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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Houve uma época em que as crônicas esportivas eram assim

Sermão da Planície (para não ser escutado)


Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.

Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se expõem ao risco de assistir às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte.

Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de bálsamos, ou nem isto.

Bem-aventurados os que não escalam, pois não terão suas mãos agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao saírem do estádio.

Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam de vaias, projéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.

Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura.

Bem-aventurados os fotógrafos que trocaram a documentação do esporte pela dos desfiles de modas, pois não precisam gastar tempo infindável para fotografar o relâmpago de um gol.

Bem-aventurados os fabricantes de bolas e chuteiras, que não recebem as primeiras na cara e segundas na virilha, como os atletas e os assistentes ocasionais das peladas.

Bem-aventurados os que não conseguiram comprar televisão a cores a tempo de acompanhar a Copa do Mundo, pois, assistindo pelo aparelho do vizinho, sofrem sem pagar 20 prestações pelo sofrimento.

Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondo das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.

Bem-aventurados os que não moram em ruas de torcida institucionalizada, ou em suas imediações, pois só recolhem 50% do barulho preparatório ou comemorativo.

Bem-aventurados os cegos, pois lhes é poupado torturar-se com o espetáculo direto ou televisionado da marcação errada, que paralisa os campeões, ou do lance imprevisível, que lhes destrói a invencibilidade.

Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de 1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como pela vitória do time bem-amado.

Bem-aventurados os que, entre a bola e botão, se contentaram com este, principalmente em camisa, pois se consolam mais facilmente de perder o botão da roupa do que o bicho da vitória.

Bem-aventurados os que, na hora da partida internacional, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois destes é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que não confundem a derrota do time da Lapônia pelo time da Terra do Fogo com a vitória nacional da Terra do Fogo sobre a Lapônia, pois a estes não visita o sentimento de guerra.

Bem aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.

(Carlos Drummond de Andrade)

A Copa nossa de cada dia

Não me entendam mal: não é que eu queira que o Brasil perca a Copa. Mas esse negócio de jogo mexendo com meu horário já tá me dando nos nervos. Tipo assim: eu já tive que remarcar prova, desmarcar aula, re-organizar minhas coisas simplesmente porque vinte e dois marmanjos resolveram correr atrás de uma bola (Jabulani é o nome dela!).
Não desmereço as intensas emoções que 99% dos brasileiros parecem sentir quando o Brasil entra em campo. Confesso que sinto até certa inveja de quem se empolga assim. Sempre invejei aquela paixão das pessoas que torcem e vibram por seus times, campeonato após campeonato. Imagina a cegueira que é ser torcedor de um time e vê-lo o ano todo lascado e ainda assim bater com orgulho no peito e se declarar Atleticano/Flamenguista/Botafoguense ou qualquer coisa que o valha?
Mas eu não consigo me empolgar. E ponto. Gosto da folia, da galera reunida, da cerveja gelada, e até grito GOOOOOL quando todo mundo grita. E se for pra xingar argentino até xingo também, mas só porque é argentino (desculpa, anjo Ariel, la pequeña sirena).
Nessa copa tô gostando do povo gritando "vai, Kaká, vai, marca!". Por alguns milésimos de segundo penso que é comigo. Mas depois me toco que aquele Kaká é com K, e que pouco me interessa pra onde mesmo ele vai.
O fato é que hoje apostei no bolão que o Brasil perdia. Só pra ver se assim eu não tinha que desmarcar minhas aulas de sexta (que seriam encerramento de disciplina). Sem contar com o encerramento de uma disciplina do mestrado que seria na sexta de manhã e que agora não faço a mínima idéia de quando será. Mais do que uma vitória do Brasil, tô precisando mesmo é de férias, mas a Copa não deixa.

