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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Do ofício de escrever

Eu gosto de palavras. Escritas, faladas, subentedidas, nas entrelinhas. Palavras têm uma concretude e, ao mesmo tempo, possibilidades infinitas. A máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras é facilmente derrubada pelo fato que numa palavra cabem milhões de imagens. Tem algo mágico na maneira como as palavras se unem que vai muito além do sentido expressado, passa pela sonoridade, mas reside num não-sei-quê que nos seduz sabe-se-lá porquê.
Entrevistando um artista plástico há muitos anos atrás, entendi um pouco de seu processo criativo que começava com uma idéia vaga do que iria pintar, um sentimento tal que precisava expressar. Depois vinha a definição das cores, de acordo com as sensações que lhe causavam. Começava então a pintar, escolhendo os pincéis num processo meramente intuitivo. No meio do processo, com a pintura mais ou menos definida, ele finalmente sabia onde estava indo. E era esse o momento que considerava mais difícil: consciente de suas intenções, corria sempre o risco de se deixar levar por escolhas racionais e abandonar seu objetivo inicial que, embora não soubesse a princípio qual era, guiava suas pinceladas.
Mas o que isso tem mesmo a ver com as palavras? Na verdade, reconheci a minha maneira de escrever nas palavras do pintor. Começo a escrever pelo prazer e necessidade de unir as palavras, de torná-las de alguma maneira interessantes. A escrita, pra mim, vem dessa necessidade de transformar palavras estéreis em realidade, mesmo que eu não saiba inicialmente que realidade é essa. E ela vai se formando à medida em que escrevo, meio que sem a minha participação racional. Em algum ponto descubro sobre o que realmente estou falando, e preciso barrar a lógica para ir aonde meus sentimentos mandam.
Alguém já disse que escritor é alguém para quem escrever é mais difícil que para as outras pessoas. Discordo. Para o escritor, escrever é mais necessário que para qualquer outra pessoa.

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