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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Para o novo Machado de Assis

Há 14 anos, no meio de uma noite quente de b-r-o BRÓ, caiu uma inexplicável chuva. Às 23:23h, ao som de California Dreaming, você nasceu, vermelho e zangado, parecendo um velhinho. Seu corpo só denunciava a alma antiga que você trazia. "Esse menino é espírito velho", me disse uma pessoa um dia, como se falasse uma novidade. É essa sensatez que você tem, mesmo em meio aos arroubos típicos da adolescência, que revela a antiguidade e a sabedoria da sua alma. Eu sou suspeita pra falar, eu sei. Como mãe, só vejo o melhor, e faço questão de que seja assim.
Faz tempo que vejo o vermezinho da palavra em você. O texto sobre o tempo na formatura de Doutor do ABC, os vários professores que me chamam pra falar da sua habilidade com as palavras, seu gosto pelos livros, seus questionamentos que às vezes me exasperam, mas que também me enchem de orgulho. E no último sábado fui informada pela sua atual professora de redação que sua alcunha entre os professores é "novo Machado de Assis". Brincando de escrever contos, você andou impressionando as pessoas. Eu até quis dizer que já sabia, porque eu sabia mesmo, mas fingi modéstia, pelo menos até a página 2. Daí em diante disparei telefonemas, pro seu pai, pro padrinho, pros amigos, pros avós: "o Pedro é o novo Machado de Assis!" Do outro lado da linha, ninguém se surpreendeu - sua habilidade com a palavra escrita é nossa conhecida antiga, assim como a timidez que vai me obrigar a deletar esse post daqui a algumas horas.
Seu presente, é claro, é uma coletânea de contos de Machado. Dentre eles, está um dos meus preferidos, O Alienista, que sei que vai gerar muitos e muitos debates entre a gente. A Cartomante, que também é dos meus preferidos, fica pra uma outra ocasião. Mais que saboareando as palavras de Machado, quero sempre poder ver você lutando a luta vã das palavras, como bem definiu outro grande, o Drummond.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Eu confesso: eu nunca acreditei nessa tal de TPM. Eu sempre achei que era um misto de frescura com uma certeza besta de que mulher rima com sofrimento. "Ai, com eu sofro todo mês. Ai, como eu sou resignada. Ai, que são os ossos do ofício." Vi amigas próximas terem quedas de pressão e cólicas homéricas e não, não achei que era fingimento. Mas nunca entendi porque simplesmente não procuravam um médico e resolviam o problema. "Porque é assim mesmo. Todas as mulheres da minha família são assim" Aiiiinnn, se fosse qualquer outra dor, teria cura, mas dor de ser mulher, não? Não, não era só que eu não acreditava na TPM, era que eu não tinha paciência mesmo, porque se fosse comigo, eu já tinha mandado arrancar o útero. Ok, eu falo de um ligar privilegiado, do lugar de alguém que nunca na vida soube o que era uma cólica. Ai, mas se fosse comigo eu ia atrás de morfina ou do que fosse pra não sentir coisa nenhuma. E a frescurinha de ficar sensível demais, chorona demais, melosa demais? Não é pra mim. Eu sou hardcore, eu sou muro chapiscado, eu sou punk, porra! Pois é, hoje eu acho que a tal TPM me pegou porque eu tô tendo que repetir isso de 15 em 15 minutos pra não cair no choro sem razão. "Você é punk, Clarissa. Você consegue, Clarissa. Você é hardcore, Clarissa" - vamos lá, como um mantra.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ô Xico Sá, num tem só essas duas opções, não!

Disponivel em: http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/

O que você prefere: homem frouxo ou canalha?



Sexta é dia de uma disciplina clássica aqui no blog: a cadeira "machos comparados".

No episódio de hoje, meu rapaz, minha rapariga, a peleja do homem frouxo X o homem canalha.


***



“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”



Encontro minha amiga A., no nosso botequim predileto, e a desalmada vai logo anunciando, com a ironia fina que a acompanha na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença.



Sempre tem boas histórias e uma mania louca de escolher uma música, normalmente no embornal do Chico, para trilha das sagas românticas e congas tantos que já levou como pé-na-bunda.



Como o xará Francisco tem um vasto elenco de personagens femininos e incorpora as dores e delícias das moças, ela escolhe no capricho, no ponto.



Moleza, garoto, vamos nessa.



“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”, ela repete e repete, enche o saco com o “Samba do grande amor”.



Essa música nem é protagonizada por uma fêmea, e sim por um homem desiludido, um cabra cujo destino parafusou-lhe na testa belos chifres à moda dos vikings.



Mas ela insiste e canta assim mesmo. Pior: canta e ri, uma loucura. Que diabo de sofrimento é esse com essas gargalhadas todas?



A moça é assim mesmo. Não tem jeito. E olhe que nem pediu caipiroscas de frutas vermelhas nesse dia, ficou apenas no chope, coisa fina e civilizada, pense no aprumo!



“Morrer dessa vez é que não vou”, tira onda. “Ih, estou escaldada, amigo”.



O que A. me contou uma das coisas banais que mais escuto das minhas amigas nos últimos tempos.



E olhe que sou conselheiro, ombudsman das moças, cupido e ouvidor-geral de muitas crias das nossas costelas.



A amiga deparou-se com mais um desses homens que prometem, ensaiam, jogam um charme, cultivam, cantam de galo... comparecem e..., sem dizer nada, tomam o clássico chá de sumiço, saem para comprar o king size, sem filtro, do abandono.



“Por essas e por outras é que agora prefiro um bom canalha a um homem frouxo”, prega a amiga, conquistando rapidinho o apoio da távola redonda das gazelas ao lado.



“Um canalha pelo menos me pega com gosto, como se fosse mesmo a última noite”.



Defende a tese e emenda, riso desavergonhado: “Passava um verão a água e pão, dava o meu quinhão pro grande amor, mentira!”



É, rapazes, é tempo de homem frouxo, que corre mesmo diante da possibilidade de uma história mais densa e afetiva.



Não sabem o que estão perdendo.



A começar pela minha amiga cantante, belo exemplar da raça, no auge dos seus 3 ponto 6, boa conversa, boa lábia, gostosa, bocão-Jolie e um humor capaz de tornar o mais nublado dos dias na mais promissora e comovente folhinha do calendário.



Escrito por Xico Sá às 11h54

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que você precisa pra viver?

Água, comida, teto. Afago, dengo, amor. Proteção e autonomia, na improvável medida certa. Sono, o suficiente pra descansar, mas não tanto que doa as costas e amorteça o pensamento. Projetos. Coisas a fazer. Prazos a cumprir. A adrenalina do relógio que nunca para. O medo de não dar certo que antecede a certeza do sucesso. Frustrações pra chorar um tiquinho. Salto alto para os dias de moral baixo. Coturnos vermelhos pra ganhar o mundo. Paciência.