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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Bléu

Havaí era o nome do sítio da tia Lília, diretora do INEC, colégio onde eu estudei quando era criança. Todos os anos o colégio promovia passeios pro Havaí, e todas as crianças esperavam ansiosas pelo dia-de-lazer. Mas teve um ano que eu não pude ir. Cortei meu pé pela enésima vez no raio da bicicleta vermelha do Ziza e meus pais não acharam conveniente me mandar pra um lugar cheio de terra. Pois bem. Foi preciso muita conversa, adulação, promessas de um dia incrível em casa, pra eu finalmente aceitar que eu não iria e que isso não era a maior tragédia do mundo. Do alto dos meus quatro ou cinco anos me conformei em perder a diversão. Mas no dia do tal passeio, vi minha mãe arrumando os lanches dos meus irmãos, organizando as mochilas, e uma coisa ruim começou a crescer dentro de mim. No dia seguinte bem cedo, vi os meninos saindo de casa com o papai pra pegar o ônibus que sairia da escola em direção ao Havaí. E abri o berreiro. Aliás, acho que abri um dos maiores berreiros da história. E de nada adiantava minha mãe dizer que já tinha conversado comigo sobre isso, que eu tinha entendido direitinho, que eu já era uma mocinha, e todas essas coisas que os pais dizem aos filhos pra eles se sentirem culpados pela própria tristeza. Nada adiantava pra me consolar. E durante um bom tempo, toda vez que eu ouvia o nome Havaí me dava um nó na garganta porque TODO MUNDO foi mas eu não. E eu não participei das brincadeiras, nem do banho de piscina, nem vi o menino de olhos puxados chamado Leonardo se perder mais uma vez, nem a Raquel chorar com saudades da mãe. Eu simplesmente não participei.
Pois hoje eu tô do mesmo jeito, mas sem o berreiro. Voluntariamente fui deixar meus amigos no aeroporto pra ir pro show do Paul McCartney. E descobri que a sensação de que todo mundo vai se divertir menos eu é bem facinha de acessar. Só que dessa vez não teve corte no raio da bicicleta nem pai ou mãe pra escolher o que era melhor pra mim. Eu mesma tive que me proibir de gastar essa grana. E é por isso que ainda me sinto mais incomodada. Eu mesma podei minha diversão. E por isso não deveria ter direito nem à inveja. Mas a invejinha e a vontade de ir tão no corpo tooooooodinho! Humpf pra vocês que nesse momento estão no avião. Mil humpfs! Bléu pra vocês!

2 comentários:

Dea Nunes disse...

é, perdemos o arquivo do blog... deu um pouco de trabalho para reconfigurá-lo, mas ontem ele ja estava novamente no ar. talvez no fim de semana eu poste algo de novo. ( eu e a Ana Cristina estamos louquinhas com os trabalhos do final do período na UFPI)
bjos.

Anônimo disse...

Já passei por isso certa, fui convidada pra ir para um show, mas a pessoa q ia me levar demorou tanto a sua produçao, que quando chegamos o show já havia terminado, pense na tristeza ver um palco vazio, salão sujo,e uma atmosfera no ar de um silencio que gritava, ACABOU ACABOU...final de festa...foi horrivel, ainda hje eca na minha cabeça...