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terça-feira, 31 de agosto de 2010

ECT

Saturno tem anéis. Dezoito no total. "Por você vou roubar os anéis de Saturno", canta Rita Lee. Tolkien escreveu "O Senhor dos Anéis", que virou filme pelas mãos de Peter Jackson (e eu não gostei de nenhum dos filmes). Quando eu era criança, gostava de brincar de "passa anel", na praça Isaías Coelho em Simplício Mendes. "Vão-se os anéis, ficam os dedos", dizem os mais velhos. Meus anéis foram, meus dedos ficaram pelados. Agora os anéis voltaram, inscrevendo energia, força, amor e equilíbrio na minha pele. Gestinho delicado esse.

sábado, 28 de agosto de 2010

Atualizando

Muito caro pagar deslocamento pra receber ligação. Então aproveito esse espaço pra justificar o fato de não estar atendendo o celular. Já em Brasília, cercada de amigos, esquentando os tamburins pra ir pro Suvaco da Asa comemorar que Antonio tá muito bem, sem sinal de câncer. E dra. Martha já considera a possibilidade de tornar o check-up dele anual, mesmo que seja pela vida toda. E vamo que vamo, que o samba já vai começar!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Voar é preciso

Medo de avião ela não tem. E nem de voar. Tem um pouco de medo, sim, de pousar naquele aeroporto quase fazendo high five com os moradores do prédios vizinhos. Mas na hora do pouso ela nem pensa nisso e só pede que, se for pra acontecer qualquer coisa, que seja rápido. Filosofia band-aid: puxa logo que é pra doer tudo de uma vez. Morre logo que é pra morrer sem dor. Mas ela não morre. (Às vezes ela chega a pensar que é imortal, de tanto que já pensou que ia morrer e quando olhou ainda tava no mesmo lugar.)
Dentro do avião ela pensa nas coisas que tem a fazer, na programação maluca que decidiu se impôr: rever amigos, Museu da Língua Portuguesa, rever família, Liberdade, tomar um vinho com o amigo querido, parque da Mônica, Sé, visita ao ateliê do amigo, receber o desenho pra sua tatuagem, sebos diversos. E depois, voar pra cidade-avião, reencontrar mais amigos, se aninhar na casa da tia querida, falar besteira com cumpadi Zé e primovisky, conhecer os filhos dos amigos nascidos nesse hiato de tempo em que não se viram, exibir seu próprio rebento, com indisfarçável orgulho. E depois, voar de volta pra casa, mais leve depois da overdose de carinho recebida.
Só de vez em quando, enquanto arrumava a mala, ela lembrava que não era exatamente isso que lhe fazia entrar no avião e pousar no meio dos prédios. Embora criasse outras razões e motivos, ela sabia bem porque voava pr'aquela cidade cinzenta. Havia ali um bairro chamado Liberdade, com uma rua chamada Professor Antonio Prudente, com um prédio enorme e assustador. Era lá que ela iria entrar com um pequeno guerreiro. Ela iria descer uma rampa pro subsolo - metáfora infernal essa, hein?- e entregar seu pequeno guerreiro em mãos nas quais ela confiava. E esperar. (Logo ela, que odiava esperar.) Esse ritual ela já conhecia e, por mais que tentasse se reconfortar lembrando que já havia passado por ele outras vezes, cada vez parecia a descida ao inferno de novo, cada vez outubro de 2007 lhe parecia mais perto. Mas ela sabia que enquanto esperasse, iria tentar encontrar um Deus que ela não sabe onde está, iria rezar o Santo Anjo do Senhor, do jeito que havia ensinado aos filhos, e iria alternar momentos de desesperança e confiança. Essa gangorra era também parte do ritual. Até que a médica de enormes olhos azuis saísse de dentro da sala e lhe dissesse que estava tudo OK, e daí ela já poderia respirar. (Ela sempre achou intrigante que uma oftalmologista oncológica tivesse olhos tão lindos quando todos os seus pacientes perderam ou estão em vias de perder pelo menos um dos olhos. É de uma soberba tão absurda exibir aqueles olhões enquanto aos seus pacientes já lhes satisfaria simplesmente ver, mesmo que com olhos feios, vesgos, caídos.)
Então, até o momento do ritual chegar, ela inventa coisinhas pra fazer, contacta amigos na cidade cinza, compra livros, assiste ao sorriso do pequeno Guerreiro enquanto ele brinca com o primo. Porque foi ele mesmo que ensinou a ela que a graça de tudo, nessas horas, está mesmo nas entrelinhas:
- Na próxima semana vamos a São Paulo pros seus exames.
- Ôba!
- Como assim ôba?
- Vou brincar com o Davi, e com o tio Guga. E vou no parque.
- Mas vai também no hospital, vai ter picadinha, e aquele cheirinho que te faz dormir...
- No hospital tem brinquedoteca, e tem a doutora Vivi.
Ele, muito mais que ela, sabia que era assim que se olhava de frente pra vida. E que é possível da ansiedade e da espera tirar o melhor. Se é ingenuidade ou sabedoria inata ela não sabe, mas é isso que faz dele um Guerreiro.

