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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Alçada

Alçada é um conceito que eu desenvolvi ao longo da vida, mas que só recentemente nomeei, numa dessas conversas de fim de noite com um amigo que gosta tanto quanto eu de criar teorias sobre o mundo e sobre as pessoas - aquelas teorias bestas que não servem pra nada, só mesmo pra gente gargalhar e fingir que o mundo faz mesmo algum sentido. Eu falava da teoria do homem de pochete, ele destrichava a teoria dos bebês mimimi, eu lembrava da teoria do primeiro encontro-desastre, ele discorria sobre a teoria da viagem em grupo. E numa dessas histórias de viagens, chegamos ao meu conceito de alçada. É mais ou menos assim: algumas pessoas (muitas na verdade) fazem parte da minha alçada. E isso significa algo bem simples: mesmo que essa pessoa esteja errada eu SEMPRE vou defender, e se ela se der mal eu vou ajudar, nem que seja a correr. E ponto. Mas a alçada não é algo estático. Existem, sim, essas pessoas que tem permanência perene na minha alçada: filhotes, família, amigos. E existem também alçadas circunstanciais: você vai pra um show com uma turma enorme que inclui amigos, namorados/as de amigos/as, vizinho do namorado e o diabo a quatro. Todo mundo que foi com você, naquela noite, faz parte da sua alçada. E todo mundo fica ligado se alguém for empurrado, se alguém se perder, se alguém nunca mais voltar do banheiro. É uma alçada temporária, digamos. Outro dia, fui pra um show e de lá pra um pub, e minha alçada foi se modificando durante a noite. Lá pelas tantas, uma menina que pouco conheço (mas que estava no mesmo grupo que eu) se viu sozinha às 4h da manhã porque a "amiga" com quem ela tinha ido resolveu seguir um cara até o aeroporto. Botei a figura no carro, pedi a outra amiga que me aconpanhasse e atravessei a cidade pra deixá-la sã e salva em casa. E não é porque eu sou boazinha, não. É só que ela estava na minha alçada naquela noite - e eu queria que agissem comigo assim também, e principalmente com meus filhos, se fosse preciso. E, sinceramente, é preciso realmente saber escolher sua alçada: porque uma figura que deixa a amiga sozinha, sem eira nem beira, de madrugada, pra seguir um saxofonista narigudo, realmente não merecer estar na alçada de ninguém.
Eu tenho a sorte de ter um mundo de gente na minha alçada - essa bolha de proteção, carinho e cuidado que eu invento pra manter quem importa pra mim, nem que seja de forma circunstancial. E tenho mais sorte ainda de ser da alçada de tantas outras pessoas. E de poder, depois de uma chateação imensa, saber exatamente pra que números ligar, e poder receber conforto em forma de palavras, e poder esperar a noite pra receber o colinho que eu merecia. E voltar pra casa leve, sabendo que o que importa na vida é a alçada.

8 comentários:

Mary Célia disse...

Alçada me lembra no trabalho, alguém vem e pergunta vc resolve isso, falo não é da minha alçada, ou não é mais posso resolver.

Penélope Charmosa disse...

Mas a idéia é bem próxima disso, Mary Célia. Quem faz parte da sua alçada é da sua responsabilidade. Mas é um trabalho tão bom cuidar das pessoas de quem a gente gosta, né não?

andreotzi disse...

DIRETORIA
Embora nao tenha te ligado ontem ou hj (mas nao parei de pensar e falar em vc desde...), embora vc ainda possa não saber, embora vc ainda possa não acreditar, MAS SAIBA QUE VC É DA MINHA ALÇADA se isso significar tambem que sempre vou estar do seu lado e ficar contra quem estiver contra vc. em minhas categorias nativas diria que voce é da (minha/nossa)DIRETORIA

Eulália Vasconcelos disse...

Amniga, voce esta na minha alcada! Beijos e bola pra frente! Nada como um dia atras do outro e com uma noite pelo meio. Beijocas!

Penélope Charmosa disse...

Menino-do-cafuné-mais-maravilhoso-do-mundo, que bom que sou da sua diretoria, e que você é da minha alçada. E eu sei, sim, que você tava pensando em mim desde a chateação de ontem. Nas minhas categorias nativas, você é um fofo, viu?
Bj bj bj!

Penélope Charmosa disse...

Nada como um dia depois do outro e uma noite no meio com uma conversa longa e proveitosa, de um lado ao outro do mundo, com você.

Bjs

Revista CRISiDEiA disse...

candidata a pertencer a tua alçada... vc ja eh da minha... msm q a gnt só se conheça nos blogs...
e vc nunca leu o texto...

Penélope Charmosa disse...

Pois seja bem vinda. Minha alçada é que nem coração de mãe. É verdade que eu ainda não li o texto - o tempo está mais curto que nunca esses dias, e às vezes parece que eu tenho que escolher o que vou negligenciar dessa vez. Mas ao que parece antes do Natal eu consigo dispôr de mais tempo. Bjs, Cacá