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quarta-feira, 7 de julho de 2010

20 anos sem Cazuza

Todo mundo tem um ídolo na adolescência, e às vezes até leva a adoração pra vida adulta, como eu. Eu tive, e tenho, o Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza. Nem lembro bem quando começou minha admiração por ele, mas lembro que quando ele morreu, em 07 de julho de 1990, eu me senti entre órfã e viúva. (Perdoem o drama - meninas de 12 anos são assim mesmo. O bom é que um dia elas crescem. Ou não.)

O que lembro bem é do fascínio que me causavam as músicas dele. Eu gostava de ficar até altas horas da noite trancada no quarto ouvindo as músicas e cantando junto e pensando que a vida era muito, muito louca e triste, e que afinal alguém tinha coragem de dizer, naquele jeito jogado, vomitado, escrachado que só ele tinha, mesmo quando falava de amor. Era tudo tão maldito pela ótica dele, e eu achava que era tão bonito ser intenso assim... E aquela coragem dele de se assumir gay, de se assumir soropositivo - tudo isso me fazia pensar que eu queria ser corajosa assim, se fosse preciso.

Eu tava passando férias em Brasília quando ele morreu. Mas no dia mesmo, em 07 de julho, eu tava na fazenda da minha tia, em Formosa, e nem ouvi falar do fato. Cheguei em Brasília uns dois ou três dias depois. Eu e minhas primas na banca de revista da 205 Norte e eu vejo uma revista (que eu tenho até hoje) com as indicações de data de nascimento e de morte na capa, e a foto dele tão lindo de boina vermelha. Gelei. Olhei em volta e várias publicações traziam a foto do Cazuza. Pronto. Daí desabei a chorar. (Repito: meninas de 12 anos são dramáticas). Muitas lágrimas depois, seguidas de telefonemas pros meus pais em Teresina, e do consolo das minhas primas em Brasília, terminei a noite rindo: minha tia se fantasiou de fantasma do Cazuza e veio na janela do quarto nos assustar.

Duas décadas depois continuo amando essa energia escrachada do Cazuza, e a coragem que às vezes me falta e que nele sempre transbordou. E hoje não canso de pensar na mãe dele, que perdeu seu filho único. É que agora sou mãe, e arranjei outra maneira de exercer o lado dramático da menina de 12 anos que muitas vezes ainda sou.
(Tento desde ontem postar um vídeo do Cazuza aqui, mas simplesmente não carrega. Depois tento de novo)

3 comentários:

Mayra disse...

primíssima, ontem lembrei tanto de você. ia até te mandar um email mas terminou não rolando. aquele momento da morte do cazuza ficou inesquecível pra todas nós. não só pelo "teatrinho" da mamãe mas porque foi ali que eu entendi, ao vê-la aos prantos, que realmente o cazuza era especial, não só pra você mas pra música brasileira. e foi a partir dali, também, que eu passei a admirá-lo com outros olhos. saudades de vc e dos nossos dramas de meninas de 12 anos. bjs.

Penélope Charmosa disse...

eita, primovisky. saudade tenho eu de nossos dramáticos 12, 13, 14 anos...

Eulália Vasconcelos disse...

Engraçado, Cacá, Cazuza também sempre me encantou por tudo isso que vc falou. A coragem de se assumir e de expor as idéias, de ser ele mesmo, autêntico. Lembro do dia da morte dele como se fosse hoje, o que eu estava fazendo e com quem estava. Vida louca essa. Não era tão nova quanto vc, tinha quase 16 anos, mas era tão dramática quanto. E muito apaixonada por ele também. Ele é, até hoje, meu maior ídolo. Cazuza se foi, mas de corpo, porque de espírito ele continua nos alimentando com seus versos fantásticos. Beijos!