Páginas

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sobre BBB, estupro, machismo e redes sociais

Eu não assisto BBB. Não porque eu seja uma intelectualóide que ache que esse tipo de programa não mereça minha audiência. Tem coisas bem mais trash que merecem o comando do meu controle remoto - basta lembrar que fui universitária no Show do Milhão, nos idos do ano 2000. Pra mim, o consumo de programas de TV, assim como de filmes e de livros têm propósitos variados - às vezes assisto um filme simplesmente pra não pensar, ou leio um livro simplesmente pra passar o tempo. Nem tudo tem quer intelectualmente instigante e profundo, graças a Deus. Nem todos os filmes do mundo tem que ser do Almodóvar, nem todos os livros do Saramago, nem todos os programas de TV têm que ser Café Filosófico ou documentários do History Channel, graças a Deus. Eu não assisto BBB unicamente pelo fato de que não acho divertido. Simples assim.
Mas essa semana eu procurei o vídeo que estava sendo comentado nas redes sociais, sobre o abuso ou estupro (não dá pra saber exatamente) de uma das integrantes. O vídeo é nojento - um cara bolinando uma menina por baixo do edredon enquanto ela estava desacordada e inerte. O que ele fez exatamente embaixo do edredon não dá pra saber - mas que ele fez alguma coisa fica óbvio pra quem assiste.
Desde domingo as pessoas comentam o caso no Twitter e Facebook e só ontem, depois de uma visitinha da polícia à casa e de muita repercussão na internet, a Globo resolveu expulsar o rapaz por "grave comportamento inadequado".
Algumas considerações sobre o fato e sobre sua repercussão. Já que é preciso desenhar, vamos lá: 
1. o corpo de uma pessoa pertence a ela, mesmo que ela esteja bêbada, mesmo que ela tenha te dado bola, mesmo que você ache que ela é fácil, etc.
2. Assim, quando você mexe no corpo de uma pessoa que está desmaiada, sem possibilidades de consentir ou negar, você está invadindo propriedade alheia
3. O que é grave, nesse caso, é exatamente o fato de que ela não estava em condições de consentir nada. Portanto, parem, pelamordedeus, de falar que "em outras edições do BBB's coisas muito mais sérias aconteceram". Certamente que aconteceu sexo em outros BBB's e de forma mais explícita, mas o que faz esse caso grave é o não-consentimento por uma das partes.
4. Sim, a repercussão nas redes sociais foi linda, mas infelizmente ainda tive que ler comentários do tipo "cu de bêbo não tem dono", e declarações misóginas quanto ao comportamento da moça (sim, se ela é fácil/puta/bêbada/atirada/vadia ________________ [insira aqui o adjetivo pejorativo de sua preferência] ela merece ser estuprada)
5. Aos pseudo-intelectualóides de esquerda que dizem "eu ignoro BBB. Isso pra mim não existe", eu queria lembrar que não estamos aqui discutindo o BBB, mas valores machistas que permitem que coisas assim aconteçam, como se fosse "natural". Ah! E sendo tão declaradamente de esquerda, deviam aproveitar o caso ao menos pra baixar a lenha na Globo pela irresponsabilidade e omissão (que foi corrigida ontem por causa da força das mídias sociais - disso não tenho dúvida)

PRONTOFALEI!