Abraço de filho ao acordar - ou a qualquer hora. Beijo de esquimó. Chocolate - branco, meio amargo, ao leite. Chocolate simplesmente, sem preconceitos. Sorvete de chocolate. Sorvete. Ponto. Qualquer sorvete, sempre. Mas sorvete de açaí mais ainda. Tacacá nos domingos de saudade. Lembranças da minha avó - cheiro de patchuli e conforto que só tinha ali. Abraço de urso que aplaca o frio. Revista nova + cama macia. Cheiro de livro novo. Novas descobertas em livros antigos. A descoberta de uma banda nova que me faz sonhar - o momento em que vale a pena deixar de lado a preguiça do novo. Amigos. Todos. Os melhores do mundo - os meus. Família embaixo da mangueira. Esse lugar pra onde eu sempre vou voltar, e de onde eu só saio porque sei que o fio de Ariadna termina ali. Borboletas no estômago - o toque do celular. Falta de ar. Aquela volta no quarteirão pra esperar a música acabar. Gargalhadas. Cartas, todas as cartas do mundo - as que recebei, as que mandei, as que ficaram guardadas, as que nem sequer foram escritas. Bafinho de filho quando acorda. Aquele momento em que o autor fodão diz aquilo que eu queria dizer mas me achava incapaz de tanto - ai, o orgasmo acadêmico - EUREKA! Chico Buarque como trilha sonora de tudo o que marca. Pedalar no aterro. Acertar o caminho. Descer na parada certa. Promoção de passagem aérea. Escrever - cartas, diários, listas, agendas, compromissos, mensagens de texto. Escrever pra sair de dentro, pra que sirva de registro, pra que eu me lembre sempre porque escrevo, pra não enlouquecer, pra me reconhecer. Escrever pra existir, e pra que o mundo faça sentido. Samba - no coreto, no pub, no largo, no som do carro, na Lapa, na veia. Café. Cafuné. Massagem no pé. Lençol sempre - no frio, no calor, com chuva, debaixo do sol. Lençol com ventinho. Muitos travesseiros. Mar - pra banhar, pra olhar, pra ouvir. Lágrimas quando a tampa da panela tá pra explodir. Cozinhar. Boca ardida - tacos mexicanos. Gargalhadas no quintal: cerveja, comida, amigos, filhos - tudo misturado. Almoço de domingo na casa dos pais. Terraço: pai e mãe lendo o jornal. Banca do Chagas. Fazer supermercado pensando em cada coisa que cada filho vai querer. Meu quarto de solteira, na casa do muro de pedra. A cama que nunca pôde ser tirada do lugar. O melhor sono do mundo. Dormir, dormir bem, dormir muito, dormir tanto que doam as costas. Conversa de mesa de bar. Conversas profundas com pessoas interessantes. Miolo de pote com pessoas interessantes. Criar teorias ridículas na madrugada - teorias inúteis pra explicar desde a unha encravada até a origem dos mitos. Vinho tinto e seco. Sintonia. Chuvinha fina pra dormir. Toró pra correr pelas ruas do macacal. Raios, trovões, barulho da chuva no telhado. Rede com varanda de croché. Vento no cabelo.
Repositório de pequenos sonhos, epifanias e certezas transitórias. Espaço de despejo do excesso que pesa na alma. Lugar de ser pequena quando tudo fora é grande demais.
sábado, 30 de março de 2013
segunda-feira, 11 de março de 2013
Em caso de emergência
Felipe Pena tem um livro chamado "O verso do cartão de embarque". Eu ainda não o li, mas lembro de ter lido uma crônica do mesmo autor, tempos atrás, que tinha talvez o mesmo título. Nela, o personagem principal, recém saído de um relacionamento amoroso, se via na situação de fornecer um contato de emergência para a companhia aérea no momento do check in, e se dava conta de que agora não tinha mais aquela pessoa como contato de emergência.
Dias atrás peguei um voo de Teresina pro Rio de Janeiro. Na hora de fornecer um contato, foi seu nome que eu dei e o telefone TIM que você usa há anos. Me dei conta de que, ao longo dos anos, meu contato de emergência tem sido sempre você. Independente do que estivesse acontecendo na minha vida, do país onde eu me encontrasse ou do meu estado civil e/ou emocional, tem sido sempre você a pessoa em quem eu confio pra qualquer emergência, pai. Em todas as agendas, em todos os formulários que já preenchi, tem sido sempre seu nome que eu tenho colocado no campo: Em caso de emergência, favor avisar a.