domingo, 27 de junho de 2010

Pra me sentir abraçada no domingo

- Piscina com filhotes
- A cama macia e o carinho incondicional da Maria
- Visita à casa-muito-engraçada que agora até já parece mesmo uma casa
- Crepe do Café Café
- O planejamento do mal com Cafas
- Dustin Hoffman e seu desconcerto em The Graduate
- E um restinho de Bauman pra dormir sem peso
- NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: a descoberta de que o nome da bola da copa é Jabulani (sim, já tá pra terminar a copa e só agora eu descobri!) Preciso urgentemente nomear alguma coisa de Jabulani.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Personal auto-estima elevator Tabajara

Em um dia bom, eu ficaria feliz com as palavras do Marcos Rezende. Depois da reunião com minha orientadora hoje à tarde, eu quero elevá-lo à categoria de meu levantador-de-auto-estima preferido. Porque eu saí do CCHL pensando o que diabo mesmo eu tô fazendo da vida, onde foi que me meti, por que é que não me aquieto e etc. E quando abri meu e-mail ele tinha me mandado o artigo que publicou no O Dia em 07.06, e que eu não tinha lido. Fica aí só um pedacinho, só pra massagear meu combalido ego. E aqui do lado da mesa, o artigo já tá no mural, inteirinho. Obrigada, Marquito. E continue segurando minha vaga, porque, nesse ritmo, daqui a mil anos eu consigo!

Mas vamos deixar as coisas feias de lado e voltar a falar nas coisas lindas. O Salão do Livro Piauiense é uma dessas coisas que nos deixam certos que nem só de medíocres e suas mediocridades vive o Piauí. Nós temos pessoas que lêem, pessoas que escrevem e que pensam para frente, enfim, nós temos muita gente inteligente e que usa essa faculdade para fazer o bem. O Piauí das coisas lindas é o Piauí do Paulo Nunes, do H. Dobal, do Paulo José Cunha, do Zózimo Tavares, do Miguel Moura, é o Piauí de muitos outros belos piauienses que nos enchem de orgulho. Nós temos coisas lindas como o livro que a lindíssima Clarissa Carvalho escreveu a quatro mãos e duas cabeças maravilhosas com a Elizângela Carvalho, um livro que fala da Mulher, Mãe e Moderna, de mulheres como elas mesmas que vão à luta sem perder a beleza e a ternura.

E ainda bem que ele não falou em perder a paciência ou a esperança, que essas eu já perdi faz tempo! Ô, diazinho nojento esse!

Pastelzinho

Esse é o nome de um dos meus blogs preferidos. Leitura obrigatória todos os dias, antes mesmo dos portais de notícia. E de tudo o que o Maurilo escreve, o que eu mais gosto são as histórias da Sophia, que eu sonho em ter como nora um dia.
E essa foi a que eu achei mais legal - meninazinha decidida essa!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ócio criativo

