sobre BBB, estupro, machismo e redes sociais

Eu não assisto BBB. Não porque eu seja uma intelectualóide que ache que esse tipo de programa não mereça minha audiência. Tem coisas bem mais trash que merecem o comando do meu controle remoto - basta lembrar que fui universitária no Show do Milhão, nos idos do ano 2000. Pra mim, o consumo de programas de TV, assim como de filmes e de livros têm propósitos variados - às vezes assisto um filme simplesmente pra não pensar, ou leio um livro simplesmente pra passar o tempo. Nem tudo tem quer intelectualmente instigante e profundo, graças a Deus. Nem todos os filmes do mundo tem que ser do Almodóvar, nem todos os livros do Saramago, nem todos os programas de TV têm que ser Café Filosófico ou documentários do History Channel, graças a Deus. Eu não assisto BBB unicamente pelo fato de que não acho divertido. Simples assim.
Mas essa semana eu procurei o vídeo que estava sendo comentado nas redes sociais, sobre o abuso ou estupro (não dá pra saber exatamente) de uma das integrantes. O vídeo é nojento - um cara bolinando uma menina por baixo do edredon enquanto ela estava desacordada e inerte. O que ele fez exatamente embaixo do edredon não dá pra saber - mas que ele fez alguma coisa fica óbvio pra quem assiste.
Desde domingo as pessoas comentam o caso no Twitter e Facebook e só ontem, depois de uma visitinha da polícia à casa e de muita repercussão na internet, a Globo resolveu expulsar o rapaz por "grave comportamento inadequado".
Algumas considerações sobre o fato e sobre sua repercussão. Já que é preciso desenhar, vamos lá: 
1. o corpo de uma pessoa pertence a ela, mesmo que ela esteja bêbada, mesmo que ela tenha te dado bola, mesmo que você ache que ela é fácil, etc.
2. Assim, quando você mexe no corpo de uma pessoa que está desmaiada, sem possibilidades de consentir ou negar, você está invadindo propriedade alheia
3. O que é grave, nesse caso, é exatamente o fato de que ela não estava em condições de consentir nada. Portanto, parem, pelamordedeus, de falar que "em outras edições do BBB's coisas muito mais sérias aconteceram". Certamente que aconteceu sexo em outros BBB's e de forma mais explícita, mas o que faz esse caso grave é o não-consentimento por uma das partes.
4. Sim, a repercussão nas redes sociais foi linda, mas infelizmente ainda tive que ler comentários do tipo "cu de bêbo não tem dono", e declarações misóginas quanto ao comportamento da moça (sim, se ela é fácil/puta/bêbada/atirada/vadia ________________ [insira aqui o adjetivo pejorativo de sua preferência] ela merece ser estuprada)
5. Aos pseudo-intelectualóides de esquerda que dizem "eu ignoro BBB. Isso pra mim não existe", eu queria lembrar que não estamos aqui discutindo o BBB, mas valores machistas que permitem que coisas assim aconteçam, como se fosse "natural". Ah! E sendo tão declaradamente de esquerda, deviam aproveitar o caso ao menos pra baixar a lenha na Globo pela irresponsabilidade e omissão (que foi corrigida ontem por causa da força das mídias sociais - disso não tenho dúvida)

PRONTOFALEI!