Ontem, finalmente, assisti ao documentário “O renascimento do parto”. A primeira cena já foi de revirar minhas tripas. Ah, não. Não era nada demais. Eram só imagens de uma cesárea, iguais as que eu tenho em casa, em fita VHS. Era a crueza de uma cirurgia de extrair feto, numa linha de montagem hospitalar. Era só uma cesárea, como tantas que acontecem diariamente no nosso brasilzão campeão mundial de cesáreas. Era só uma mãe relatando a dor que foi pra ela abrir mão do parto que queria, como tantas outras nesse brasilzão.
Mas o filme não mostra só isso: mostra, principalmente, como o parto foi transformado em um evento médico/hospitalar no Brasil. E como é possível também reverter isso. Eu sei, eu sei: essa minha conversa de “parto domiciliar”, de “protagonismo feminino”, de “nascer com amor” parece conversa de “hippies que abraçam árvores”. E pode até ser também. Mas vai lá e assiste o documentário que você vai entender.
Vai lá e ouve obstetras, pediatras, obstetrizes, enfermeiras obstetras, com suas vozes legitimadas pela ciência, dizendo que tá tudo errado. Vai lá e ouve também as vozes de mulheres que, como eu, não sabiam que era preciso brigar pelo direito a um parto como queriam. Vai lá e entende que a briga não é CONTRA a cesárea – sim, essa cirurgia pode, sim, salvar a vida de mulheres e crianças – mas a favor do direito de parir. E, principalmente, do direito de parir como quiser. Do direito da mulher decidir sobre o próprio corpo e o próprio parto. Do direito de ser informada de verdade e não apenas enganada e amedrontada com informações do tipo “rebimboca da parafuseta” que mecânicos de ponta de esquina gostam tanto de usar.
Vai lá também pra ver a história de mulheres, de casais, de famílias, que desafiaram o sistema e conseguiram fazer do parto um momento de amor. Vai lá e chora pelos partos que você não teve. Vai lá e cutuca a ferida, menina. Vai lá e vê como teu filho foi maltratado ao nascer em um hospital. Vai lá e pensa porque mesmo ninguém jamais coloca os procedimentos médicos em xeque. Vai lá e assiste as cenas de mulheres parindo amparadas pelos companheiros, em banquetas, em banheiras, onde ELAS se sentiram mais confortáveis, e não onde o médico disse que tinha que ser, e não em uma maca fria, com os pés presos em estribos. Vai lá e pensa que pode ser diferente. Vai lá e pensa fora da caixinha.
Eu fui lá. Eu vi e ouvi tudo aquilo. E lembrei, mais uma vez, que eu não briguei pelos meus partos. Eu, Clarissa, leonina, guerreira, brigona desde sempre, determinada e valente, brochei diante desse sistema. E não pari. Eu vi a mim mesma e a algumas amigas ali. Eu, Clarissa, doutoranda, super informada, classe média, detentora de um bom plano de saúde, me vi ali, como mais uma mulher impotente diante de um sistema que nos trata como incapazes de decidir. Eu, Clarissa, fui, vi, ouvi, chorei litros. E pensei que é preciso mudar a forma de entender gestação e parto, antes sequer de se pensar em mudar todo um sistema. E que, se não há um único vilão nessa história, é preciso que cada um se ocupe do vilão que melhor lhe cabe.
Mas o filme não mostra só isso: mostra, principalmente, como o parto foi transformado em um evento médico/hospitalar no Brasil. E como é possível também reverter isso. Eu sei, eu sei: essa minha conversa de “parto domiciliar”, de “protagonismo feminino”, de “nascer com amor” parece conversa de “hippies que abraçam árvores”. E pode até ser também. Mas vai lá e assiste o documentário que você vai entender.
Vai lá e ouve obstetras, pediatras, obstetrizes, enfermeiras obstetras, com suas vozes legitimadas pela ciência, dizendo que tá tudo errado. Vai lá e ouve também as vozes de mulheres que, como eu, não sabiam que era preciso brigar pelo direito a um parto como queriam. Vai lá e entende que a briga não é CONTRA a cesárea – sim, essa cirurgia pode, sim, salvar a vida de mulheres e crianças – mas a favor do direito de parir. E, principalmente, do direito de parir como quiser. Do direito da mulher decidir sobre o próprio corpo e o próprio parto. Do direito de ser informada de verdade e não apenas enganada e amedrontada com informações do tipo “rebimboca da parafuseta” que mecânicos de ponta de esquina gostam tanto de usar.
Vai lá também pra ver a história de mulheres, de casais, de famílias, que desafiaram o sistema e conseguiram fazer do parto um momento de amor. Vai lá e chora pelos partos que você não teve. Vai lá e cutuca a ferida, menina. Vai lá e vê como teu filho foi maltratado ao nascer em um hospital. Vai lá e pensa porque mesmo ninguém jamais coloca os procedimentos médicos em xeque. Vai lá e assiste as cenas de mulheres parindo amparadas pelos companheiros, em banquetas, em banheiras, onde ELAS se sentiram mais confortáveis, e não onde o médico disse que tinha que ser, e não em uma maca fria, com os pés presos em estribos. Vai lá e pensa que pode ser diferente. Vai lá e pensa fora da caixinha.
Eu fui lá. Eu vi e ouvi tudo aquilo. E lembrei, mais uma vez, que eu não briguei pelos meus partos. Eu, Clarissa, leonina, guerreira, brigona desde sempre, determinada e valente, brochei diante desse sistema. E não pari. Eu vi a mim mesma e a algumas amigas ali. Eu, Clarissa, doutoranda, super informada, classe média, detentora de um bom plano de saúde, me vi ali, como mais uma mulher impotente diante de um sistema que nos trata como incapazes de decidir. Eu, Clarissa, fui, vi, ouvi, chorei litros. E pensei que é preciso mudar a forma de entender gestação e parto, antes sequer de se pensar em mudar todo um sistema. E que, se não há um único vilão nessa história, é preciso que cada um se ocupe do vilão que melhor lhe cabe.