Não gosto dessa expressão que anda tão em moda ultimamente. Nem sei exatamente o que significa, porque pra mim ócio é não fazer porra nenhuma e criar é fazer um monte de coisa. Mas tudo bem, deve mesmo haver alguém que consiga criar enquanto descansa. E minha professora concorda com isso, tanto que amanhã teremos o dia do ócio criativo, quando cada um fará em sala o que gosta de fazer quando não tem nada pra fazer. E vai ver eu não entendo nada disso porque até meu ócio é tenso.
Não devia ser difícil me preparar pra uma aula assim. Mas eu tenho dois problemas: primeiro, não lembro quando foi a última vez em que não tive nada pra fazer; segundo: as coisas que eu gosto de fazer nem sempre podem ser feitas em sala de aula. Mas resolvi separar algumas pra amanhã.
Vou levar um saco de dormir e tentar tirar uma soneca como se estivesse em algum dos muitos encontros de estudante a que fui. Certamente não vou conseguir, já que nem em casa durmo bem, mas pelo menos vou me esparramar.
Gosto também de escrever, de preferência sem obrigação. Como não terei internet à minha disposição, vai o querido e surrado diário mesmo.
E a parte mais difícil: o que levar pra ler e compartilhar com a turma. Vasculhei a estante, abri uns vinte livros, mas nada me parecia adequado pra ler em sala. Tem livro que é pra ler sozinho, tem livro que é pra ser em voz alta. Tem livro que é pra ler sozinho e ficar enchendo o saco de quem tá ao lado lendo só uns pedacinhos em voz alta. E qual mesmo eu levo pra sala?
Acabei esscolhendo o Coisas de amor largadas na noite do André Gonçalves. Pra quem não sabe, ele é escritor, publicitário, fotógrafo e blogueiro que se tornou piauiense. Sigo o blog dele há anos, sigo ele no twitter desde o meu primeiro dia por lá. Adoro tudo o que ele escreve, em 140 ou um milhão de carateres. Comprei seu livro em 2008, quando foi lançado, mas não sei onde foi parar - vai ver com as coisas de amor que andei largando mundo afora. Mas semana passada me dei outro exemplar de presente e de vez em quando puxo uma das fichas pra arejar meu dia. (Sim, o livro é em fichas e o design, da Josélia Neves). E fica aí um pedacinho do Coisas, uma coisinha de nada mas que, como tudo o que ele escreve, é tanto.
Carne de sol
pendura o coração ao sol, menina
que é de luz que se alimenta
esse músculo que estica e rasga e se arrebenta
sangra, arde, dói, mas não aguenta
bater sem cor, sem lágrima,
sem céu, sem nuvem, sem vento
levanta o olhar e vê
e, quando você menos perceber,
tum tum tum tum tum tum tum
ele vive.

Começando a semana

Nem é novidade: adoro as segundas-feiras. Não sei se porque elas significam que o chato do domingo acabou, ou se porque afinal vou voltar a uma rotina que, mesmo sendo rotina e portanto chata, estrutura a loucura THDA da minha cabeça. O fato é que as segundas-feiras me trazem alegria e me devolvem à normalidade de que eu tanto gosto.
Agora imagine uma segunda que começa com um pneu furado, como a de hoje. E imagine que você só percebe que o pneu tá furado quando já tá quase na universidade. E imagine ainda que você não sabe nem onde fica o estepe do seu carro, e nem tá a fim de descobrir.
Agora imagine que depois de resolver o problema do pneu e de assistir aula, você chega em casa às 12:30h, e seu filho chega em casa às 13h e informa que tem que fazer um trabalho na casa do amigo às 14h. Isso não seria problema se você não tivesse que estar dando aula às 14h. E claro que a casa do amigo fica na Macaúba enquanto a UFPI fica na Ininga. E claro que você vai deixar o moleque na casa do amigo - pra que é que as mãetoristas existem mesmo? E já atrasada pra aula de 14h recebe uma ligação lembrando sobre a assembléia departamental que você nem sabia que aconteceria. Mais alguns percalços até chegar a noite, finalização de disciplinas, documentos que somem e ninguém acha.
Pois é. Essa deveria ter sido uma segunda-feira cachorra. Mas qualquer dia da semana que termina com um filme maravilhoso, pizza nem tão gostosa e companhia mais que deliciosa, não podia ser nada menos que excelente. Boa semana pra gente.

sábado, 19 de junho de 2010

You gotta it!

