Há 14 anos, no meio de uma noite quente de b-r-o BRÓ, caiu uma inexplicável chuva. Às 23:23h, ao som de California Dreaming, você nasceu, vermelho e zangado, parecendo um velhinho. Seu corpo só denunciava a alma antiga que você trazia. "Esse menino é espírito velho", me disse uma pessoa um dia, como se falasse uma novidade. É essa sensatez que você tem, mesmo em meio aos arroubos típicos da adolescência, que revela a antiguidade e a sabedoria da sua alma. Eu sou suspeita pra falar, eu sei. Como mãe, só vejo o melhor, e faço questão de que seja assim.
Faz tempo que vejo o vermezinho da palavra em você. O texto sobre o tempo na formatura de Doutor do ABC, os vários professores que me chamam pra falar da sua habilidade com as palavras, seu gosto pelos livros, seus questionamentos que às vezes me exasperam, mas que também me enchem de orgulho. E no último sábado fui informada pela sua atual professora de redação que sua alcunha entre os professores é "novo Machado de Assis". Brincando de escrever contos, você andou impressionando as pessoas. Eu até quis dizer que já sabia, porque eu sabia mesmo, mas fingi modéstia, pelo menos até a página 2. Daí em diante disparei telefonemas, pro seu pai, pro padrinho, pros amigos, pros avós: "o Pedro é o novo Machado de Assis!" Do outro lado da linha, ninguém se surpreendeu - sua habilidade com a palavra escrita é nossa conhecida antiga, assim como a timidez que vai me obrigar a deletar esse post daqui a algumas horas.
Seu presente, é claro, é uma coletânea de contos de Machado. Dentre eles, está um dos meus preferidos, O Alienista, que sei que vai gerar muitos e muitos debates entre a gente. A Cartomante, que também é dos meus preferidos, fica pra uma outra ocasião. Mais que saboareando as palavras de Machado, quero sempre poder ver você lutando a luta vã das palavras, como bem definiu outro grande, o Drummond.