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domingo, 18 de abril de 2010

OUT

Não, meu coração não é maior que o mundo
É muito menor
Nele não cabem nem as minhas dores
Por isso gosto tanto de me contar
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
(Drummond)

Eu preciso me gritar, preciso falar, preciso escrever, preciso expressar. Porque aqui dentro tá ficando apertado, e essa dor no estômago que eu sinto deve ser mesmo de tanta coisa que quer sair e eu não consigo dar vazão. Preciso me vomitar, me arrotar, me parir.
Preciso me contar, me dizer, me falar, esclarecer, clarissasser, ser-clarissa e deixar ser.
Preciso desesperadamente verbalizar, me mostrar, com palavras, com gestos, com aquelas músicas que eu canto bem alto enquanto dirijo e que tento pronunciar cada sílaba de cada palavra pra ver se assim eu consigo fazer com que tudo isso saia.
Porque tem uma população de sentimentos aqui, enlouquecendo dentro de mim, se reproduzindo, aumentando, brigando entre si. E haja Campari matador para diluí-los, e haja Carlton para evaporá-los, e haja dança para exorcizá-los, e haja ouvidos amigos para escutá-los.
Porque eu quero gritar muito e alto e sempre que eu continuo acreditando em um monte de coisa. E porque ontem eu cantei o mais alto que pude, tanto que estou sem voz, "all u need is love/love is all u need", porque eu tenho uma fé tão grande no amor que ainda tem quem tire onda de mim e me chame de menininnha romântica. (E eu sou mesmo, e daí, qual o problema? Mas também sei dizer palavrão cabeludo se precisar.)
E eu lembrei que houve uma época em que eu não gostava de Beatles, mas que tudo mudou, não porque os meninos de Liverpool mudaram, mas porque eu mudei - e daí eu cantei bem alto, o mais alto que pude "strawberry fields forever" que era pra eu lembrar que nem só strawberry fields são para sempre. E pra eu lembrar sempre e muito e toda hora e sentir em cada célula que eu acredito em para sempre, por mais "para sempres" que virem "para nunca" na minha vida.
E porque a cada passo da dança eu sei que eu estou mais perto um pouco de tirar tudo isso de dentro de mim, e que o que eu vou encontrar no final vai ser eu mesma, de novo, igualzinha, inteira, depurada, em minha essência.

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