Veja bem: você desapareceu há semanas, como eu temia, e nem sequer me informou que a tua vida tava voltando a outro lugar. Sim, parece conversa de mulher largada - e de certa forma até é. Não no sentido barato da mulezinha que foi deixada pelo macho, mas da amiga que se vê privada do chão mais firme que ela jamais pisou. Hoje, principalmente, teu silêncio fez o mesmo som do buraco negro, o som do nada, do vazio... Eu tinha coisas pra te contar, coisinhas nossas, coisinhas bobas, coisinhas que eu gosto de contar pra você - e só pra você. Ver tua reação aos fatos às vezes é melhor que os fatos em si. Fazer piada de nós mesmos com você faz cosquinhas na minha alma.
E saber que todos os menáge foram convocados para uma reunião extraordinária, e euzinha não fui... Raiva, raiva, raiva! Que dia mesmo eu passei a não importar assim? Faz 20 anos que tá tudo assim do jeito que sempre foi e deveria ser, mesmo com as pequenas adaptações e mudanças que nossas vidas - reconheço que mais a minha - exigiram. Mas hoje eu senti indiferença que não deveria vir de você. E me chateei mesmo.
E não foi outro dia - há duas semanas, talvez - que eu me vi sozinha no meio de um monte de gente conhecida e procurei em volta e você tinha sumido? E eu fiquei mais um pouco, e me senti uma E.T. no meio daquelas pessoas que eu conheço mas que naquela hora me pareciam tão esquisitas. E a banda tocava uma música que eu não entendia. E alguém conversava sobre a diferença entre Soda Limonada e Sprite. E eu comecei a achar que não devia estar ali. E caminhei pra casa. Foram uns três ou quatro quarteirões caminhados absolutamente sem chão. E um medo que eu criei na hora - medo de ser assaltada, de ser abordada por um estranho, de não conseguir chegar em casa. E quando eu tava chegando você me apareceu e eu caí num choro antigo, igual àquele do dia em que me perdi do papai no Mercado Velho e pensei que tinha sido deixada ali no meio das banquinhas pra ser vendida pra qualquer um que pagasse. E pra quem andou chorando tanto como eu, aquele choro foi com certeza o top dos últimos meses: vinha lá de dentro de um buraco negro, do medo de que uma das certezas mais sólidas do mundo estivesse ruindo. E também um choro de alívio por saber que ainda tinha onde encostar meu medo. E de você ouvi um pedido seincero de desculpas e a constatação de que não, eu não sou um robô, e que bom que perto de você eu podia ser essa menina indefesa, aquela mesma que eu vinha insistindo em sufocar há tanto tempo. Todo mundo merece um lugar pra ser pequeno - você é o meu. E eu gosto de me ver pela tua ótica. No teu abraço farto eu me sinto o mais próximo possível do conceito de "menina com uma flor" do Vinícius. E claro que você não podia deixar de mencionar que eu adoro ser salva pelo príncipe no cavalo branco e que eu sou uma feminista de merda. Mas a verdade - e você sabe - é que eu prefiro matar todos os dragões sozinha. E que eu ainda estou aprendendo a viver com a incoerência de querer ser levada pelo braço de vez em quando. E que não, isso não me faz menos mulher, menos forte, menos adulta. Talvez eu esteja me acostumando com o fato de que eu sou humana e que, portanto, tenho direito à incoerência. E só.
"A gente nunca esteve tão perto", você me disse outro dia. Verdade. Por rotas diferentes e às vezes distantes uma da outra, chegamos a um ponto em que ficamos o mais próximo que amigos podem ficar - o ponto da comunicação sem palavras, das piadas internas, e do conforto de travesseiro de pluma. O ponto de não-mutação, eu diria. O ponto em que tudo, tudo, tudo pode virar de cabeça pra baixo e a gente ainda seria a gente, entende?

Ninguém nunca vai me convencer de que o amor entre amigos não é o mais bonito do mundo. E alguém me pergunta: e o amor pelos filhos? Esse é de cima pra baixo, não espera nada em troca, se alimenta só dele mesmo. É um amor que dói às vezes, por ser tanto. O amor entre amigos é diferente: é troca, é construção de um código em comum, é conforto, é o amor da não cobrança. (Paradoxo: eu aqui querendo cobrar presença, né? Ai, humanas incoerências...)

Pois é, amigo. O politicamente correto seria dizer que eu quero te ver feliz. E na verdade eu quero. Mesmo. Mas sou egoísta o suficiente pra dizer que não quero ficar de fora disso, e que pra mim não só a dor, mas também a felicidade só presta compartilhada.