sábado, 21 de agosto de 2010

Dado, porradas e a suprema arrogância feminina

As revistas de celebridade são óbvias, como são óbvias as notícias sobre as celebridades. Fulana e Fulano casaram com pompa e circunstância, em recepção para mil talheres em um castelo com nome afrescalhado na Cornuália. Fulano e Fulana se separaram. Fulana foi visto com Beltrano no restaurante carésimo. "Somos apenas bons amigos" diz a manchete. E por aí vai. Mas esses dias a notícia óbvia de que Dado Dolabella (ator? cantor? bad boy?) agrediu a esposa salta, mesmo sem pop up, das homepages dos principais portais de notícias. Eu jurei que não comentaria sobre isso aqui, que esse Dado e sua digníssima não ocupariam meu espaço. Mas às vezes o óbvio merece ser falado.


Vamo lá: o cara tem o maior histórico de brigão, filhinho da babãe (que certamente é a única mulher que merece ser respeitada no mundo. Aliás ele deve ter uma tatuagem do tipo "Mother"ou "Love you, mom", assim em inglês mesmo, que é pra ser chique), o cara bateu na ex-namorada (toda a minha antipatia à Luana Piovanni não me impede de reconhecer o absurdo disso) e na camareira dela, o cara foi condenado e etc e tal. Daí a mocinha inocente resolve que ele é um partidão e, além de namorá-lo, ainda engravida e casa com ele. Roteiro de filme de terror. Agora chegou o grand finalle.


Ai, querida. Você não é culpada de ter sido agredida, mas como diz um amigo meu, entrou sabendo. Eu sabia. Seus pais certamente sabiam. O padeiro também. O porteiro do seu prédio. Seus amigos. Qualquer pessoa que passe por uma banca de jornais sabe que "encrenca" está escrito na testa desse rapaz. Mas você achou por bem encarar. Sabe por quê? Não é só porque você deve ser uma menininha romântica e que estava cega de amor. Nem porque você tava desesperada pra casar com o primeiro que topasse. Ou porque você gostasse mesmo de apanhar. Não, não é nada disso. O que acontece é que você certamente sofre da síndrome da suprema arrogância feminina.


Todas as mulheres do mundo, em menor ou maior grau, sofrem dessa síndrome - isso é fato. Os sintomas são clássicos:

1. acreditar no poder do amor, que é capaz de modificar qualquer brucutu e transformá-lo num urso de pelúcia de dia e numa sex machine à noite;

2. acreditar que a sua presença na vida do outro será um divisor de águas

3. dizer coisas do tipo: "ah! mas ele fazia isso com as outras porque não as amava de verdade! Comigo é diferente, porque ele agora encontrou o amor"


