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terça-feira, 22 de junho de 2010

Ócio criativo

Não gosto dessa expressão que anda tão em moda ultimamente. Nem sei exatamente o que significa, porque pra mim ócio é não fazer porra nenhuma e criar é fazer um monte de coisa. Mas tudo bem, deve mesmo haver alguém que consiga criar enquanto descansa. E minha professora concorda com isso, tanto que amanhã teremos o dia do ócio criativo, quando cada um fará em sala o que gosta de fazer quando não tem nada pra fazer. E vai ver eu não entendo nada disso porque até meu ócio é tenso.
Não devia ser difícil me preparar pra uma aula assim. Mas eu tenho dois problemas: primeiro, não lembro quando foi a última vez em que não tive nada pra fazer; segundo: as coisas que eu gosto de fazer nem sempre podem ser feitas em sala de aula. Mas resolvi separar algumas pra amanhã.
Vou levar um saco de dormir e tentar tirar uma soneca como se estivesse em algum dos muitos encontros de estudante a que fui. Certamente não vou conseguir, já que nem em casa durmo bem, mas pelo menos vou me esparramar.
Gosto também de escrever, de preferência sem obrigação. Como não terei internet à minha disposição, vai o querido e surrado diário mesmo.
E a parte mais difícil: o que levar pra ler e compartilhar com a turma. Vasculhei a estante, abri uns vinte livros, mas nada me parecia adequado pra ler em sala. Tem livro que é pra ler sozinho, tem livro que é pra ser em voz alta. Tem livro que é pra ler sozinho e ficar enchendo o saco de quem tá ao lado lendo só uns pedacinhos em voz alta. E qual mesmo eu levo pra sala?
Acabei esscolhendo o Coisas de amor largadas na noite do André Gonçalves. Pra quem não sabe, ele é escritor, publicitário, fotógrafo e blogueiro que se tornou piauiense. Sigo o blog dele há anos, sigo ele no twitter desde o meu primeiro dia por lá. Adoro tudo o que ele escreve, em 140 ou um milhão de carateres. Comprei seu livro em 2008, quando foi lançado, mas não sei onde foi parar - vai ver com as coisas de amor que andei largando mundo afora. Mas semana passada me dei outro exemplar de presente e de vez em quando puxo uma das fichas pra arejar meu dia. (Sim, o livro é em fichas e o design, da Josélia Neves). E fica aí um pedacinho do Coisas, uma coisinha de nada mas que, como tudo o que ele escreve, é tanto.
Carne de sol
pendura o coração ao sol, menina
que é de luz que se alimenta
esse músculo que estica e rasga e se arrebenta
sangra, arde, dói, mas não aguenta
bater sem cor, sem lágrima,
sem céu, sem nuvem, sem vento
levanta o olhar e vê
e, quando você menos perceber,
tum tum tum tum tum tum tum
ele vive.

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