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domingo, 28 de março de 2010

Do atual estado das coisas

Um amigo próximo mas que se encontra distante vem me dizendo há dias que estou amarga e grosseira. Uma amiga querida me disse hoje que ando muito mal humorada e intolerante. Uma pessoa que mal conheci me disse que sou muito crítica. Minha irmã me disse que sou muito exigente comigo mesma e com o mundo. Uma aluna me disse que preciso relaxar. Outra amiga que mora no meu coração me disse que sou iii=intensa, impaciente, impulsiva. Eu concordo com todos, em maior ou menor grau. Eu sei que normalmente sou cri-cri, anal retentive, exigente, tirana, mal humorada, intensa e exagerada. Sei também que tudo isso vem se multiplicando por razões diversas. Mas também sou corajosa o suficiente pra sair de mim e me olhar de fora. E o que eu tenho visto não me agrada. Sou corajosa pra reconhecer meu desagrado e tentar mudar, mesmo que a passos de formiguinha, que não tem o ritmo que desejo, mas que devem me levar a algum lugar.

Sunday Blues

E quando você não se sente confortável em nenhum lugar ou em qualquer posição? E quando teu corpo repete em gestos e maneiras o desconforto da tua alma? E quando tuas roupas parecem ter espinhos perfurando a pele e teus músculos se sentem tão cansados quanto teu coração? Insistir parece o mais adequado, de modo que a dor seja tanta que o cansaço se torne exaustão, e que você possa enfim renascer. Um parto é sempre doloroso, e parir a si mesma significa uma dor dupla - a da mãe que dá à luz e a do filho que deixa o conforto do útero.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Lelé da Cuca, pinel, parafuso solto...

Alguém aí já teve a impressão de que tava enlouquecendo, de que não responde mais por seus próprios atos, de que seu corpo não obedece a seus comandos, de que sua vida é um carro desgovernado?

quarta-feira, 24 de março de 2010

VAMOS TODOS CANTAR DE CORACAO...

"É so pensar em você que muda o dia", canta Vavá Ribeiro. E eu só queria cantar de coração...

Companheirismo

Você pode até tentar. Você pode mesmo se esforçar. Você pode se ocupar e correr e nunca parar. Mas uma hora, no meio do trânsito, na sala de aula ou quando encostar a cabeca no travesseiro, ela vai pular no seu colo, invadir suas entranhas, escavar sua alma. Sim, a dor sempre vem, por mais que você fuja dela. Meu conselho? Entregue-se, curta sua dor, dê as mãos a ela, passeie com sua dor, leve-a ao supermercado, ao posto de gasolina, ao banheiro, à festa, ao bar. E no final você pode até não conseguir domá-la, mas pelo menos ela terá se tornado uma companheira pra sua solidão.

sábado, 13 de março de 2010

Só pra traduzir

Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso
de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.

Pesa como pesa uma ausência.
...e a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.


Clarice Lispector

terça-feira, 2 de março de 2010

Den Den Town

A noite em Den Den Town é o que se chama, em um clichê, de vibrante. Muita gente caminhando, japoneses em ebulição, cabelos e roupas extravagantes, letreiros enormes capazes de fazer Kassab se arrepiar. Luz, muita luz! A idéia de que japonês é tudo igual vai por água abaixo em Den Den Town: tem japa de cabelo louro, tem japa de cabelo Chitãozinho e Xororó, tem japa tatuado e japa com piercing. Tem japa embriagado e japa chapado. Tem muito, muito japa e muitos estrangeiros também.
E ontem fui a Den Den Town, pra tentar comprar uma máquina fotografica (consegui!), pra passear um pouco, pra não me trancar no meu quarto, pra comer no restaurante italiano que meus colegas tanto recomendavam, pra passar um tempo com os colegas que nunca mais vou ver.
Mas no meio da balbúrdia e excitação de Den Den Town, havia um silêncio que era mais ensurdecedor que o rock inglês que tocava insistente de dentro das lojas, mais alto que o "Iashamasen" gritado em voz estridente por cada atendente de cada loja, numa voz tão aguda que só quem já entrou numa loja japonesa pode entender. Havia um silêncio que não era de tristeza, mas de falta. E, contraditório como seja, era também um silêncio de presença, de olhar em volta e sentir em tudo, mesmo quando tudo a volta era completamente diferente do que se via antes.