Ai, isso é tão clichê que dá até preguiça! Toda mulher já caiu numa esparrela dessas. Toda mulher já teve seu cafa - o cara que ela teima que vai se tornar outro pelo poder transformador do amor. Normal. E la nave va. Mas o problema é quando o brucutu em questão é um cara-que-bate-em-mulher. Aí, querida, não dá. Porque se o que os outros vão te causar é apenas uma sensação de impotência e a certeza de que seus beijos não transformam sapos em príncipes (a sua imaginação fértil é que faz isso), o cara-que-bate-em-mulher, além dos óbvios danos físicos, ainda vai te fazer sentir uma merda só porque você tem uma vagina e não tem metade da força dele. E nada mais importa - seu amor, sua inteligência, sua delicadeza, sua beleza, seus carinhos, ou seja lá o que você tenha; o simples fato de ser mulher já te faz valer menos e não merecer respeito nem mesmo à sua integridade física.


E, não, eu repito, não quero de maneira alguma dizer que você foi culpada. E acho que ele merece ser preso e torturado. Acho mesmo. Acho que ele merece se sentir impotente e fraco diante de outra pessoa, porque é assim que você deve ter se sentido quando foi agredida por ele. Mas acho que se nós mulheres fôssemos menos prepotentes, menos arrogantes, menos confiantes na nossa capacidade de mudar o outro, nos protegeríamos mais. Não, esses caras não deixariam de existir por isso. Mas deixaríamos de ser vítimas fáceis deles.

All U neeed is love

Ah, mas tem que falar. Tem que falar pra todo mundo que a bandinha na qual eu não botava a menor fé, a tal da banda cover oficial dos Beatles, arrasou ontem à noite. Trabalho bem feito tem que ser elogiado, gente. Mesmo que signifique dar a mão a palmatória. Sim, eu achava meio sem rumo esse negócio de ir ver show cover. Mas fui mesmo assim. Até porque nasci um pouco atrasada e dos Beatles eu só podia ver mesmo era cover. Mas eu ia me conformar em ouvir as músicas enquanto dirijo e a ver os vídeos no Youtube. Eu não queria um cover, um fake, uma imitação. E daí minha amiga, imperativamente como ela costuma fazer, me ligou e disse que tava fechando sei-lá-quantas mesas pro show. "Amanhã vou comprar. Passo na tua casa e pego o dinheiro" Nem deu tempo de eu contar pra ela que eu não sabia se queria ver o Beatles cover. Eu só concordei. E fui pro show. E fiquei fascinada. Sabe uma produção cuidada nos mínimos detalhes? Caracterização impecável, instrumentos da época, repertório bem escolhido. E os cabelos de John, Ringo, Paul e George? Dancei até minhas pernas doerem, e daí dancei mais ainda. Minha única queixa: não tocaram Strawberry Fields Forever. Mas tudo bem, fica pra uma próxima.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Samui desu

Fazia frio, muito frio no meu sonho. Outro dia uma pessoa me disse sentir cheiro em sonhos e eu morri de inveja. Não, meus sonhos não têm cheiro, mas têm muita cor, muito movimento, muito som. Meus sonhos gritam comigo me mandando acordar. Mesmo os sonhos bons me exigem que eu abra os olhos, levante e siga.
E essa noite no meu sonho fazia um frio lascado. E eu esfregava uma mão na outra pra tentar esquentar e procurava umas luvas que não achava. E do lado de cá do sonho, puxava o lençol cada vez mais pra ver se o frio passava.
Tinha música no meu sonho. Uma música alta e repetitiva, mas que mesmo assim eu não sabia cantar. E muita gente. Meus sonhos são sempre mega povoados. É sempre a Índia ou a China, de tanta gente que entra e sai desses sonhos. Mas nunca é lugar nenhum e parece sempre ser todos.
"Que drogas você toma antes de dormir pra ter sonhos assim?", me perguntaram um dia. Não, eu não tomo nenhuma droga. Mentira. Às vezes eu tomo Guaraná Diet. Droga pesada, eu sei. Mas não, eu não tinha tomado guaraná ontem, nem suco de caju, nem goiabada para sobremesa. Eu simplesmente dormi. E sonhei que fazia muito frio. E que eu não achava minhas luvas. E ninguém me dava luvas. E a música tava alta demais. E eu nem tentava falar com ninguém. E mesmo que eu tentasse ninguém ia mesmo me ouvir. E eu puxava o lençolzinho fino e ridículo, ridiculamente tentando me aquecer. E quando enfim abri o olho - aí sim veio a surpresa - o frio ainda tava aqui. Teresina, 7 horas de uma manhã de agosto - e o frio continuava. Desliguei o ar-condicionado. "Essa porra só pode tá desregulada" Que nada! No escritório fazia frio também. E na sala. E nos quartos vazios dos meninos. E na cozinha. E no banheiro. Abri a janela já com medo de ver neve lá fora. Sei lá. Tem tanta coisa que os ambientalistas dizem que eu tenho medo de qualquer dia desses ser saudada por uma nevasca no Piauí. Mas o sol já tava aberto. E um vento frio entrou quarto adentro. E eu esfreguei o coração nas tripas, pra ver se faço dele qualquer coisa, sorri amarelo e pensei: "hoje tem Beatles". É , o frio vai já passar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Feliz aniversário, Arela!

