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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Buaaaaa

Às vezes a gente chora sem saber porquê. A torneira da alma abre e vaza um monte de dor e tristeza, desentupindo encanações que a gente insiste em bloquear com tudo o que encontra pela frente: papel, palavras perdidas, promessas antigas, gestos e atitudes.
Outro dia chorei na estação de Osaka, a caminho do trem. Pensei que chorava de frio, de raiva de estar mais uma vez perdida, da sensação de incapaz que só o analfabeto conhece bem. Mas na verdade eu chorava mesmo era de solidão, de saber que só a tinha a mim mesma pra contar. Desamparo de não ter pra quem ou como pedir ajuda.
Outro dia chorei num longo vôo e em vários aeroportos em países diferentes. Pensei que fosse de medo do que vinha, de ansiedade pelo desconhecido, da incerteza sobre minha decisão. Mas eu chorava mesmo era por saber que aquele vôo nao tinha volta, e que ele fechou a porta pra uma outra dimensão, onde um dia fui feliz.
Outro dia, chorei de raiva, de muita raiva. Toda a água do rio Amazonas não seria suficiente pra diluir tanto sentimento. E eu sabia bem porque chorava.
Outro dia chorei dentro do ônibus, a caminho da OSIC. Mas não era só de saudade dos meninos que eu chorava, era também de apreensão e de medo pelo futuro deles.
Outro dia, chorei na estação de ônibus de Nagoya. Esse choro eu sabia que era de uma saudade que ainda vem, de um gostar que exige convivência, de uma impossibilidade de se estar perto dos amigos que a gente ama. Mas era também um choro de saudade antiga, de saudade de mim, de saudade do que nós todos já fomos e nunca mais seremos. Era um choro de saudade de tantos planos. Mas era também de orgulho, de admiração: pelo menos alguns planos são concretizados, alguns sonhos se tornam reais.
E prevejo que ainda tenho muitas lágrimas pela frente. Espero pelo menos saber reconhecer que canos estão sendo desentupidos.

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