Eu tenho a sorte de ter uma cambada de gente porreta ao meu redor, e tenho certeza de que pelo menos uma dúzia delas saberia como proceder no caso de uma emergência acontecer comigo. Mas, ainda assim, tem sido sempre você a pessoa que eu acredito que merece ser avisada primeiro - porque você sempre sabe o que fazer. E essa segurança, esse chão firme, eu nunca encontrei em lugar nenhum. Em algum momento - e eu sei que esse momento se aproxima a passos largos e cambaleantes - eu terei que ser seu contato de emergência. E espero conseguir te dar pelo menos um pouco da firmeza e segurança que você tem me dado ao longo da vida. Feliz aniversário, pai.
sábado, 9 de março de 2013
Errejota
Todas as músicas e todos os clichês são poucos: sim, o Rio de Janeiro continua mesmo lindo, minha alma canta na cidade maravilhosa etc e tal. Já faz uma semana que brinco de turista por aqui, enquanto espero as aulas começarem. Carioca way of life.
Um amigo me disse que alguém já falou (teria sido Vinícius de Moraes? não lembro) que todo brasileiro deveria morar no Rio pelo menos uma vez. E agora eu entendo porque.
Como esperado, meu fantástico senso de direção vive me deixando na mão - ou, como diria um amigo, meu "nonsense" de direção. Já andei pelo Flamengo de cima abaixo, já me perdi n vezes, mas me encontrei depois. Tem nada, não. A melhor maneira de conhecer um lugar é mesmo se perdendo pelas suas ruas - inventei essa teoria anos atrás. A boa notícia é que aprendi a usar o Nokia Maps. A péssima notícia é que quando o celular descarrega fico ainda mais perdida. E tem sido quase sempre divertido. Não foi difícil rir de mim mesma quando um francês me ensinou que ônibus pegar, onde descer e por onde seguir da parada até meu destino. É que aqui nessa cidade linda eu sou mais estrangeira que qualquer um. Mas não foi nada engraçado me perder do Largo do Machado pra casa, á noite, sozinha e debaixo de chuva. Eu, meu guarda-chuva vermelho, minhas sandálias encharcadas e o bairro de Laranjeiras todinho pra mim. Tudo porque errei uma rua e segui na direção contrária. Mas quem tem boca vai a Roma ou a qualquer lugar, e eu tenho tido a sorte de encontrar pessoas receptivas ao meu piauiês cada vez mais carregado.
Doismilseiscentosetrês malditos quilômetros me separam de Teresina e dos meus amores, mas não posso negar que o errejota tem me tratado bem. Tem saudade, mas tem chamada por vídeo, tem telefone TIM que, quando tem sinal, liga baratim. Tem frio na barriga e no corpo todinho, mas tem também um calorão que não deixa nada a desejar ao Piauí. Tem amigos, tem encontros e reencontros, tem show do Barão e do The Cure. Tem aulas começando daqui a dois dias. Tem stress - tem que ter, né possível! Tem prazos a cumprir, tem textos a ler, tem discussões, tem tudo o que me move e me mantém viva.
São doismilseiscentosetrês infinitos quilômetros. Tem filho que adoece lá longe, mas tem a pediatra amiga que liga explicando que vai ficar tudo bem. Tem festa de aniversário do filho da amiga lá longe, mas tem o casal de amigos que levam os filhotes. Tem essa palavra enorme, talvez a maior da língua portuguesa: D I S T Â N C I A. Mas tem a certeza de que o que estava por vir já está acontecendo. E eu de fato preciso de bem pouco: tenho pra quem mandar SMS quando me perco, faço questão de ter a quem avisar quando eu finalmente consigo chegar em casa, e eu sei que, se um dia eu não chegar, alguém vai certamente dar pela minha falta. E isso de certa forma me basta.
Doismilseiscentosetrês malditos quilômetros me separam de Teresina e dos meus amores, mas não posso negar que o errejota tem me tratado bem. Tem saudade, mas tem chamada por vídeo, tem telefone TIM que, quando tem sinal, liga baratim. Tem frio na barriga e no corpo todinho, mas tem também um calorão que não deixa nada a desejar ao Piauí. Tem amigos, tem encontros e reencontros, tem show do Barão e do The Cure. Tem aulas começando daqui a dois dias. Tem stress - tem que ter, né possível! Tem prazos a cumprir, tem textos a ler, tem discussões, tem tudo o que me move e me mantém viva.
São doismilseiscentosetrês infinitos quilômetros. Tem filho que adoece lá longe, mas tem a pediatra amiga que liga explicando que vai ficar tudo bem. Tem festa de aniversário do filho da amiga lá longe, mas tem o casal de amigos que levam os filhotes. Tem essa palavra enorme, talvez a maior da língua portuguesa: D I S T Â N C I A. Mas tem a certeza de que o que estava por vir já está acontecendo. E eu de fato preciso de bem pouco: tenho pra quem mandar SMS quando me perco, faço questão de ter a quem avisar quando eu finalmente consigo chegar em casa, e eu sei que, se um dia eu não chegar, alguém vai certamente dar pela minha falta. E isso de certa forma me basta.
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