Ela é cinco anos mais nova que eu. Ela tirou meu reinado de única filha mulher. Quando mamãe e papai saíram pra maternidade, de madrugada, eu e Ziza pensamos que estavam fugindo. Eu tinha certeza de que ia ser abandonada com a vovó depois que ela nascesse. Quando a vi pela primeira vez pensei que seu umbigo de recém-nascido fosse um bicho, e passei tempos sem querer chegar perto dela. Ela cresceu me desafiando e enchendo meu saco. Eu cresci tendo ela como saco de pancadas preferido. Dividimos um quarto e disputamos espaço durante anos: eu, organizada; ela, largada; eu mandona; ela turrona.
E qual não foi meu susto ao descobrir que meus pais tinham acertado tanto na escolha de seu nome: Ângela é mesmo o anjo da família. Quando todos brigam, ela aparta; quando todos se estressam, ela acalma; quando tudo parece irremediavelmente perdido, ela sugere saídas. É que ela tem uma sabedoria só dela, uma sabedoria de espírito que já nasceu com ela. E, com o tempo, eu - que tenho tantos amigos que viraram irmãos - descobri na minha irmã minha melhor amiga.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tecnobrega

Só porque deu vontade de estar em Belém de novo. Só porque deu preguiça de voltar à vidinha normal. Só porque eu tava dançando "faz o S, faz o S, faz o S" na frente do espelho. Mas já passou,gente, já passou.

Ó o Dj Cremoso aí!

Nail crisis mode on

WARNING: Se você for um homem hétero, feche essa janela agora e vá ali ao lado coçar o saco, soltar um pum e cuspir de lado. Caso contrário, você corre o risco de morrer de tédio com o texto que se segue. Tá avisado!


Eu não tenho muita paciência pra salão de beleza (lembrei do Zeca Baleiro: baby, você não precisa de uma salão de beleza...). Mas se eu não fizer as unhas elas quebram horrivelmente. Então lá fui eu hoje cortar o cabelo e fazer as unhas. Normal - o salão nem cheio tava.
Enquanto uma criatura lixava as unhas das mãos e a outra esfolava meus pés, eu tentava ler um texto pra aula de sábado. Até aqui, normal também. O problema veio na hora da pergunta habitual: qual esmalte você vai querer? Eu uso sempre as mesmas cores nas unhas, e pouco me importa que a Risqué tenha lançado toda uma linha de cores liiiiiindas, como me disse outro dia a manicure. Não, eu não saio do habitual, até porque até outro dia nem pintar as unhas eu pintava, então pra quê inventar de ter unhas de cores diferentes toda semana? Comigo o processo é simples: se estão curtas, renda ou marítima; se estão longas, vermelho ou café. E pronto.
Pois hoje eu inventei de inovar (isso nunca dá certo pra mim, e eu já devia saber). Nem a manicure acreditou quando eu resolvi olhar a bandeijinha de esmaltes. Decidi por um tal de Arábia. (Não, não foi só o nome que me impressionou - eu tinha visto alguém usando essa cor e achei bonita.) Pois taí no que dá inovar: tô aqui com umas unhas cinzentas hor-ro-ro-sas. É nisso que dá ficar no salão lendo Saussure ao invés da Caras! É nisso que dá!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Não troco jamais!

