Páginas

sábado, 9 de março de 2013

Errejota

Todas as músicas e todos os clichês são poucos: sim, o Rio de Janeiro continua mesmo lindo, minha alma canta na cidade maravilhosa etc e tal. Já faz uma semana que brinco de turista por aqui, enquanto espero as aulas começarem. Carioca way of life.
Um amigo me disse que alguém já falou (teria sido Vinícius de Moraes? não lembro) que todo brasileiro deveria morar no Rio pelo menos uma vez. E agora eu entendo porque.
Como esperado, meu fantástico senso de direção vive me deixando na mão - ou, como diria um amigo, meu "nonsense" de direção. Já andei pelo Flamengo de cima abaixo, já me perdi n vezes, mas me encontrei depois. Tem nada, não. A melhor maneira de conhecer um lugar é mesmo se perdendo pelas suas ruas - inventei essa teoria anos atrás. A boa notícia é que aprendi a usar o Nokia Maps. A péssima notícia é que quando o celular descarrega fico ainda mais perdida. E tem sido quase sempre divertido. Não foi difícil rir de mim mesma quando um francês me ensinou que ônibus pegar, onde descer e por onde seguir da parada até meu destino. É que aqui nessa cidade linda eu sou mais estrangeira que qualquer um. Mas não foi nada engraçado me perder do Largo do Machado pra casa, á noite, sozinha e debaixo de chuva. Eu, meu guarda-chuva vermelho, minhas sandálias encharcadas e o bairro de Laranjeiras todinho pra mim. Tudo porque errei uma rua e segui na direção contrária. Mas quem tem boca vai a Roma ou a qualquer lugar, e eu tenho tido a sorte de encontrar pessoas receptivas ao meu piauiês cada vez mais carregado.
Doismilseiscentosetrês malditos quilômetros me separam de Teresina e dos meus amores, mas não posso negar que o errejota tem me tratado bem. Tem saudade, mas tem chamada por vídeo, tem telefone TIM que, quando tem sinal, liga baratim. Tem frio na barriga e no corpo todinho, mas tem também um calorão que não deixa nada a desejar ao Piauí. Tem amigos, tem encontros e reencontros, tem show do Barão e do The Cure. Tem aulas começando daqui a dois dias. Tem stress - tem que ter, né possível! Tem prazos a cumprir, tem textos a ler, tem discussões, tem tudo o que me move e me  mantém viva.
São doismilseiscentosetrês infinitos quilômetros. Tem filho que adoece lá longe, mas tem a pediatra amiga que liga explicando que vai ficar tudo bem. Tem festa de aniversário do filho da amiga lá longe, mas tem o casal de amigos que levam os filhotes. Tem essa palavra enorme, talvez a maior da língua portuguesa: D I S T Â N C I A. Mas tem a certeza de que o que estava por vir já está acontecendo. E eu de fato preciso de bem pouco: tenho pra quem mandar SMS quando me perco, faço questão de ter a quem avisar quando eu finalmente consigo chegar em casa, e eu sei que, se um dia eu não chegar, alguém vai certamente dar pela minha falta. E isso de certa forma me basta. 

Nenhum comentário: