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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Pendular

Hoje é mais um daqueles dias que parecem infinitos. Tem orientando vindo aí, tem aula pra dar, tem reunião ainda depois do trabalho, tem texto pra ler quando chegar em casa, tem uma culpa pra engolir quando encontrar as crianças dormindo, tem um silêncio horroroso de casa com crianças apagadas. (Por favor, deixem as luzes acesas ou é capaz de eu tropeçar nessa angústia que me segue noite e dia!)

Ao mesmo tempo que quer muitas horas a mais pra conseguir fazer tudo, você precisa que o dia acabe logo e amanhã nasça um outro. A gente sempre pensa que amanhã vai ser outro dia. Burrice humana - já nascemos programados pra esperança. A memória é coisa perigosa e traiçoeira: lembramos só o que nos interessa, tratamos de esquecer o que mais dói, e por isso acabamos caindo em armadilhas iguais. Minha avó dizia que a dor do parto é uma dor esquecida. Mas eu acho que toda dor é assim. A gente esquece que doeu e vai de novo com a cara no muro. (Ontem eu queimei a mão no mesmo lugar da semana passada, fazendo exatamente o mesmo prato. Mas eu juro que foi sem querer. E juro que nem tão cedo faço almôndegas de novo. E não, isso não é uma metáfora barata robertodamattiana.)

De tarde tentei dar um colo que eu nem tenho pra uma menina cuja avó/mãe tá muito doente. Eu gosto tanto dela e queria tanto ajudá-la. Mas acho que não servi pra muita coisa e continuo sem entender porque tanto procuram conforto em mim. Eu mesma ando abusando do colo dos meus amigos, sentindo uma falta desgraçada da minha mãe, enchendo o saco da minha irmã. Eu mesma ando sem saber bem onde estou. Eu, pêndulo humano, ando oscilando entre a euforia e a tristeza, entre meias certezas e dúvidas silenciosas, entre o cansaço e o impulso. E às vezes me pego sorrindo abestada, ou sem saber onde botar as mãos ou que palavras usar. E a certeza firme que tenho - a única - é só do que eu não quero.
Eu acho que eu tô precisando de férias de mim, só por uns dois ou três séculos.

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