40 graus na sombra. Vento, nem em sonho. Não tem cinema 3D. Falta opção de lazer e cultura. Pra criança, então, é um exercício de criatividade descolar coisas legais pra fazer. Eu sei que tudo isso é verdade sobre Teresina, mas é minha cidade e eu amo morar nela, com todos os problemas que ainda apresenta.


Minha relação com Teresina é simples: amo a cidade e não penso nunca em morar em outro lugar, pelo menos de maneira fixa. Se pudesse, todo ano saía, passava um ou dois meses fora, e voltava de novo pra cá, onde eu de fato pertenço e onde me sinto acolhida.


Na verdade não sou teresinense. Nasci em Porto Alegre por uma circunstância da vida dos meus pais, mas voltei pra cá (porque ainda fui fabricada aqui) antes dos dois anos de idade. Nos trinta e um anos que se seguiram, morei ou passei períodos curtos em cidades diferentes, mas sempre sabendo que era pra cá que eu queria voltar.


Aqui tive quase toda a minha educação formal - da pré-escola até o mestrado, que ainda está em curso. Aqui dei meu primeiro beijo, tive meu primeiro amor e alguns dos outros amores que vieram depois. Aqui tenho amigos que me conhecem desde criança, e que valem mais que qualquer outra amizade que eu tenha feito depois. Aqui pari meus três filhos, e tento ensiná-los esse amor por Teresina, pelo que é nosso. Aqui também tenho uma família enorme, linda, acolhedora e festeira.


Confesso que nem sempre gostei de Teresina assim. Na adolescência, queria "vazar" daqui o mais rápido que pudesse pra o lugar mais longe que meus pés pudessem me levar. Rebeldia típica da idade: eu não gostava era de mim, e por isso queria ficar longe dos pais, da família, das origens. Quando morava em Brasília (cidade onde eu amei morar), contava os dias para as férias: Teresina era o lugar onde todos se encontravam, e podiam conversar sobre a nova vida que cada um levava longe dos pais, em novas cidades, nas faculdades pelo Brasil afora. Mas não durou muito e voltei, achando que ia odiar ter que voltar a morar aqui. Que nada! Teresina me acolheu de novo como filha, e assim tem sido ao longo dos anos, quando saio e volto, só pra ter certeza de que aqui sou mais feliz que em qualquer lugar.


Então hoje, no aniversário de 158 anos da minha cidade, eu só desejo que esses probleminhas que ainda temos sejam aos poucos resolvidos (o calor não será jamais, mas paciência...). Ah! E desejo também, do fundo do meu coração, que parem de fazer rimas cachorrras com o nome da cidade, especialmente a famigerada Teresina/menina, até porque aos 158 anos a cidade já deixou de ser menina faz tempo, hein?

sábado, 14 de agosto de 2010

Porra, Nina Lemos!

Eu já ia até dormir. Eu juro que ia. Mas daí fui dar a voltinha habitual em uns bloguinhos. E achei mais um texto da Nina Lemos que eu queria ter escrito. Vai pensar como eu assim lá na caixa-prego, tá, mocinha?



