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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Romanticamente Freudiano

José Luiz fala muito e adora falar (como a mãe), mas ainda troca letras e às vezes palavras.
- Mãe, faz de conta que tu é minha quelida...
- Mas eu SOU tua querida!
- Prestenção! Faz de conta que tu é minha quelida e eu sou teu malido, entendeu?

Moral da história: querida é o feminino de marido.

"Se todos fossem iguais a você, que maravilha seria viver!"

domingo, 29 de junho de 2008

Reflexões balzaquianas

No próximo mês vou fazer 31 anos. Mas duro mesmo foi fazer 30. Eu sempre achei que aos 30 eu seria uma mulher madura, bem resolvida e fodona. Falhei em pelo menos dois dos itens. Nunca fantasiei sobre onde moraria, mas imaginava uma casa com quintal, cheia de crianças e bichos e, principalmente, muitas fotos e souvenires de lugares maravilhosos que eu teria conhecido. Os souvenires e as fotos existem, mas não tantos nem de tantos lugares e aventuras quanto eu gostaria. As crianças... essas são ainda melhores do que eu poderia sonhar, mas às vezes eu não sou tão zen como imaginava que seria pra lidar com uma tropa movida a testosterona.
Aos 30 - e sei que pareço riponga - eu teria uma horta no quintal. Não que eu goste de cuidar de plantas, mas meu marido gostaria, como de fato aconteceu de ele gostar. Mas eu não tenho quintal, nem horta, e as pouquíssimas plantas que temos acabam morrendo por falta de água e excesso de sol.
Aos 30 eu tinha certeza que estaria bombando na minha profissão, seja lá qual fosse. Eu imaginava que estaria naquela fase em que escolheria onde, como e com quem trabalhar. Sem mencionar o tão importante “quanto ganhar”. E eu já saberia lidar com o estresse e não traria problemas pra casa. E teria desprendimento suficiente pra mandar à merda um trabalho que me irritasse.
Eu seria mais tolerante, com os outros e comigo, e já teria aprendido a não gravar qualquer micro insulto como prova a ser usada em tribunal. Eu guardaria e valorizaria só as coisas boas que me fossem dadas e deixaria as outras pra lá, assim sem mais.
Meu humor só oscilaria entre ótimo e maravilhoso, e eu teria diariamente provas incontestes de que Deus existe. Mas quase aos 30 ainda me pego pensando onde é mesmo que Ele está que não me escuta.
Aos 30 eu estaria onde eu deveria estar quando crescesse, porque eu já teria crescido. Será verdade então que a vida começa aos 40?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Heranças

Quando se fala em herança pensamos logo em imóveis, poupança e bens materiais em geral. Mas e as coisas não-materiais que herdamos, como características pessoais, traços de personalidade, padrões de comportamento que atravessam gerações de uma mesma família?
Tempos atrás, li em um blog que não lembro qual - maldita memória! – uma proposta no mínimo interessante: o/a autor(a) pedia a seus leitores que descrevessem o qeu haviam herdado de seus pais. Gostei do exercício, mas esqueci o endereço do blog e não pude voltar lá pra responder. Então faço isso aqui no meu espaço.
Da minha mãe herdei bem mais que do meu pai. Fisicamente há quem me ache a cara dela. Eu mesma concordo. Mas algumas pessoas insistem que pareço mais com a família dele. O temperamento mandão e dominador herdei dela e de sua família de mulheres fortes. Sete filhas entre a mãe e duas tias, sem pai e com apenas um irmão homem não podia dar noutra coisa além de mulheres-tratores. Isso claramente eu sou.
Não herdei da minha mãe os cabelos negros e lisos, quase nipônicos, mas a estrutura física eternamente magra é dela. A capacidade de parir fácil e sem sofrimento, como quem passeia pelo shopping, não herdei. Minhas raízes indígenas falharam aí. Mas aprendi com ela quase tudo o que sei sobre ser mãe.
A determinação, a praticidade, a capacidade de fazer mil coisas ao mesmo tempo vieram dela. A tendência a dramatizar a vida e de se angustiar por pouco ou nada também. A paciência beirando o zero, a intolerância com o que sai dos planos,l a necesssidade de seguir o script são marcas dela em mim.
Como contraponto, herdei do meu pai o humor negro, que me ajuda a rir de mim mesma e de meus fracassos. A tendência à ironia e ao sarcasmo também vieram dele. Mas não herdei sua cara fechada e seu quase analfabetismo social. Um certo idealismo prático, que me permite às vezes querer mudar o mundo, mas com os pés no chão, puxei a ele. Cabeça fria e boca fechada em momentos de crise estou herdando aos poucos, por força das circunstâncias. Mas aquela força que me empurra a tomar a frente justo nesses momentos difíceis vieram mesmo do meu pai, assim como uma certa incapacidade de lidar com as emoções.
E você? O que herdou dos seus pais?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fragmentos de felicidade

Zé Luiz fazia a tarefa enquanto eu terminava um texto pro jornal no notebook.
- Mãe, me ajuda aqui a fazer essas letras...
- Peraí um minuto que minha bateria tá acabando.
- Tua batelia? Ah! Já sei! Batelia de gente é a energia!


