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terça-feira, 19 de junho de 2012

Trilha sonora


Dizem que quando você morre, naqueles segundos finais entre o viver e o morrer, o filme da sua vida passa na sua cabeça. O cinema e a teledramaturgia já mostraram isso inúmeras vezes: amores, nascimentos dos filhos, grandes e pequenas vitórias rodados em Super8, com as cores amareladas pelo tempo.
Não, eu nunca estive perto de morrer, mas vi o filme da minha vida, editado sem efeitos especiais, mas com as melhores e piores cenas, no dia 22 de abril de 2012. Chico Buarque se apresentava no Centro de Convenções de Recife, e eu, sentada ao lado da amiga de longas datas, assistia quase sem respirar, como quem tem medo de perder o momento, como quem tem medo de morrer bem ali, de tanta emoção.
As músicas do Chico foram, e são ainda, trilha sonora de momentos especiais pra mim, momentos bons e momentos ruins. Mesmo quando não havia música no ambiente, havia Chico cantando dentro de mim, e há sempre Chico a embalar tudo o que há de bonito e marcante na minha vida.
Todo vestido de preto, ele entrou no palco com seu caminhar de menino, com os braços meio pra trás, e abriu o show com O VelhoFrancisco, e eu, ainda tímida, cantava “Hoje é dia de visita, vem aí meu grande amor”. Meu coração deu pulos com os versos de De volta ao samba: “Acenda o refletor / apure o tamborim / aqui é o meu lugar / eu vim”. Do disco novo, cantei a plenos pulmões: “Hoje afinal conheci o amor / e era o amor uma obscura trama” e cantei também a urgência de exibir o amor nos versos de Rubato: “mas só se for agora / venha ouvir sem mais demora a nossa música / que estou roubando de outro compositor”.
Das antigas, Choro bandido, que já ouvi em seresta há tantos anos atrás: “Mesmo que você fuja de mim / por labirintos e alçapões / saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão”.
Do disco novo, a primeira que me conquistou foi Se eu soubesse, que fez meu coração fazer pom-pom-pom: “Mas acontece que eu sai por aí e aí la-rá-ri lá-rá-rá”. Tipo um baião quase me fez levantar da cadeira pra melhor cantar os versos mais coloridos que já ouvi: “É São João / vejo tremeluzir / seu vestido através / da fogueira. / É carnaval / e seu vulto a sumir / entre mil abadas / na ladeira”.
Mas chorar, chorar mesmo, de cair lágrima, só mesmo quando Chico cantou Todo sentimento, música que ficou conhecida na interpretação de Verônica Sabino, na novela Vale Tudo, e que já foi tema de amor na minha vida também: “pretendo descobrir / no último momento / um tempo que refaz o que desfez / que recolhe todo sentimento / e bota no corpo uma outra vez”.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu...” embalou um amor que só agora, com o benefício do tempo decorrido, consigo ver pelo retrovisor como uma história bonita e delicada.  
E aquela adrenalina de ligar pra alguém que você nem sabe se ainda vai querer te atender, o coração batendo, as pernas bambas quando se ouve a voz... Quem nunca? “Te ligo ofegante / e digo confusões no gravador / É desconcertante / rever o grande amor”. Daria pra atualizar a letra de Anos Dourados trocando ligação por SMS. (E, sim, eu acho que celular deveria ter bafômetro.)
Não faz muito tempo eu enrubescia ouvindo uma pessoa especial me dizer como ficava feliz ao me encontrar no trânsito, e como torcia pelas coincidências das primeiras horas da manhã. Nesse momento, que era pura delicadeza de dedos entrelaçados, Chico cantava ValsaBrasileira no meu coração: “rodava as horas pra trás / roubava um pouquinho / e ajeitava o meu caminho / pra encostar no teu”.
E quantas mil vezes na vida me vi tentando explicar minha intensidade, meu comportamento colérico com os versos de Baioque? “Quando eu amo / eu devoro / todo o meu coração / Eu odeio / eu adoro / numa mesma oração”.
Assim, de verso em verso, vi minha vida passar num filme, enquanto Chico cantava. Ao invés da morte, no fim desse túnel, encontrei mais vida, mais amor, mais certeza de que quero muitos e muitos outros momentos que serão embalados por essa trilha sonora.

domingo, 10 de junho de 2012

É o amor...