Pequenos conselhos para jovens amigos

É assim que a banda toca. Há que ter carinho e delicadeza e cuidado. Sempre. As amigas a gente pega em casa. Ou deixa que elas nos peguem. Nunca se larga uma moça na roubada na noite. Nunca. Por mais bêbados que eles estejam, os amigos a colocam dentro de um taxi e ainda dizem para o taxista: cuida bem dela que essa menina vale ouro. Nós, garotas, passamos de táxi e ligamos do caminho e dizemos para as amigas: "pode descer". E fazemos o mesmos com os nossos amigos homens.
Aprendam, garotos, aprendam. Cuidado, carinho, respeito. Aprendam. Não sei se é da época de vocês, mas nunca se esqueçam dos Saltimbancos, que não, não são os Trapalhões, como você, menino, acha. É CHICO BUARQUE. Decorem o mantra: "todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco.. ao meu lado há um amigo que é preciso proteger". Aprendam. Faça a coisa certa. Ou meio certa que seja. Mas não deixem as meninas "se virando" depois que vocês já resolveram entre homens todo um esquema. Não é assim. E meninas, exijam, sim, carinho, delicadeza, cuidado. De todos. Sempre. É o que todo mundo merece. E a gente que vive no mundo Saltimbancos acha que é assim, sempre, com qualquer um. Mas não. Nem sempre é. Se não te tratarem com cuidado, querida, não se submeta. Explique. Diga que assim não. E isso é quase uma questão política. Mas é assim que a banda toca, meu tão jovem amigo. É assim que a banda toca. (Por Nina Lemos)

P.S: Não, ninguém me destratou ou me tratou com pouco cuidado. É só que ontem eu parecia ser a única preocupada em saber como a amiga tri-bêbada chegou em casa (teria chegado mesmo?). E mais, ainda me chateei comigo mesma por ter, de novo, estragado meu humor resgatando uma outra pessoa que está sempre em apuros. E creditei isso a exagero e super proteção da minha parte. É não, Nina Lemos. Você tem toda a razão. E exigir cuidado dos amigos é, sim, uma questão política. (Ai, que engraçado ser mulherzinha e assumir que não me basto!)

Paleta

O dia começou branco - é assim que começam os sábados, esperando para serem preenchidos. Supermercado com as crianças, contas a pagar, almoço na casa da mãe, preparações para a feira de ciências do filho.
Depois do almoço, o dia já era verde. Telefonemas, mensagens - o que fazer à noite, pra onde ir, etc e tal, mais tarde combinamos, pra praça não vou hoje de novo nem a pau, vamos fazer um brownie mais tarde, depois da aula eu penso, por que não comer caranguejo?
Na Wizard, o dia é sempre azul. Aulinha tranquila, alunos atentos. Hora de ir embora e quando saí do shopping já era noite e eu nem tinha percebido.
Na indecisão sobre aonde ir, acabei decidindo ficar em casa e fazer a faxina no escritório que há dias prometo. Mas foi só começar que tudo ficou vermelho. Antonio e Zé que brincavam lá embaixo subiram chorando. De longe ouvi o choro alto e escandaloso do Zé, com o Antonio como backing vocal. "Terão brigado?", pensei. Nos braços da Ana, Antonio vinha tingido de vermelho, com o sangue escorrendo da testa. Zé seguia branco atrás e chorava muito mais que o irmão menor.
Acalmar o Zé era claramente a primeira medida a ser tomada: "mãe, eu derrubei o Tontom e o célebro dele tá saindo pela testa". E Antonio, assustado e sentindo dor, ainda dizia, no meio do choro: "Foi sem querer, Zé, eu sei que foi."
Boto Antonio embaixo do chuveiro. O sangue era tanto que pensei que nunca iria parar. Depois, correr pro Prontomed e me orgulhar mais uma vez da coragem do meu Guerreiro, que não chorou nem meia vez enquanto levava três pontinhos na testa.
Uma cicatriz com certeza vai ficar, como um terceiro olho (ou um segundo, no caso dele?). Mas vai ficar também como uma marca desse amor tão lindo dos dois: o sangue que escorria da testa do Antonio deixava pálido era o Zé.
E o dia terminou foi cor-de-rosa, que deve mesmo ser a cor do amor.

Pena

a juíza das minhas loucuras
é severa demais pra me inocentar
não cobra depoimentos
nem sopra os ferimentos da tortura
simplesmente decreta pra minha culpa
prisão domiciliar