Chego na escola para pegar os meninos e Pedro está ensaiando a quadrilha. Como Zé Luiz já tava todo animado pra dançar, decido entrar no ensaio como seu par. Pedro me fuzila com os olhos, afinal existe mico maior que a mãe dançando quadrilha com o irmão menor no meio dos amigos dele?
No carro, voltando pra casa:
- Mãe, pelamordedeus, nunca mais inventa de dançar na minha quadrilha!
- Mas, filho, eu adooooooro quadrilha e teus amigos gostaram da nossa participação.
- Mas é muito mico a mãe dançando quadrilha!
- Beleza. Então esquece o Piauí Pop que tu ia comigo, ok?
- Mas como assim? Tu prometeu!
- Mas é muito mico levar o filho pro Piauí Pop, no meio dos meus amigos.
- Veja bem. Dançar na quadrilha do filho é coisa de mãe sem noção, mas levar o filho pro Piauí Pop é coisa de mãe jovem, entendeu?


Antonio ensaia um choro de manhã, antes de eu sair pro trabalho. “Xai não, mamãe. Xai não!” Macaca velha que sou, mantenho a voz firme e digo que tenho que ir, mas que logo vou voltar. Ele aperta os olhos numa careta e começa a emitir um som que, acredito, ele supôs ser de choro: “ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô”. Tive uma crise de riso, e ele também ao se ver descoberto em sua péssima atuação.

Espelho, espelho meu, existe mãe mais feliz que eu???

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Caminho para a alma

“Nariz e ouvidos servem para sentir.” Não lembro onde li isso, mas gostaria de ter sido eu a autora. Nada remete mais fundo aos sentimentos que cheiros e sons. Sabe-se lá como, determinado cheiro ou um pedacinho de música te leva direto a algum lugar distante, no tempo e no espaço, fazendo um atalho direto pra alma, sem passar pela cabeça, sem raciocínio, sem julgamento. É uma sensação de absoluta entrega se ver revivendo sem querer momentos intensos que foram esquecidos por aí. E quando digo intensos, me refiro a momentos bons e ruins. Outro dia me peguei chorando no carro por conta de uma música que estava tocando. Não deveria ser surpresa, já que eu mesma coloquei o CD, mas tinha esquecido da tal música e de tudo o que ela embalou, e sem mais nem menos estava soluçando no carro, revivendo uma chuva de meteoros que foram as únicas estrelas cadentes que já vi na vida.
Poderia facilmente escolher a trilha sonora de um filme sobre minha vida: todos os momentos foram marcados por músicas: mesmo quando elas não estavam tocando, eu as executava dentro de mim, com todas as reverências que a ocasião merecia. Essas que me marcaram, escuto até hoje e escolho quando quero ouvi-las para mudar meu humor, pra chorar, pra relembrar um tempo bom, pensar no que vem por aí ou simplesmente pra dançar como se estivesse na Aquarius.
Já os cheiros...Esses me parecem mais eficazes ainda na tarefa de ressuscitar vivências. Normalmente tenho problemas com cheiros fortes - e até mesmo fracos - principalmente pela manhã. Não gosto de usar perfume nem nada que tenha odor muito intenso. Costumo descer pela escada de manhã pra não aturar cheiro no elevador. Mas sei lá porque os odores conseguem fazer esse atalho direto pra alma mais rápido ainda que as músicas. E só depois que a sensação passa – boa ou ruim – é que consigo entender, assim, em palavras, o que aconteceu, de onde veio aquela sensação. Tem cheiros que não têm preço: bebê recém-nascido, comida da vovó, umbuzada no fogo, chocolate, terra molhada. Tem cheiros que eu queria nunca mais ter que sentir, mas volta e meia sinto. E tem cheiros que eu sonho em sentir de novo, mas que parecem muito distantes agora. Espertos eram os mais velhos que ao invés de beijo nos davam cheiros!