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sábado, 19 de janeiro de 2013

Você tem medo de que?


            A conversa no carro outro dia era sobre medos. Tonton, que sempre foi destemido e durão, anda com medo de dormir no escuro, o que tem causado atrito com Zé, que só gosta de dormir no breu total. Zé argumentava: “mas Antonio, quando tu fecha o olho tudo fica escuro mesmo! Pra quê ligar a luminária?” Ah, mas o medo é algo irracional e Tonton só respondia que não sabia, que tinha medo e pronto e, por ser tão reconhecidamente valente, se envergonhava de admitir o medo. Eu intervinha dizendo que é normal ter medo, que aos seis anos a gente tem alguns medos mesmo, mas que eles vão passando à medida que a gente cresce e etc e tal. “Então quando a gente fica adulto não sente mais medo?”, Zé perguntou. Agora danou-se, meu São Jorge! Antonio completa: “Tu não tem medo de nada, mãe?”
            O sinal abre, engato a marcha, o silêncio da mãe tagarela pesa.
[Tenho medo de não estar preparada quando vocês precisam. Medo de faltar. Medo de exceder. Medo de perder o ponto. Tenho medo de me perder na teimosia e no orgulho, na arrogância de achar que tenho as respostas prontas. Tenho medo também de nunca achar as respostas. Tenho medo das perguntas que não param de mudar. Tenho medo de perder a fé na humanidade. Tenho medo de que os altos e baixos acabem me levando a mostrar pra vocês uma imagem ruim do mundo. Tenho medo da arrogância de não reconhecer a necessidade do outro. Tenho medo, mais ainda, de precisar do outro. Tenho medo de não saber voltar atrás. Medo de nunca encontrar paz. Tenho medo da solidão. Medo de não ter pra quem ligar quando me aperrear. Mais medo ainda tenho de vocês se sentirem sós quando eu não bastar mais. Medo, muito medo de não ser suficiente pra vocês. Medo do dia em que vocês não precisarem mais de mim. Medo de não aceitar as impossibilidades, de dar murro em ponta de faca. Medo de aceitar o mundo como se fosse assim mesmo. Medo de não achar a medida. Medo de não encontrar serenidade. Medo também da apatia.]
            - MÃÃÃE, de quê tu tem medo?
            - Do engarrafamento aí na frente que vai fazer a gente demorar a chegar em casa e daí vocês vão acabar dormindo dentro do carro e eu vou ter que carregar cada um escada acima.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pode vir quente, 2013


            Eu não vou fingir que acredito que tudo será lindo e novo e maravilhoso só porque em algum momento da história alguém convencionou que um ano terminaria e outro começaria. Nem vou fazer de conta que não estou morrrta de medo do ano que se inicia e do passo maior que a perna que resolvi dar. Mas como boa pollyanna, sei que vou dar meus pulos e encontrar meu jeito de colocar tudo no lugar. Aprendi faz tempo: é preciso perder o chão pra ganhar asas.
            Não tem como terminar o ano sem lembrar do anterior, sem fazer um balanço. No noves fora zero, 2012 foi produtivo e intenso. E valeu muito a pena. Teve choro, desespero e certeza de não dar conta. Mas no final das contas, teve defesa de dissertação aprovada com louvor. Teve comemoração com Paul McCarney, Chico Buarque e Manu. Teve conversinha de amigas que não se viam há anos. Teve a CER-TE-ZA, assim mesmo em letras garrafais, de que “não, nunca mais quero isso pelamordedeus preciso respirar vou descansar quero sombra e água fresca”. Teve mudança de ideia, teve um “quem sabe”, teve afinal a decisão de tentar. Teve inúmeras viagens, teve provas, teve unhas roídas, teve apoio dos meus tão fieis e pacientes amigos. Teve “ai, meu deus, cá estou eu de novo!”. Teve aprovação. Teve a certeza ainda maior, substituindo aquela certeza antiga, de que estou no caminho certo e de que a velocidade é essa, porque é a minha. 200 km/h na tomada de 220 volts. Essa sou eu. Teve a felicidade de me ver cada vez mais perto de ser quem eu quero ser.
            Não me iludo: esse não será um ano fácil. Mas será o ano em que continuo a me transformar no que eu quero ser. O Rio me espera, o doutorado me chama, a saudade vai ser de lascar, mas é bem por isso que eu vou fazer valer a pena.
Venha preparado, 2013, que eu tô com um quente e dois fervendo pra você. "Eu acho é pouco, eu quero é mais, se não aguenta por que veio?"
Feliz 2013!