Martha Medeiros

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Da cor do pecado

Nesse momento Ney Matogrosso se apresenta no Atlantic City e eu não estou lá. (Acompanhar as informações do show pelo twitter é um exercício de masoquismo). Mas não tinha mesmo como ir: tem uma gripe que me amoleceu o corpo e transformou meu nariz numa bola vermelha que não para de coçar e espirrar. (Sou dessas pessoas que nunca pega uma gripe, mas que quando pega, se acaba!) Além de tudo amanhã meu dia será longo, então nada de Ney pra mim hoje.
Pra me consolar, meu amigo me disse que esse show que ele apresenta hoje em Teresina é um pouco devagar demais e que eu não ia gostar. Ora, queridinho, gosto do Ney até cantando "A dança do quadrado"! (Eita, que agora eu gargalhei sozinha imaginando Ney Matogroso cantando e dançando "ado-a-ado, cada um no seu quadrado" com a cara pintada do tempo dos Secos & Molhados!)
Então fica um vídeo mal filmado do Ney cantando uma das minhas músicas preferidas (e que ele certamente não vai cantar no show de hoje!)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ó aí, povo feio!


Vinícius de Moraes estava errado, pelo menos em parte. A feiúra pode, sim, ser fundamental.

Só porque eu não podia deixar passar...

Zé Luiz me pergunta:

- Mãe, por que Deus fez a gente assim?
- Hein? Assim como?
- Com braços, pernas, barriga...
(Conto até dez pra ter paciência.)
- Acho que ele fez os braços pra você abraçar a mamãe, e as pernas pra gente caminhar, e etc e tal.
- Mas por que a nossa cara não fica na barriga, a batata da perna no braço, e o suvaco no pescoço?

Meu Deus, meu filho de 6 anos deve estar usando drogas pesadíssimas!

domingo, 8 de agosto de 2010

Dia do meu pai


A rede do meu pai não é uma só: ao longo da minha vida lembro dele deitado sempre na mesma posição, em redes de cores diferentes, e quase sempre com a varanda de croché rasgada porque ele tem mania de colocar dois dedos dentro do croché e puxar. Caboco do interior do Piauí, nunca se acostumou com cama, e tem um jeito todo dele de deitar na rede: sempre por cima de um braço, e usando o outro pra balançar a rede. Tem uma sensação de tranquilidade que me dá ouvir o barulho da rede balançando, o ranger dos armadores: "o papai tá em casa".
Dentro da rede, uns três lençóis, embora ele não goste de se cobrir. E tem sempre um lençol fininho que ele coloca no rosto na hora de dormir. O cheiro desse lençol é o cheiro do meu pai: nicotina, suor, sei lá. É um cheiro que só ele tem. Quando eu era criança e ele tava viajando, eu matava a saudade dormindo na rede dele e colocava o lençol na cara pra dormir embalada por seu cheiro. Até hoje tenho o hábito quase automático de cheirar o lençol dele quando chego em sua casa.
Era embaixo da rede que eu gostava de deitar pra fazer tarefa da escola, quando era criança. O chão frio do quarto, meus livros e cadernos, e volta e meia eu pedia que ele me ajudasse em alguma questão. Quando eu já era adolescente, ele gostava de me falar sobre história, os conflitos entre judeus e palestinos, a ditadura militar brasileira - sempre deitado na rede, enquanto eu escutava e pensava que ele era tão egoísta de não dividir mais disso com a gente.
Ele nem sabe que o verme do jornalismo nasceu em mim por conta dele. Primeiro, porque ele gostava de ler o que eu escrevia, e me incentivava a escrever sempre. Segundo, por conta de uma greve das universidades federais nos anos 80. Dia após dia, eu o via deitado na rede assistindo ao Jornal Nacional, e se irritando a cada dia mais porque Cid Moreira e Sérgio Chapelin não davam a notícia da greve. Vendo sua revolta, eu, que devia ter uns 6 ou 7 anos, perguntei porque importava que a greve fosse noticiada. "Porque se as pessoas não sabem é como se não estivesse acontecendo, ora!" (Olha o Habermas e a esfera pública aí, minha gente!) Pronto: daí resolvi que eu queria decidir o que as pessoas precisam saber, e acabei sendo jornalista. (Pra imenso desgosto dele que insiste que minha natureza brigona seria uma grande vantagem numa advogada ou que meu idealismo seria útil numa carreira política).
Meu pai nunca foi um pai Gelol, que gostava de participar. Nem lembro se alguma vez brincamos juntos. Mas a rede dele pra mim é até hoje minha rede de proteção - nunca caí sem que ele tivesse embaixo pra aparar. Nos momentos em que o mundo ficou grande demais, difícil demais, doído demais, ele tinha uma ou duas de suas econômicas palavras pra dizer. E talvez por falar tão pouco, suas palavras têm sempre esse peso de verdade absoluta. E seu amor por mim me convence de que eu mereço as coisas com as quais eu sonho, porque ele tem absoluta certeza do que eu mereço, mesmo quando eu não tenho.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

