Enquanto estudo, Tonton desenha, sentado num cantinho da minha cama, agora tomada por livros, xérox, cadernos, agenda, lápis, post-it, marcadores de texto, fichas de várias cores, notebook. (Sim, essa cama já foi mais divertida). Enquanto eu escavo no meio dos livros e anotações, tentando seguir o código de cores que criei pra não enlouquecer, Tonton brinca de destampar cada uma das suas canetinhas, uma por vez: tira do estojo, destampa, desenha, tampa, guarda, pega outra e recomeça o ritual.
- Mãe, olha o que eu fiz!
Ele me mostra um desenho ultracolorido que me faz confundir mais uma vez meu inútil código de cores.
- Tonton, isso é um prédio? Que lindo!
- É, sim, mãe. É o prédio que a gente morava.
- E quem é esse cara verde aqui?
- O corpo!
- Corpo?
- Sim, o corpo-espinho!
- Corpo o quê?
- Corpo-espinho, mãe, um homem que é cheio de espinhos mas que não é um porco, entendeu?
Entendi, não, filho. Até hoje, aliás, não entendi porque eu escrevo sobre maternidade ao invés de simplesmente ficar aqui ouvindo as histórias do corpo-espinho.