Enamorar-se: deixar-se possuir de amor, apaixonar-se. O Aurélio diz e eu tenho que concordar. E, sim, o dia dos namorados tá chegando mas, ao invés de gastar essas linhas discutindo sobre a comercialização do amor e dos relacionamentos, achei melhor esboçar um testezinho que outro dia apliquei com um amigo. A conversa era justamente sobre um relacionamento novo que ele começava. Ai, como homens podem ser tão lindamente "mulherzinhas"... O guapo em questão tinha duas grandes dúvidas a atormentá-lo:
1. o dia dos namorados estava chegando e eles ainda não tinham um status oficial de namorados. O que fazer? Será demais dar um presente, chamar pra sair, etc?
2. estaria ele de fato apaixonado pela figura com quem vinha saindo nas últimas semanas?
Eu sou romântica, gente, eu juro. Eu sou mulherzinha, gente, eu juro. Mas eu sou prática demais da conta pra essas elucubrações, sabe? Mas amigo é amigo e por eles a gente faz coisas que não faz pelo melhor dos amores. Não sabe se tá namorando? Pede a moça em namoro, ora mais! Pode me chamar de antiguada, mas já fui pedida em namoro, em noivado, em casamento. E achei lindo, inclusive nas vezes em que eu disse não. Bonitinho quem se coloca, minha gente. Não tem nada demais e ainda poupa uma série de mal entendidos. Não é romantismo ou tradicionalismo - é praticidade apenas. 
"Jura que ela não vai me achar ridículo?" Jurar eu não juro, porque não conheço a moça, mas se ela achar também, taca o foda-se. Ridícula é ela que não valorizou sua tentativa. 
E é justo ai que surge a segunda e mais escorregadia dúvida: como saber se está de fato apaixonado por ela? Eu acho super simples, quando se trata dos outros, é claro. E nessa noite esboçamos um pequeno checklist pra saber se a pessoa está enamorada ou não:
1. Vocês fazem um tipo de voz diferente um com o outro? Não precisa ser toda hora, muito menos na cara do seu chefe ou da sua mãe, mas você falam um com o outro como dois idiotas, com voz de mimimi, ao menos de vez em quando?
2. Vocês têm apelidinhos ridículos um para o outro?
3.Vocês tem ao menos uma música que seja de vocês? "Ah, mas a gente mal começou..." Desculpe, mas isso não é desculpa. Se tá apaixonado tem que ter pelo menos uma mísera música que seja a ca-ra dele ou dela. Mesmo que vocês jamais tenham escutado essa música juntos, mas quando ela toca no rádio rola aquele: "ah, o cara que compôs disse exatamente o que eu queria ter dito..."
4. Você se emociona quando lembra do cheiro dele ou dela?
5. Vocês gargalham juntos?
6. Você se sente confortável perto dele/dela, tipo "ai, que bom finalmente poder ser eu mesmo(a)"?

É isso e pronto. Super simples. Super rápido. Super fácil. Super prático. Esquece aquela bobagem de que vocês gostam do mesmo diretor de cinema ou são fãs da mesma banda desde criancinhas. Se fosse isso, eu seria apaixonada por três quintos dos meus amigos. Também não dá pra se fiar naquela história de que o coração dispara, as mãos ficam geladas (outro dia ouvi um relato de pés gelados!!!), a voz treme... Isso é tesão, queridinhos. Sim, tesão é parte da coisa toda, mas sem aqueles itens ali em cima é só tesão mesmo.
Meu amigo concluiu que está, sim, apaixonado. E jurou que ia pedir a moça em namoro. Bonitinho, né? "Mas, Cacazinha, e se ela não quiser?" Ai, como pode ser tão mulherzinha, hein? Pede uma contraproposta, ora mais. Flexibiliza. Precisa ser namoro pra ser bom? Precisa ser paixão pra ser bom? Vai juntando esses quase-amores vida afora. Se um dia vier amor assim grandão, amor de falar de boca cheia, ótimo. Se não, bom demais também.