É o melhor para poder crescer

Hoje teve um negócio engraçado: festa surpresa que eu soube antes da surpresa, e que ainda tive que fingir que era surpresa. Coisa de Mesquita - elas simplesmente não admitem aniversário sem comemoração, mesmo que você argumente que comemorou no ônibus, com amigos, com colegas, com vinho. Não, não serve. Aniversário tem que ter festa, primos, tias, cerveja, vinho e muita comida: Mesquita style. (Se alguém aí já assistiu ao filme Casamento Grego sabe do que tô falando. Aquela é minha família, com a diferença de que a gente não cospe na noiva a caminho do altar). E eu acho é bom fazer parte de um núcleo assim tão festeiro.
E hoje o cardápio foi invenção da mamãe: arroz com pato, uma iguaria que ela descobriu em Portugal e que logo sacou que eu iria adorar (amo pato!). Isso também é muuuito Mesquita: comer algo e pensar logo que alguém ia gostar de provar. Quando nos reunimos pra falar de alguma viagem, o que todos querem saber foi o que comemos, o que tinha de diferente no cardápio, o que vamos compartilhar quando chegar. As fotos do lugar lindo, as histórias das pessoas que conhecemos ficam sempre em segundo plano. O que vale mesmo é o que comemos.
E eu venho de quase uma semana de orgia gastronômica em Belém: pato no tucupi, filhote no tucupi, tacacá, peixe com açai no mercado, maniçoba, caruru, tudo o que eu tinha direito.
Lembrei agora que outro dia li uma matéria na Veja sobre a biografia do Gilberto Freyre. Entre outras coisas, ele afirmava que não botava fé em mulher que não se interessasse por culinária. Instintivamente, penso assim também: quem não se interessa por comida e, principalmente, quem não gosta de comer, não deve entender porra nenhuma de sexo. Acho que são dois prazeres ligados. Tenho uma agonia desse povo que vive de engolir pilulazinha, que pula refeição, que tá sempre somando pontos antes de comer... Deve ser o tipo de gente que na hora de transar conta os minutos pro orgasmo, e logo em seguida corre pra tomar banho e se sentir "limpo" de novo. Eca! Sei não, mas pra mim cama e comida estão sempre muito próximas. Por isso mesmo, não consigo pensar em algo mais sexy do que um homem cozinhando, cortando tempero, o cheiro de alho dourando no azeite, a bagunça na pia. Imagina um jantar que começa com duas pílulas azuis, e termina com sobremesa de pílulas grená? O que pode ainda haver de sensual num encontro assim?
Vixi, que agora eu vou mesmo é dormir, entupida de pato com arroz e vinho tinto. E viva a gula!

Normal é isso

Tá bom, vai aí o resumo ultra resumido de Belém: foi Ó-TE-MO! (prometo pra mais tarde um post de vergonha sobre a ABA, sobre a cidade, sobre os passeios, etc e tal). Agora de volta pra casa e pra vidinha "normal": hoje, dar aula; amanhã, dar aula; segunda-feira, voltar a assistir aula e a dar aula na UFPI. Enfim... aulas, aulas e mais aulas. Só pra esse boteco não ficar tão mudo, deixo aí um Leminski dos meus preferidos pra vocês:


rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Dicionário

Saudade é sentir falta de alguém. Banzo é quando a gente sente falta de uma situação, época, contexto. Foi assim que eu aprendi outro dia. Sei se é isso mesmo não. Mas acho que hoje tô com banzo. Seria overdose de tucupi?