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terça-feira, 29 de julho de 2014

Omedeto tanjobi

Afinidade é um negócio difícil de explicar. Tem gente com quem a gente convive por anos mas que não chega assim tão perto da gente. Tem gente que em cinco minutos vira amiga de infância. Com a Eulália foi assim. Nos conhecemos adultas e viramos amigas de infância. Nossas vidas coincidiram tanto que tem horas que eu conto alguma coisa de um tempo em que ela não estava e ela parece lembrar. Da afinidade pra amizade, nos apoiamos há alguns anos. Coincidimos em profissão, taxa de natalidade acima da média (rs), sonhos, planos, ansiedades... até nossas pesquisas acadêmicas são parecidas. Tão coincidentes nossas vidas que passamos por perrengues com nossos pais ao mesmo tempo. Durante dois dias, meu pai e a mãe dela foram colegas de quarto numa UTI. O meu foi embora, a mãe dela tá aí lutando bravamente. Os muitos quilômetros que separam Teresina e Nagoya não nos impediram de apoiar uma a outra. As mensagens no whatsapp valeram pelos abraços que ela me daria se tivesse aqui.
Já ouvi por aí que não se faz amigos na vida profissional. A competição impediria isso. Ainda bem que nunca acreditei nessa balela. Minha amiga, jornalista como eu, professora como eu, pesquisadora de gênero e redes sociais como eu, me mostra todo dia que é possível ser amigo em meio à busca pela sobrevivência e pelo sucesso. Ao contrário, a gente ajuda uma a outra. Não tem nada que eu já tenha escrito que ela não tenha lido antes. Não tem nenhuma decisão da minha vida profissional que não tenha sido discutida com ela. E há muito espaço no mundo pra nós duas. Ainda bem.
Amigo pra te apoiar na dificuldade é coisa boa. Mas raro, raro mesmo, é amigo que torce por você, que fica feliz pelas tuas conquistas. E com a gente é assim. Se tudo tiver uma merda pra mim, vou ficar feliz de que ao menos pra ela tudo tá indo melhor. E vice-versa.
"A gente não faz amigos, reconhece-os". No território sem lei da internet, já vi essa frase atribuída a Vinícius de Moraes, Caio Fernando Abreu, Luiz Fernando Veríssimo. Sei lá quem disse isso. Mas é a verdade mais óbvia e linda. Amigo a gente reconhece, e fica imaginando porque mesmo aquela pessoa não tava na vida desde sempre.
Pra minha amiga de infância que eu conheci já adulta, desejo todas as coisas melhores da vida, as mesmas que desejo pra mim, as mesmas que quero para nossos filhos. E que volte logo desse doutorado pra gente voltar a comemorar aniversário juntas. Omedeto tanjobi, tomodashi.