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domingo, 25 de abril de 2010

Sobre a timidez

Quem me conhece, e até quem mal me vê, sabe que de tímida não tenho nada. Falo muito, alto e com o corpo todo. Gesticulo, me balanço, faço caras e boca. Provavelmente por isso, tenho um problema enorme com pessoas tímidas, que parecem não saber dizer a que vieram. Fico querendo adivinhar seus pensamentos, boto frases em suas bocas, dou opções do tipo a, b, c, d, N.R.A. pra ver se facilita, mas não consigo ficar muito tempo perto de alguém que não se mostra, e canso de tentar descobrir os códigos (o português já é tão difícil às vezes!).
Mas tem uma timidez que às vezes presencio e que mais raramente sinto, e da qual gosto muito. E na verdade adorei nas poucas vezes em que aconteceu comigo: a timidez de não saber se portar na frente de uma pessoa específica, ou de uma situação específica com uma pessoa.
Que coisa boa esse desconcerto!
Lembro de um convite, de um jantar, e de uns olhos verdes que mal abriam e mal conseguiam me encarar. Lembro de uma pele branca, que mostrava as veias, que de repente ficou vermelho-sangue. "I'm sorry I'm blushing" , ele disse. E lembro de ter sentido o rosto esquentar também. E lembro de ter ouvido pela primeira vez que pessoas morenas também ficam coradas. Lembro também de uma falta de ar e da delícia de se descobrir descoberta!
Mas lembranças tenho muitas. Lembro de um medo absurdo de não bastar, de não ser o suficiente, e de uma fisgada na boca do estômago que eu só sentia quando era adolescente. Lembro de uma insegurança que eu nem sabia mais existir, de um total desamparo que só parecia poder cessar com a firmeza da mão que segurava a minha. Lembro de andar como o Robocop olhando sempre pra frente e contando as lajotas no chão, pra ter com o que ocupar a mente.
Não, não existe nada mais lindo do que a timidez de se descobrir de alma nua na frente de alguém.

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