(E agora que você terminou de ler, já pode me mandar uma mensagem dizendo: "menininha, menininha, menininha!" Dessa vez não vou me irritar, não, viu?)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Então tá, Leminski

sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos a fora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa

domingo, 13 de junho de 2010

Carnival

Cansei! Bunda quadrada de passar o dia sentada estudando. Já deu. Tentando manter a tradição, musiquenha pra finalizar o domingão. Cardigans foi a trilha escolhida pro domingo de leitura. E pra cá, escolhi o clipe de Carnival, música que fez com que eu me apaixonasse pela banda, no ano de 96 do século passado (lembra, Renata, da gente andando pela W3 no seu fusquinha, ouvindo essa música a toda altura? "I will never know cause you never show. Come on and love me now. Come on and love now")
E que a semana comece boa pra todos nós: com muito trabalho, muito estudo, mas um pouquinho de farra que ninguém é de ferro. E que a segunda-feira chegue logo pra gente ligar a chave da normalidade de novo.

Tomodachis

Domingo é um dia enfadonho e improdutivo. Mas pra mim esse domingo tem que render - por isso estudo desde as 7 da matina. Resolvi tirar um recreio pelo facebook e encontrei uma surpresa deliciosa vinda diretamente de Nagoya, Japão. Meus amigos queridos Eulália e Rodrigo postaram um vídeo que lembra a gente, nossas farrinhas e brincadeiras. E falaram da vontade de estar na Taboca do Pau Ferrado tomando cerveja e conversando miolo de pote. Eita, que saudade boa não existe, não. Deu vontade de pegar o telefone e ligar pra eles (ainda lembro teu celular de cor, amiga) e chamar pro almoço de domingo no Malagueta, com as crianças subindo e descendo nos brinquedos e a gente com um olho na comida e outro neles.

Mas saudade mesmo deu daquele vinho que tomamos no frio, quando eu só sabia chorar e pensar que tudo no mundo tava errado. E eu via tudo tão ao contrário, mas tão ao contrário, que resolvi correr pro lugar mais distante que pude, onde tudo gira pro outro lado, pra achar a lógica de tudo. E achei. E vocês tavam lá, se admirando com minhas descobertas óbvias. Todo mundo sabe: a vida não acaba porque a gente tá sofrendo. O sol não deixa de nascer, as obrigações não cessam de se impôr à nossa frente, e os prazeres - que parecem tão distantes - acabam se mostrando de novo. A verdade de que a gente nasceu pra felicidade se mostra de um jeito ou de outro. Mas imersa em dor e culpa eu não via nada. E com vocês por perto eu voltei a sorrir de mim, e a fazer piada. E quando pensei que não, já tava respirando de novo, e perdendo aquela cor azulada que eu tinha adquirido. E quando percebi, já tava vendo beleza em pequenos gestos e em palavras bonitas colocadas com delicadeza sobre o travesseiro.

Esses dias me peguei pensando no Japão com saudades, e tive vontade de falar pra vocês. Como sabem, saí daí meio enfadada de tudo, embora curada. Osaka foi pra mim uma clínica de reabilitação: tratamento radical do vício de ser tão eu. E como toda rehab me deixou cansada. Mas eu tinha que descobrir como ser eu mesma de novo aqui desse lado do mundo. E o que não faltou foi medo de não conseguir. Era como estar num corpo novo que não me obedecia como o anterior, com o qual eu já estava tão acostumada. E sabem o que eu queria dizer pra vocês? Que a minha alma já se acomodou direitinho nesse novo corpo: cada cantinho já foi preenchido por mim e todos os meus movimentos agora são voluntários. Aqueles espasmos esquisitos, os impulsos sem explicação, a voz que falava e não era minha... tudo isso passou. E eu queria vocês aqui comigo pra testemunhar isso. Se saudade não for isso, sei mais o que é, não. Dava hoje o que tenho e o que não tenho por um churrasco com vocês na Taboca do Pau Ferrado.

P.S.: Diana rules!!!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

É merchandising mesmo, minha gente!


