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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Você já tomou o seu no fi-ó-fó hoje?

Eu escrevo todo dia, um pouco por necessidade, um pouco por compulsão. Escrevo aqui e em outros blogs, escrevo no diário, escrevo cartas vez ou outra, escrevo longos e-mails que viajam o mundo na velocidade que eu queria poder viajar, escrevo a coluna do jornal. Eu escrevo talvez porque me expresse muito mal ao falar. Escrevo porque com a letra impressa posso suprimir, cortar, mudar um parágrafo de lugar, tomar um atalho e nunca chegar. Mesmo sendo minha escrita sempre "de tirada", de uma vez só, ainda assim acho que na fala me atropelo bem mais, falo muito e não digo quase nada.
Mas a verdade é que quando escrevo não faço nenhuma distinção entre o que é verdade e o que é ficção. Jogo luz no que me interessa, encho alguns fatos de fermento e solenemente ignoro outros. Pego emprestados pontos de vista que não são meus e ideias jogadas por outros na mesa do bar, na sala de aula, no telefone. A vida é minha, o roteiro deve ser também. E se Deus ou sei lá quem, do alto de sua suprema ironia, insiste em escrever minha história como quer, eu me dou ao menos o direito de editá-la ao meu bel prazer.
É claro que às vezes alguém se reconhece no que escrevo. É claro que isso já me trouxe um ou outro probleminha. Mas nada demais, até porque ninguém nunca é identificado aqui nem em nenhum outro lugar onde escrevo. E tem tanto de ficção nas minhas palavras que seria até difícil saber de quem mesmo tirei esse ou aquele traço. (Mesmo assim, resolvi moderar os comentários aqui, porque não quero mais ter a infeliz surpresa de achar meu blog cheio de comentários esquisitos, ou de ter de lidar com trolls. E quer saber? Sou autoritária mesmo: o blog é meu, comenta quem eu quero. Ponto.)
Eu sei que a gente se apropria dos outros pra escrever o que quer. E não vejo nada de errado nisso, desde que se assuma que o que se escreve é SEMPRE ficção, e de que se proteja as identidades dos indivíduos usados como matéria-prima pra suas histórias. Mas tô mordida com a notícia de que eu sou uma das personagens do livro de um "amigo". A obra atende pelo "lisonjeiro" título "As mulheres que não comi". Favor não rir. Eu tô fazendo um mega esforço pra não usar nenhuma daquelas palavras que fariam a mamãe lavar minha boca com água sanitária. Ainda não li, mas já detestei. E queria agorinha mesmo escrever um livro chamado "Os homens que não amei" e colocar o infeliz como personagem principal. Melhor ainda: "O homem que não amei". Pronto, infeliz, já disse o que eu queria sem sequer tocar no seu nome. É assim que se faz, viu? Por enquanto é assim que eu faço.

2 comentários:

Mayra Cunha disse...

prima, eu NÃO-TÔ-A-CRE-DI-TAN-DO que ele fez isso. quando eu soube do livro, não dei a mínima por achar, simplesmente, de um extremo mau gosto o título e o tema. citar nomes é antiético. e sendo da área de direito, ele deveria saber disso, né? fiquei indignada agora.

bjs.

Penélope Charmosa disse...

Prima, diz ele que mudou, sim, os nomes. E que os contextos das histórias foram inclusive mudados. No meu caso específico, é bastante natural que ele tenha mudado o contexto pra parecer menos ridículo. E eu nem sequer me lembrava de nada com essa criatura. Mas enfim, estou esperando ele me enviar o livro pelo correio pra ver se mando matá-lo, capá-lo ou se simplesmente me compadeço de sua inferioridade. Cara chato, né? Sempre achei aquela timidez dele meio anormal. rs. Mas parte da raiva já passou. Só tô querendo agora ler a "obra".