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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Buaaaaaa 2

Esses dias ando chorona: saudade de casa, cansaço dos horários apertados, saudades do calor, abuso de tanto frio, vontade de correr de short e camiseta, agonia de tanta roupa e de tanta coisa pesando em cima de mim, cansaço de tanta japonice, de tanta rigidez, saudade do meu Brasil do improviso.
Sim, eu continuo chorando, e cada dia mais. Porque meu coração aperta quando bate e quando volta, dormindo ou acordada. Porque nenhum ângulo de nada me parece correto, e não importa que eu esteja de óculos ou não, tudo o que olho me parece vazio e incompleto.
Segundo os termômetros a temperatura em Osaka subiu. Mas na minha pele eu sinto mais frio que nunca. No tempo cronológico, estou bem perto da hora de ir embora. No tempo da minha alma, o tempo podia nunca ter saído do dia em que ele começou a ser contado. Nem passado, nem futuro. Quero mesmo é tempo parado.
Uma planta, um chocolate, uma música. Qualquer coisa ameaça minha frágil estabilidade.
Panquecas sem gosto, conversas sem sabor, água muito quente, excesso de cobertor, calor a noite. Dor de cabeça ao acordar. E quando abro a janela de manhã? Frio pra me saudar! Bom dia, estúpida, dormiu bem?
Continuo sem saber pegar o metrô direito. Continuo me perdendo e pretendo continuar. E quer saber: perdida, chorando, com frio, ainda vou dar meu jeito, meu bom e improvisado jeitinho brasileiro.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Buaaaaa

Às vezes a gente chora sem saber porquê. A torneira da alma abre e vaza um monte de dor e tristeza, desentupindo encanações que a gente insiste em bloquear com tudo o que encontra pela frente: papel, palavras perdidas, promessas antigas, gestos e atitudes.
Outro dia chorei na estação de Osaka, a caminho do trem. Pensei que chorava de frio, de raiva de estar mais uma vez perdida, da sensação de incapaz que só o analfabeto conhece bem. Mas na verdade eu chorava mesmo era de solidão, de saber que só a tinha a mim mesma pra contar. Desamparo de não ter pra quem ou como pedir ajuda.
Outro dia chorei num longo vôo e em vários aeroportos em países diferentes. Pensei que fosse de medo do que vinha, de ansiedade pelo desconhecido, da incerteza sobre minha decisão. Mas eu chorava mesmo era por saber que aquele vôo nao tinha volta, e que ele fechou a porta pra uma outra dimensão, onde um dia fui feliz.
Outro dia, chorei de raiva, de muita raiva. Toda a água do rio Amazonas não seria suficiente pra diluir tanto sentimento. E eu sabia bem porque chorava.
Outro dia chorei dentro do ônibus, a caminho da OSIC. Mas não era só de saudade dos meninos que eu chorava, era também de apreensão e de medo pelo futuro deles.
Outro dia, chorei na estação de ônibus de Nagoya. Esse choro eu sabia que era de uma saudade que ainda vem, de um gostar que exige convivência, de uma impossibilidade de se estar perto dos amigos que a gente ama. Mas era também um choro de saudade antiga, de saudade de mim, de saudade do que nós todos já fomos e nunca mais seremos. Era um choro de saudade de tantos planos. Mas era também de orgulho, de admiração: pelo menos alguns planos são concretizados, alguns sonhos se tornam reais.
E prevejo que ainda tenho muitas lágrimas pela frente. Espero pelo menos saber reconhecer que canos estão sendo desentupidos.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Leminski

-- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Assim falou a Wikipedia...

Ansiedade, ânsia ou nervosismo é uma característica biológica do ser humano, que antecede momentos de perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, medo intenso, aperto no tórax, transpiração etc.
É isso o que diz a wikipedia.
Eu prefiro definí-la assim:
1. palpitação a mil do coração, mas sem que ele esteja no peito
2. criação de roteiros completos de longa-metragem pra própria vida, com falas, casting, iluminação e trilha sonora
3. impossibilidade de dormir
4. medo de sonhar, dormindo ou acordada
5. medo de nunca mais sonhar
Obs: independente de sua localização física, a ansiedade sempre faz com que sua alma se desloque do corpo.

Migui, hidari, ue, ishita...

Pra que lado ir? Esquerda, direita, pra cima, pra baixo? Cada placa, cada sinal diz uma coisa diferente. Ou sou eu que não sei essa língua? Ou meu dicionário caducou? Ou eu sou um iô-iô humano? Ou eu penso demais? Ou meu sexto sentido é muito apurado? Ou, ao contrário, nenhum sentido meu funciona a contento? Eu só queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder negar bem no último instante!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Todo carnaval tem seu fim...

E o meu nem sequer começou. Carnaval debaixo de frio e vento, mas também debaixo de cobertas e descobertas. Sem bateria ou alegorias, só o tum-tum-tum do meu coração, o compasso da minha respiração. Sem brilhos ou enfeites, só a luz dos meus olhos. Sem passistas ou samba, só meus trôpegos e felizes passos, cheios de hesitação e entrega, certeza e tristeza. Porque carnaval é, antes de tudo, a celebração da alegria sobre as dificuldades que sempre chegam depois da quarta-feira de cinzas. Todo carnaval tem seu fim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Metamorforse



"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."


(Rubem Alves)



Porque renascer é preciso e se reinventar é a medida da sobrevivência!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Porque sonhos são apenas o que são

O nome já diz tudo: sonhos não são realidade. Eles são feitos de flocos de neve, de pele fria que merece ser aquecida, de sorrisos que não buscam porquês, de olhares que apagam todos os outros. A certeza ingênua e a confiança cega. A determinacao em não buscar explicações nem lógica. Disso são feitos os sonhos. A realidade é aquela estrada torta e lamacenta que a gente um dia tem que pegar, mas só até chegar ao próximo sonho. No final das contas, a realidade sempre espera pela gente e, ao contrário do que te ensinaram na escola, os sonhos não servem para moldar a realidade: eles são apenas um necessário intervalo no meio da estrada.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

LAVOU TÁ NOVO

Ela sempre soube que havia algo a ser descoberto. Mesmo que não conseguisse colocar em palavras, nomear cada sentimento e reconhecê-lo como tal, ela sabia que cedo ou tarde teria que abrir a porta e deixar o que quer que estivesse lá fora entrar. Sua mão pequena, de dedos finos, quase não conseguiu puxar a maçaneta gelada da porta que tinha o exato peso de sua alma mais 21 gramas. A porta bateu com forca em sua canela (bem no ossinho gostoso), trazendo dor e alívio - o alívio de que afinal ela agora doía: aquela perna que estava há tempos dormente parecia enfim ter vida. Uma enxurrada entrou casa a dentro: lixo, lama, pedaços de móveis e vida, a medida do Bonfim, o Neruda, lágrimas, fotos e sorrisos distantes. E a lama se fez água, que limpou casa adentro, alma adentro. Corpo dolorido, perna machucada, alma limpa e lavada. Sorriso de propaganda de sabão Omo.