Sugestãozinha para o Dia dos Namorados: livro M³ - mulher, mãe, moderna. Serve não só pra mulher, mas também pra homem, viu? Não trata só de conversa de mulherzinha, nem só de conversa de mãe. Serve pra quem tem filho e pra quem não tem também. Serve pra quem é moderno e pra quem não é. Pode dar pro namorado(a), ficante, peguete, cacho, ou sei lá que outras denominações vocês andam inventando por aí. Serve pro brucutu e pro descolado. E, bem, se é pra apelar, serve pra ajudar duas jornalistas/autoras que pretendem vender livros nesse Piauí querido.

E além de tudo, o livro tem o design lindamente esquizofrênico ou esquizofrenicamente lindo da Josélia Neves. E as ilustrações fofas da Gabriella Navarro.

Convenci? Então manda um e-mail pra clarissascarvalho@gmail.com, que eu faço o livro chegar nas suas mãos rapidinho, rapidinho. Ou então vai lá na Tocatta (que agora está funcionando ao lado da Praça Ocílio Lago).

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quem sai aos seus...

Hoje Guerreiro Antonio fez quatro anos. E não bastasse a vozinha rouca, o sorriso lindo, a gargalhada sem-vergonha que só ele tem, e a força enorme que nem parece caber naquele corpinho, o rapaz ainda mostra que tão cedo já tem excelente gosto musical. Quando lhe perguntei o que queria ganhar de aniversário, me saiu com essa, sem nem pestanejar:
- Um CD do Vitous (leia-se Beatles)
Então tá, filho. CD do Vitous pra você, que muito mais cedo que eu aprendeu a gostar dos Fab Four.

Message in a bottle

E lá tava eu esparramada na cama com a apostila na cara, tentando entender Giddens, o estruturalismo e o pós-estruturalismo. E isso não é fácil hora nenhuma, muito menos tarde da noite depois de um dia frenético. Mas quem mandou se meter a fazer tanta coisa? Agora vai e aprende, sua burra! A cada duas frases, um bocejo. A cada dois parágrafos, voltava um, porque não lembrava mais nada. E mesmo com ar condicionado ligado fazia um calor desgraçado. E eu pensava que queria ter mais tempo pra entender os autores, pra estudar, pra não me sentir tão peixe fora d'água.
O celular largado dentro da bolsa dá sinal de mensagem. E eu fico rindo abobada. Giddens não ficou mais fácil, o pós-estruturalismo continuou desestruturando minha paciência, minha angústia por não dar conta de tudo continuou viva. Mas a noite ficou muito mais quente e bonita. E eu dormi sorrindo, mesmo sem entender quase nada do texto.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Comé que é???

Pra quem me conhece é fato que não me comunico bem. Não só é fato, mas é piada entre meus amigos mais próximos e queridos que eu sou a comunicadora menos bem-sucedida quando se trata da vida pessoal.

Pra jornal impresso a gente escreve assim: apura os fatos, faz perguntas, ouve todos os lados possíveis. Daí faz um lead respondendo às seis indefectíveis perguntas que atormentam o jornalista, aplica a pirâmide invertida, e pronto. (Sim, é um gesso chato, mas funciona. E na falta de tempo, vai assim mesmo.)

Pra TV, é um pouco diferente e, na minha opinião, mais difícil. Casar texto e imagem, sem que um repita o outro, sem que um destoe do outro. Encaixar no teu texto o texto do entrevistado, de modo costurado, de modo que faça sentido. Pensar o áudio (quando há tempo) como componente da matéria. Escolher a trilha certa, que dá a emoção do que se tenta mostrar.

E tudo isso, claro, numa linguagem acessível, que possa ser entendida pelo pós-doutor e pelo analfabeto (pelo menos em se tratando de TV e rádio).

Isso eu sei fazer, com as duas mãos amarradas e os olhos fechados. Pra isso existe treino, leitura, observação e prática. Isso se aprende - é o que eu quero dizer.

Mas se comunicar na vida é bem mais complicado. E a cada dia tenho mais certeza de que pra isso não há aprendizado. Ou eu sou burra. Ou não tenho tido bons professores.

