No
Facebook, uma amiga propunha criar a Associação dos Portadores de Saudade
Crônica. Rapidamente eu e mais uns quinze nos candidatamos a membros da dita
associação. No atual momento, me arrisco a dizer que eu poderia ser a
presidente da APSC. Desde março vivo a uma distância de 2.603 quilômetros dos
meus filhos, da minha casa, dos meus pais, das minhas referências, dos meus
amigos e de tudo o que de mais importante tenho na vida.
Um doutorado me trouxe ao Rio e,
junto com a alegria de estar realizando um sonho, veio também o preço da
realização do mesmo: a saudade. Mas pensando bem, antes mesmo de vir para o Rio
eu já vivia imersa em saudade. Não, a saudade não é coisa nova na minha vida -
faz muito, muito tempo que não vivo sem saudade. Conclusão óbvia: crescer é
aprender a administrar saudades.
Enquanto nosso círculo social e
afetivo é pequeno, restrito à família imediata, é fácil ter todo mundo que a
gente quer bem por perto. Vamos crescendo e multiplicando afetos, construindo
laços e abrindo oportunidades para as saudades. Sim, saudades no plural. Porque
elas são muitas e diversas. A saudade que sentimos de um amor não é a mesma que
sentimos dos nossos pais, nem a mesma que sentimos dos nossos filhos e nem a
mesma que sentimos dos amigos queridos. Existem saudades e saudades – todas
dolorosas, embora algumas sejam mais quietinhas que outras. Tem saudade até da
gente mesmo – de quem a gente já foi e não é mais. Tem saudade do que não
aconteceu, do que a gente queria ter vivido, do que a gente passou tão perto,
bateu na trave e não viveu.
Tem saudade de todo tipo. Só não
existe é saudade boa. Porque saudade é sempre esse grilinho incomodando – tá
você ali todo feliz com uma conquista e pensa como sua avó ia ficar feliz de te
ver chegando onde você queria, ou como aquele seu amigo que sempre torceu por
você está agora tão longe, mas tão longe que você já nem consegue lembrar bem
de seu rosto.
Sim, somos todos membros da
Associação dos Portadores de Saudade Crônica. Esse é parte do preço que pagamos
por crescer, por amar, por partilhar nossa vida e nossos afetos. E, por mais
doloroso que seja, melhor a saudade do que a falta de afeto. Se a saudade é o
efeito colateral de distribuir amor por aí, que venham ainda muitas saudades
pra mim.