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sábado, 19 de junho de 2010

You gotta it!

Veja bem: você desapareceu há semanas, como eu temia, e nem sequer me informou que a tua vida tava voltando a outro lugar. Sim, parece conversa de mulher largada - e de certa forma até é. Não no sentido barato da mulezinha que foi deixada pelo macho, mas da amiga que se vê privada do chão mais firme que ela jamais pisou. Hoje, principalmente, teu silêncio fez o mesmo som do buraco negro, o som do nada, do vazio... Eu tinha coisas pra te contar, coisinhas nossas, coisinhas bobas, coisinhas que eu gosto de contar pra você - e só pra você. Ver tua reação aos fatos às vezes é melhor que os fatos em si. Fazer piada de nós mesmos com você faz cosquinhas na minha alma.
E saber que todos os menáge foram convocados para uma reunião extraordinária, e euzinha não fui... Raiva, raiva, raiva! Que dia mesmo eu passei a não importar assim? Faz 20 anos que tá tudo assim do jeito que sempre foi e deveria ser, mesmo com as pequenas adaptações e mudanças que nossas vidas - reconheço que mais a minha - exigiram. Mas hoje eu senti indiferença que não deveria vir de você. E me chateei mesmo.
E não foi outro dia - há duas semanas, talvez - que eu me vi sozinha no meio de um monte de gente conhecida e procurei em volta e você tinha sumido? E eu fiquei mais um pouco, e me senti uma E.T. no meio daquelas pessoas que eu conheço mas que naquela hora me pareciam tão esquisitas. E a banda tocava uma música que eu não entendia. E alguém conversava sobre a diferença entre Soda Limonada e Sprite. E eu comecei a achar que não devia estar ali. E caminhei pra casa. Foram uns três ou quatro quarteirões caminhados absolutamente sem chão. E um medo que eu criei na hora - medo de ser assaltada, de ser abordada por um estranho, de não conseguir chegar em casa. E quando eu tava chegando você me apareceu e eu caí num choro antigo, igual àquele do dia em que me perdi do papai no Mercado Velho e pensei que tinha sido deixada ali no meio das banquinhas pra ser vendida pra qualquer um que pagasse. E pra quem andou chorando tanto como eu, aquele choro foi com certeza o top dos últimos meses: vinha lá de dentro de um buraco negro, do medo de que uma das certezas mais sólidas do mundo estivesse ruindo. E também um choro de alívio por saber que ainda tinha onde encostar meu medo. E de você ouvi um pedido seincero de desculpas e a constatação de que não, eu não sou um robô, e que bom que perto de você eu podia ser essa menina indefesa, aquela mesma que eu vinha insistindo em sufocar há tanto tempo. Todo mundo merece um lugar pra ser pequeno - você é o meu. E eu gosto de me ver pela tua ótica. No teu abraço farto eu me sinto o mais próximo possível do conceito de "menina com uma flor" do Vinícius. E claro que você não podia deixar de mencionar que eu adoro ser salva pelo príncipe no cavalo branco e que eu sou uma feminista de merda. Mas a verdade - e você sabe - é que eu prefiro matar todos os dragões sozinha. E que eu ainda estou aprendendo a viver com a incoerência de querer ser levada pelo braço de vez em quando. E que não, isso não me faz menos mulher, menos forte, menos adulta. Talvez eu esteja me acostumando com o fato de que eu sou humana e que, portanto, tenho direito à incoerência. E só.
"A gente nunca esteve tão perto", você me disse outro dia. Verdade. Por rotas diferentes e às vezes distantes uma da outra, chegamos a um ponto em que ficamos o mais próximo que amigos podem ficar - o ponto da comunicação sem palavras, das piadas internas, e do conforto de travesseiro de pluma. O ponto de não-mutação, eu diria. O ponto em que tudo, tudo, tudo pode virar de cabeça pra baixo e a gente ainda seria a gente, entende?

Ninguém nunca vai me convencer de que o amor entre amigos não é o mais bonito do mundo. E alguém me pergunta: e o amor pelos filhos? Esse é de cima pra baixo, não espera nada em troca, se alimenta só dele mesmo. É um amor que dói às vezes, por ser tanto. O amor entre amigos é diferente: é troca, é construção de um código em comum, é conforto, é o amor da não cobrança. (Paradoxo: eu aqui querendo cobrar presença, né? Ai, humanas incoerências...)

Pois é, amigo. O politicamente correto seria dizer que eu quero te ver feliz. E na verdade eu quero. Mesmo. Mas sou egoísta o suficiente pra dizer que não quero ficar de fora disso, e que pra mim não só a dor, mas também a felicidade só presta compartilhada.

(E agora que você terminou de ler, já pode me mandar uma mensagem dizendo: "menininha, menininha, menininha!" Dessa vez não vou me irritar, não, viu?)

Um comentário:

::josélia neves:: disse...

[é que eu prefiro matar todos os dragões sozinha.] e eu também!
amo tuas coisas bee!