O fato é que nós, jornalistas, aprendemos a nos comunicar com um outro anônimo, massificado, generalizado. E com esse eu me comunico até bem. Mas o outro específico, o outro aqui perto, o outro que de alguma forma interessa, esse deve ver navios ao tentar entender meus grunidos que tentam ser palavras.

Nessa tentativa de comunicação, escorrego sempre pra um dos dois lados: Patropi ou dona Lunga (sim, já são piadas velhas). Ou falo um monte e não digo nada, ou me excedo no sarcasmo e mostro meu lado "muro chapiscado" (o que já me rendeu a maravilhosa alcunha de "Lixa 40").

E quando eu tento dizer que "não, isso já não me interessa faz muito tempo" só o que parecem entender é que eu quero voltar ao passado. Assim também quando não consigo me livrar da minha culpa de estimação, mesmo que eu berre que culpa não é bem querer e que pena é o sentimento que me causa mais mal.
E o que eu queria dizer e nunca consigo é que, sim, sofrimento existe e é pra ser sentido. E que qualquer pessoa que bombardeou um castelo deve sofrer (mesmo que o castelo estivesse em ruínas e que você só tenha acionado o detonador da dinamite). E não, isso não significa arrependimento, mas a confirmação, mais uma vez, de que o efêmero é o que há de constante na vida. Porque no final das contas, só essas pessoas cheias de armaduras conseguem passar ilesas pelas ruínas de sonhos, planos, vida, lembranças, Nerudas e etc. E que não, muito obrigada, mas não sou uma dessas pessoas que passam pela vida sem sentir, se privando, se protegendo. Eu quero mais é sentir, tanto a dor quanto o encantamento. E sinto muito. Mas estou bem feliz aqui onde estou, bem em cima das ruínas de onde consigo enxergar longe. E feliz com o que tenho visto e sentido. E sabendo que é de cima dos escombros que eu re-aprendo a voar.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

É assim que a banda toca

Sai da reunião do Rondon correndo. Jornal O Dia. "Amiga, tô com dor de barriga." "Eu também!" Bom ter com quem dividir o trabalho de parto. "Dá licença que vamos ali parir um filho." SALIPI. Amigos - poucos e bons amigos. Alunos. Cunhada. Professora. Colegas. Pai. Ex-professores. Analista. Desconhecidos. Algumas ausências sentidas. Uma, em especial. Rosa vermelha do amigo. Bate-papo começa. Animador de torcida. Descontração. Cérebro repete e pede pra não mandar pra boca: "não é guerra dos sexos, não!" Boca fica calada (milagrosamente obediente). Sorteio. Agora dói o estômago.Vontade de que acabe logo. Autógrafos. (Meu Deus, eu sei fazer isso?) Amigo que chega atrasado e te comove com o abraço. Olik. Vernissage do Cabeção. Loja mais linda do mundo. Vontade de comprar tudo. Segura a bolsa senão eu gasto o que não tenho! Champanhe. Sorrisos. Miolo de pote. Brownie - chocolate em estado puro diretamente na veia. "Vamo embora, tô com sono!" Só mais uma taça. (Na cabeça Cazuza canta: "mais uma dose, é claro que eu tô a fim. a noite nunca tem fim. porque que a gente é assim?") Dormir, enfim.
Acorda, corre, FM Cultura. Difícil ficar do outro lado do microfone. UFPI. Mercado do Pão. Mais detalhes, mais detalhes. Deus mora nos detalhes. Sítio Minuano - tudo certo com os móveis. Arranjar dois ou três cafuçus pra ajudar a carregar móveis na quinta. Balde de água fria: passar menos de 24 horas em Pedro II. Não ver Zeca Baleiro nem Maria Rita. Anotação mental: nunca mais inventar uma viagem às vésperas de um lançamento. Outra: nunca mais ficar com a carteira de motorista vencida. Rezar pra não ser pega na blitz na volta. "Capa de Abraão, cegai, cegai"