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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Comé que é???

Pra quem me conhece é fato que não me comunico bem. Não só é fato, mas é piada entre meus amigos mais próximos e queridos que eu sou a comunicadora menos bem-sucedida quando se trata da vida pessoal.

Pra jornal impresso a gente escreve assim: apura os fatos, faz perguntas, ouve todos os lados possíveis. Daí faz um lead respondendo às seis indefectíveis perguntas que atormentam o jornalista, aplica a pirâmide invertida, e pronto. (Sim, é um gesso chato, mas funciona. E na falta de tempo, vai assim mesmo.)

Pra TV, é um pouco diferente e, na minha opinião, mais difícil. Casar texto e imagem, sem que um repita o outro, sem que um destoe do outro. Encaixar no teu texto o texto do entrevistado, de modo costurado, de modo que faça sentido. Pensar o áudio (quando há tempo) como componente da matéria. Escolher a trilha certa, que dá a emoção do que se tenta mostrar.

E tudo isso, claro, numa linguagem acessível, que possa ser entendida pelo pós-doutor e pelo analfabeto (pelo menos em se tratando de TV e rádio).

Isso eu sei fazer, com as duas mãos amarradas e os olhos fechados. Pra isso existe treino, leitura, observação e prática. Isso se aprende - é o que eu quero dizer.

Mas se comunicar na vida é bem mais complicado. E a cada dia tenho mais certeza de que pra isso não há aprendizado. Ou eu sou burra. Ou não tenho tido bons professores.

O fato é que nós, jornalistas, aprendemos a nos comunicar com um outro anônimo, massificado, generalizado. E com esse eu me comunico até bem. Mas o outro específico, o outro aqui perto, o outro que de alguma forma interessa, esse deve ver navios ao tentar entender meus grunidos que tentam ser palavras.

Nessa tentativa de comunicação, escorrego sempre pra um dos dois lados: Patropi ou dona Lunga (sim, já são piadas velhas). Ou falo um monte e não digo nada, ou me excedo no sarcasmo e mostro meu lado "muro chapiscado" (o que já me rendeu a maravilhosa alcunha de "Lixa 40").

E quando eu tento dizer que "não, isso já não me interessa faz muito tempo" só o que parecem entender é que eu quero voltar ao passado. Assim também quando não consigo me livrar da minha culpa de estimação, mesmo que eu berre que culpa não é bem querer e que pena é o sentimento que me causa mais mal.
E o que eu queria dizer e nunca consigo é que, sim, sofrimento existe e é pra ser sentido. E que qualquer pessoa que bombardeou um castelo deve sofrer (mesmo que o castelo estivesse em ruínas e que você só tenha acionado o detonador da dinamite). E não, isso não significa arrependimento, mas a confirmação, mais uma vez, de que o efêmero é o que há de constante na vida. Porque no final das contas, só essas pessoas cheias de armaduras conseguem passar ilesas pelas ruínas de sonhos, planos, vida, lembranças, Nerudas e etc. E que não, muito obrigada, mas não sou uma dessas pessoas que passam pela vida sem sentir, se privando, se protegendo. Eu quero mais é sentir, tanto a dor quanto o encantamento. E sinto muito. Mas estou bem feliz aqui onde estou, bem em cima das ruínas de onde consigo enxergar longe. E feliz com o que tenho visto e sentido. E sabendo que é de cima dos escombros que eu re-aprendo a voar.

2 comentários:

::josélia neves:: disse...

E sabendo que é de cima dos escombros que eu re-aprendo a voar.
VAI AMIGA, me leva?

Guerreiro Antonio disse...

Levo, sim. Não faço mais nada sem tu, lembra?